Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Mulheres Negras Traficadas, a quem interessa essa invisibilidade?
Fotos: José Magalhães. Da esquerda para a direita: Dra. Anália B. Ribeiro, Cláudia Patrícia L. Silva, Leide Santos e a profa. Roseli, coordenadora de Políticas para a População negra e Indígina.
Se alguém lhe oferecer casa, comida e emprego no exterior, desconfie! A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania de São Paulo, por intermédio do Núcleo de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) e da Coordenação de Políticas para População Negra e Indígena, promoveu ontem (26), em São Paulo, uma roda de conversa com o tema: Mulheres Negras Traficadas, a quem interessa essa invisibilidade?
A tônica do evento que contou com cerca de cem participantes foi refletir sobre o tráfico de pessoas, principalmente de mulheres negras como um crime organizado em todo o mundo. Esse tráfico está atrelado à exploração sexual, à adoção ilegal, ao comércio de órgãos, à pornografia infantil, além de tráfico de drogas, contrabando e escravidão. Mulheres e crianças são as principais vítimas das redes criminosas.
O evento reuniu representates da comunidade negra, entre elas, passistas de escolas de samba, organizações e conselhos de mulheres negras, instituições religiosas, mulheres quilombolas, órgãos públicos, coordenadorias de igualdade racial e autoridades de polícia.
A representante da Secretaria da Justiça e da Cidadania do Estado de São Paulo, Dra. Anália Belisa Ribeiro, afirma que “segundo a ONU o tráfico de pessoas só perde para o tráfico de drogas. Muitas meninas e rapazes saem do Brasil com a promessa de serem modelos ou jogadores de futebol, essas pessoas são aliciadas por ‘olheiros’ (pessoas que procuram novos talentos) que lhes prometem melhores condições de vida. Nesse sentido, é preciso oferecer uma política pública que possa oferecer uma ajuda às pessoas vítimas do tráfico”.
Segundo Anália, somente no ano passado mais de 600 pessoas foram atendidas em situações de escravidão, tráfico de pessoas e órgãos pelo NEPT que funciona atendendo essas três etapas. Anália apresentou ainda um quadro do tráfico no estado, as ações que estão sendo feitas para o desenvolvimento de comitês regionais. Explicou que o Comitê Paulista de Enfrentamento ao Tráfico está auxiliando o governo do Estado de São Paulo na formulação de um decreto determinando uma política mais eficiente do estado em relação ao problema. A delegada da Divisão de Homicídios e de Proteção à Pessoa, da Polícia Federal, Dra. Márcia Luiza Mendonça Ruiz, lembra no documentário exibido na abertura do evento que, cerca de 70 mil brasileiros são explorados anualmente fora do país.
A diretora executiva da ONG Elas por Elas, Dra. Cláudia Patrícia de Luna Silva, explica que “se consideramos os índices do IBGE, as mulheres são consideradas as mais vulneráveis e estão no topo de qualquer seguimento, seja no trabalho, salários menores, representatividade em universidades e empresas. Todos esses fatores são uma porta de entrada para o tráfico de mulheres. Na verdade a imagem que a sociedade gerou sobre as mulheres negras caminhou para isso. O escritor Jorge Amado, por exemplo, construiu mulheres do tipo: nordestina, negras e sexualmente atraentes. Tudo isso antes da internet” disse fazendo referência as obras do escritor Gabriela, Cravo e Canela, Tieta do Agreste entre outras.
Cláudia mencionou também o carnaval e os chats (salas de bate papo na internet) de relacionamento como iscas para a exploração sexual e tráfico de pessoas: “o carnaval é um grande chamarisco turístico para atrair e divulgar as belezas sexuais brasileiras, ou seja, as mulatas do samba. A questão do tráfico de pessoas está muito perto de nós, por exemplo, os chats de realcionamento na internet que tem a intenção de tirar as mulheres e crianças de seu meio de circulação e traficá-las”.
Cláudia ainda contou a história de uma menina que conheceu um inglês pela internet e morou no exterior por oito meses sofrendo cárcere privado, violência doméstica e exploração sexual. “Ela só conseguiu voltar ao Brasil porque encontrou uma brasileira por lá, mas trouxe como herança uma doença sexualmente transmissível e um tratamento psicológico intenso.
A representante do Instituto Winrock na Bahia, a economista, Leide Manuela Santos, conta que trabalhou em uma Ong que fazia viagens internacionais com crianças e adolescentes. De acordo com o depoimento de Leide “isso era uma grande armadilha, porque depois as meninas voltavam por conta própria e levavam mais duas ou três garotas com elas para casarem no exterior. Um dessas garotas que foram por conta própria entrou em contato posteriormente contando a história e o sofrimento que elas vivem no exterior. A mulher negra tem suas marcas, sua história, a história da escravidão e, nosso sobrenome foi apagado”.
Segundo uma pesquisa do Instituto Winrock, o tráfico para a exploração sexual atinge principalmente mulheres e adolescentes de 14 a 30 anos e as principais causas são: pobreza, desemprego e falta de uma educação escolar. Tudo isso vai gerar nas mulheres exploradas e traficadas sérias consequencias, por exemplo, a destruição dos projetos pessoais e violação dos direitos e da liberdade.
Pr. José Magalhães
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