Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Natal: tempo de esperança.

A teologia da esperança de Jürgen Moltmann

           

   

"O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. (...) Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu..." Isaías 9.2 e 6a

 Diante de Deus e dos homens e mulheres por Ele criados, diante do Amor Divino por todas as pessoas que sofrem no mundo, nós simplesmente não temos o direito de desistir. Este foi, para mim, o sentimento mais profundo deixado pela visita do teólogo alemão Jürgen Moltmann ao Brasil, o mundialmente conhecido autor da obra "Teologia da Esperança". Após uma entrevista coletiva e duas palestras com o teólogo de 82 anos de idade e muitos anos de uma teologia vivida na prática da justiça e do amor de Deus, muitas palavras poderiam ser ditas. Cada pessoa presente na Semana de Estudos Teológicos promovida pela Universidade Metodista, de 29 a 31 de outubro, pode ter trazido consigo uma nova idéia, um novo sentimento, um novo aprendizado nascido das palestras do convidado especial e dos grandes teólogos que com ele dialogaram: Rui Josgrilberg, Jung Mo Sung, Milton Schwantes e Oscar Beozzo. Foi uma verdadeira festa para a mente e o coração dos que buscam alimentar a esperança.

"Uma Igreja que pensa apenas em salvar almas e se desconecta da realidade não tem futuro, só tem passado", disse Moltmann na entrevista coletiva. Mas o que os cristãos e cristãs podem fazer diante de um cenário religioso marcado pela alienação, pelo individualismo e pela intolerância? - perguntei.  "Levantar e lutar!"  -- foi a resposta incisiva, mas dita com um sorriso simpático. Aprendi com Moltmann que a resistência é fruto da esperança. E a resignação é um sinal de morte, e fruto do pecado. Pecado? Sim, Moltmann associa apatia ao pecado pois, para ele, o pecado não é simplesmente uma falha moral, mas o distanciamento do Deus da Vida - é, portanto, a morte em vida. "Uma pessoa pode se tornar tão apática e indiferente que não é mais capaz de sentir nada: nem alegria, nem dor. Então não se vive mais, torna-se como que um morto-vivo". Recordando um ensinamento de Cristo, pecado não é apenas o mal que fazemos, mas o bem que deixamos de fazer, diz ele. Portanto, é também, a "indolência do coração", a "tristeza dos sentidos", a apatia que nos torna mortos vivos  incapazes de praticar o bem. Ele disse: "Deus espera muito de nós, mas confiamos pouco em nós mesmos". 

 

 Para o teólogo, muitos milagres estão ocorrendo em nossos dias. O fim do stalinismo, o fim do apartheid, a queda das ditaduras na América Latina e, nesse momento, o fracasso do modelo capitalista neoliberal. Ele espera que, agora, o mundo seja capaz de desenvolver um capitalismo social no qual o Estado esteja mais presente na regulamentação dos processos econômicos e sociais. "Estamos na Alemanha tentando desenvolver uma economia de mercado social e ecológica, a fim de que o mercado seja mais humano - e não que o ser humano seja sacrificado ao mercado", diz ele. "Há muitas oportunidades para desenvolver um mundo mais justo e mais livre. E os cristãos podem contribuir muito para isso".

Só que a maioria dos cristãos está esperando o céu, não um mundo de justiça, lamenta Moltmann. "A maioria das pessoas acredita que ser espiritual é apenas orar. Sim, nós devemos orar e ficar atentos. Em vez de fecharmos os olhos, abri-los à realidade".

O que ele chama de realidade consiste em realidade e potencialidade. O que vivemos hoje traz embutido um futuro de possibilidades. O presente é a linha limítrofe na qual as possibilidades se realizam - ou são desprezadas. E isso depende de nós. Mas, como percebemos as nossas possibilidades? Segundo o teólogo, pela nossa capacidade criativa, imaginação, coragem e esperança. "Para viver com esperança é preciso desenvolver o senso de possibilidade. Então podemos transcender nossa realidade e alcançar o reino das possibilidades". Ele lembra que as promessas divinas entram constantemente em contradição com a realidade vivida. Mas depois da cruz, vem a ressurreição. "A esperança cristã não é otimismo. A esperança  nos conforta e nos habilita a resistir. Não capitularmos, mas nos mantermos de pé. Nos mantermos insatisfeitos e inquietos com o mundo injusto".

Se a apatia é sinal de morte e fruto do pecado, é na esperança que a razão humana encontra o despertar dos sentidos. "Assim como na experiência de uma grande tristeza nossos sentidos se apagam e não podemos mais ver qualquer cor, ouvir nenhum tom e perceber o paladar, parecendo mortos-vivos, assim também se abrem os nossos sentidos novamente quando respiramos o amor de Deus. Nós vemos de novo este mundo multicolorido, nós ouvimos novamente melodias, recuperamos nosso paladar e todos os sentimentos. Somos tomados por uma grande aceitação da vida, aceitação do Espírito vital divino", diz Moltmann.

Para o desenvolvimento desta nova vida, precisamos nos movimentar em Deus e precisamos que Deus more em nós. Essa morada de Deus na terra é promessa bíblica, descrita no Apocalipse por meio da imagem da "Jerusalém divina" que desce sobre a terra. "Por conta dessa Shechinah de Deus, tudo precisa ser recriado e preparado. Então serão enxugadas todas as lágrimas, o sofrimento e pranto vão passar e a morte não existirá mais (Ap.21.5).  Mas Moltmann disse também, citando 2 Pedro 3.12, que devemos "aguardar e apressar" o futuro de Deus. Aguardar é  não se conformar às condições de injustiça e não reconhecer as forças daquilo que é factual. "Aguardar significa nunca se resignar, nem entregar-se a si mesmo". E apressar é superar a realidade presente e antecipar o futuro do novo mundo de Deus exercendo a justiça concretamente no cotidiano.

Em seu comentário, o professor Jung Mo Sung, coordenador do Programa de Pós Graduação da Umesp, disse, emocionado, que shechinah era o conceito que o teólogo Hugo Assmann vinha estudando em seus últimos dias de vida. "É a mística de Deus que faz morada em nós. Deus é aquele que habita nas tendas, não em templos ou em grandes palácios revolucionários. É um Deus que não tem morada fixa, mas habita conosco".

 

Veja também:

Uma Teologia Vivida! A segunda palestra do Moltmann.


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