Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
música na igreja
Arte e júbilo: a música na Igreja Concílio Geral aprovou proposta de revitalização da área musical na Igreja Metodista. É necessário investir em capacitação técnica e formação teológica. No tocante a mim, confio na tua graça; regozije-se o meu coração na tua salvação. Cantarei ao Senhor, porquanto me tem feito muito bem. Salmo 13.5-6
O salmista canta a esperança em meio à tristeza e a alegria diante da vitória; a admiração pelo poder do Criador e a confiança no amor do Pai. Para o salmista, música é oração. Assim também aprendemos da tradição metodista. Se o líder do metodismo, John Wesley, deixou-nos de herança sermões que exortam e edificam, seu irmão Charles deixou hinos que inspiram - reafirmando o valor dado à música desde os tempos bíblicos.
Hoje, porém, as igrejas metodistas no país não estão dando o devido valor à área musical. Essa é a opinião de especialistas como o maestro David Bretanha Junker, professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília e um dos autores de uma proposta de revitalização musical levada ao 18º Concílio Geral da Igreja Metodista, em julho deste ano. Ele lamenta que os grupos corais estão se tornando raros, o uso do piano na igreja para prelúdio, interlúdio ou poslúdio é quase inexistente e os hinos estão sendo abandonados. E atribui esses fatos, sobretudo, à falta de estrutura da área musical da Igreja.
Sua proposta, aprovada e incorporada ao Plano Nacional Missionário, documento que dá as diretrizes de ação da Igreja para os próximos anos, prevê a implantação de um grupo de trabalho para desenvolver uma série de ações sob o tema "Educação Musical - Arte". Estão previstos futuros cursos de licenciatura e pós-graduação em Música Sacra, seminários e cursos de formação para ministros de música das igrejas locais e introdução de disciplinas de música no currículo dos cursos de teologia. "As necessidades nesta área na Igreja Metodista no Brasil são imensas, a começar pela parte técnica", justifica o professor. "É muito difícil haver pessoas envolvidas neste ministério sem uma formação técnica. Lembro-me do texto de 1 Crônicas 15.22, que fala da designação de Quenanias para dirigir o canto `porque era perito nisso`".
O músico Thiago Brum, membro da Igreja Metodista de Valença, RJ (1ª Região) faz a mesma queixa. Ele aprendeu a tocar bateria aos oito anos de idade, sem ter ninguém que o ensinasse. Hoje, aos 23, ensina o que sabe a outros jovens de sua Igreja. "A Igreja não investe em seus músicos, e quando faz isso, faz pela metade", diz ele. Segundo Thiago, a Igreja também não investe em instrumentos de boa qualidade e tratamento acústico para seus templos. As conseqüências dessa falta de cuidado recaem sobre os próprios músicos, afirma ele. E os bateristas são os alvos prediletos das críticas: "Os bateristas são sempre perseguidos dentro da Igreja quando o assunto é som alto. Membros tradicionais impedem em muitas delas que a bateria seja utilizada no louvor da Igreja. Graças a Deus isso não acontece em minha Igreja. Ao invés de apenas criticar, ela investe, conversa e contrata técnicos de som e áudio para analisarem a acústica do templo".
Show no templo
"Às vezes há mais expansão do que expressão musical. Muito volume para pouca qualidade?, confirma a pianista Lisete Couto. Lisete é uma prova viva de como vale a pena investir nos talentos que despontam na Igreja. "Eu vim de uma família muito pobre, e foi na Igreja que eu ganhei uma bolsa de estudos para estudar música. Já era apaixonada pelo piano, e lembro com clareza do dia que eu percebi a dinâmica do aprendizado musical. A descoberta desse universo me encheu de alegria...era mais feliz do que quando aprendi a ler! ´Enlouqueci` e me entreguei à musica.... ela sempre me salvou! A partir de então, quero repartir o que Deus me deu!", conta Lisete. Atualmente, ela dedica seu dom à Igreja e, também, ao Departamento de Música da Universidade Metodista, atuando como professora do Núcleo de Formação Cidadã. Mas Lisete vê com muita tristeza a presença nas igrejas de algo que define como "música de passagem": canções de musicalidade pobre e conteúdo repetitivo, feito de frases soltas, para "consumo rápido".
Esse fenômeno do "empobrecimento musical" não acontece apenas na Igreja Metodista, mas ocorre em todo o meio evangélico, em decorrência de um "mercado gospel" em franca expansão, que requer a fabricação de "grandes sucessos" que vendam muitos CDs e que sejam facilmente substituídos por outros grandes sucessos... Segundo a jornalista Magali do Nascimento Cunha, em um trabalho apresentado no XXII Congresso Brasileiro de Comunicação, em 2002, a profissionalização do som gospel acabou provocando a incorporação da cultura de massa ao próprio rito religioso: "A imagem (recurso fortemente explorado pelo mercado por meio das novas tecnologias de comunicação) passa a ser um valor para os momentos de culto nas igrejas, que se tornam veículo promocional dos discos e dos cantores evangélicos. A liturgia fica reduzida a dois momentos: o louvor e a pregação. O `momento de louvor` passa a seguir um padrão: saem os conjuntos jovens,
entram os grupos de louvor, que ao invés de animadores dos cânticos, são intérpretes reprodutores dos modelos-cantores assistidos nos shows. A ênfase não é a celebração da fé; há uma apresentação de um programa. Um microfone é pouco; todo um sistema de som precisa ser adquirido para manter o padrão secular estabelecido, bem como um retroprojetor, não importa as condições físicas do templo ou sequer as prioridades da congregação. A hinologia é substituída pelas baladas românticas de forte cunho emocionalista e pelo rock pesado ou ritmo sertanejo dos `cânticos de guerra`, que têm espaço de destaque no `momento de louvor`", avalia Magali.
O resgate dos hinos
Em enquete realizada pelo site da Igreja Metodista (www.metodista.org.br), entre os dias 4 e 27 de setembro, um significativo número de internautas (248 de um total de 688, quase 40% das participações) respondeu que sua Igreja não usa o hinário evangélico em todos os cultos. Vários internautas manifestaram seu descontentamento com o abandono de um recurso litúrgico que é parte da própria história do metodismo. "Há que se pensar em fazermos uma grande reflexão não só com relação ao hino, mas com toda a parte do culto, pois no anseio de `avivamento espiritual`, percebo que a Igreja vem com os anos perdendo o referencial de culto. Falta Palavra e ensino bíblico", comentou o internauta Flávio Lima. Para Luiz Roberto Saparoli, nossas comunidades "têm sofrido com a perda de nossa identidade metodista. Estamos enfraquecidos, com uma teologia personalista e sectária, o que torna nossas igrejas em congregações, e não mais comunidades conexionais. Quando se sai das igrejas mais antigas o que se encontra são comunidades que parecem com qualquer movimento, menos Igreja Metodista".
Mas a enquete revelou também igrejas que valorizam a tradição, sem deixar de atender às pessoas que apreciam as músicas evangélicas atuais. "Sempre entoamos hinos juntamente com outros cânticos contemporâneos. Buscamos entoá-los com vigor e fervor, dando-lhes, quando possível, uma roupagem atualizada, sem perder ou comprometer a poesia e inspiração neles contidas", conta o pastor Gerson Lourenço Pereira, da Igreja Metodista no Méier, Rio de Janeiro. E, entre os comentários, encontramos um pedido: "Gostaria de receber sugestões de CDs dos nossos hinos", solicitou a internauta Maria Janne Gabriel de Souza.
Este é outro problema enfrentado pelas Igrejas Metodistas. Se o mercado fonográfico evangélico profissionaliza-se e expande-se, as igrejas não atuam com a mesma eficiência na produção e divulgação do material produzido por seus corais e grupos de louvor. Boa parte dos CDs são custeados e divulgados pelos próprios músicos. É o que faz, por exemplo, o Ministério Toque de Poder, criado há 24 anos para atuar na missão de louvor, adoração e oração. Os integrantes do Ministério-- o casal Soraya e Júnior Junker e os filhos Hygor, Raissa e Hadassa --distribuem seus CDs independentes nas igrejas nas quais são convidados (a Igreja não é cobrada; responsabiliza-se apenas pelos custos de transporte e hospedagem) a ministrar o louvor. "Existem muitas posturas questionáveis em relação à visão missionária nesta área, então, às vezes, é preferível manter o processo de formiguinha, com os CDs vendidos pelo próprio ministério nas visitas às igrejas ou eventos", considera Soraya. Contudo, ela gostaria de ver a Igreja Metodista mais atuante na divulgação dos talentos que possui. "Alimentamos um sonho, como ministério dentro da estrutura metodista, de termos um sistema de comunicação, a exemplo de outras Igrejas, que dê suporte nesta área, que mantenha um cadastro nacional, quem sabe produzindo e distribuindo o material produzido pelos metodistas. Quando produzimos nossos primeiros CDs pouca gente no meio metodista o fazia. Hoje, graças a Deus, temos muito material e muita gente produzindo. Se este é um sonho de Deus, Ele se incumbirá de levar a bom termo", diz Soraya. Para o estudante de teologia Izaías Melchíades da Silva, autor de uma pesquisa sobre "música sacra contemporânea à luz da tradição bíblica" (seu projeto de conclusão de curso), a profissionalização, compreendida como busca de capacitação, não é antagônica à espiritualidade. "Tanto no Antigo Testamento como no Novo percebe-se o valor que se dá à capacitação de todos aqueles que trabalham com música, tanto no aspecto técnico como espiritual. É como diz o Salmo 33.3: Entoai-lhe novo cântico, tangei com arte e com júbilo."
Para conhecer, ouvir e louvar
Hinos
CDs Hinos da nossa história, Nossos hinos favoritos II e Oh, que belos hinos!. Eles trazem seleções de hinos cantados por corais evangélicos, sob regência de Dorotéa Kerr, da Igreja Presbiteriana Independente. À venda na Livraria Metodista, tel. (11) 3208-6388.
Cânticos
Mistérios do olhar, de Xico Esvael. Vendas pelo telefone (11) 3789-4000 ou pelo site www.paulus.com.br; Louvor Brasileiro II -12 músicas em diferentes ritmos brasileiros, alternadas pela narração de textos bíblicos. À venda na Sociedade Bíblica do Brasil: 0800-727 8888; Voz em Canto - hinos e cânticos publicados na Voz Missionária, sob regência do Rev. Tércio Junker. Informações e vendas (11) 4368-7300
Gerações - do Ministério Toque de Poder, traz cânticos e hinos que marcaram a vida da Igreja. Informações: toquedepoder@superig.com.br
Infantis
CDs do Departamento Nacional de Trabalho com Crianças: Pelas mãos de uma criança;
Missão, Aventura Possível e Evangelho, Convite pra Paz. Informações e vendas: Editora Cedro (11) 3277-7166.
Sites
http://www.esnips.com/web/salmos - neste site o músico e pastor anglicano Flávio Irala disponibiliza refrões de Salmos para a liturgia dominical. O site traz um comentário sobre o texto bíblico, a partitura, letra com cifras e a música em formatos midi e mp3.
http://5re.metodista.org.br/ - o site da 5ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista está abrigando o projeto "Hinário Digital" e disponibilizando, gradativamente, os hinos cantados e os play backs preparados por Lúcia Helena Lopes. Mais informações pelo e-mail: luciahlopes@uol.com.br; tel.(11) 4362-4762.
Literatura
HCC Notas Históricas, da Editora JUERP (Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira) - Coletânea de histórias de autores e origens dos hinos cristãos.
A Revista Em Marcha (da classe de adultos da Escola Dominical) deste semestre tem uma novidade: traz, no rodapé de cada página, histórias dos nossos hinos históricos.
A Biblioteca da Faculdade de Teologia da Umesp, em São Bernardo do Campo, SP, tem um rico acervo de livros sobre música sacra, partituras e teses acadêmicas sobre o tema. Ela é aberta para consulta a visitantes. Pastores metodistas também podem, mediante um cadastro prévio, fazer empréstimo de material. Telefone (11) 4366-5977.
Para divulgar o CD de seu coral ou conjunto: Ligue para a Assessoria de Comunicação da Sede Nacional (11) 6813-8600 ou mande um e-mail para expositor@metodista.org.br.