Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

mulher faz jejum e morre

Segundo a polícia, Cláudia Simião da Silva, 35, foi encontrada morta por inanição dentro da própria casa, em Belford Roxo

Sobrinhas conseguiram escapar da casa e buscaram ajuda; ambas estão hospitalizadas em estado avançado de desnutrição

ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO

Cristã fervorosa, a missionária Cláudia Simião da Silva, 35, levou sua fé ao extremo ao jejuar por cerca de um mês -esperando um "enviado divino"- e obrigar duas sobrinhas, a irmã e a sogra a acompanharem o retiro. Ela foi encontrada morta, segundo a polícia, por inanição dentro da própria casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense (RJ).
As cinco pessoas ficaram confinadas por quase dois meses em casa. As irmãs Adrielle, 9, e Grazielle Souza Santos Simião, 11, foram internadas na sexta-feira apresentando quadro de desnutrição e de confusão mental e devem ficar hospitalizadas por quase um mês. Na mesma situação estão Cátia Simião da Silva (irmã), 31, e Lúcia Maria Simião da Silva (sogra).
Cláudia teria obrigado a família a permanecer dentro de casa. Em depoimento à polícia, o pai das duas garotas, o desenhista técnico Uendes Simião da Silva, 33, afirmou que Grazielle lhe contou que "Cláudia havia dito que o jejum duraria até que recebessem uma resposta de Deus no sentido de enviar uma pessoa que os tirassem daquela vida e os levassem para uma casa na zona sul [área nobre do Rio de Janeiro]".
Não se sabe a qual denominação religiosa Cláudia pertencia. Ela freqüentava a Igreja Batista de um bairro próximo, mas havia abandonado os cultos cerca de dez anos atrás. Depois disso, viajou para Argentina, Uruguai e Angola. Segundo Uendes, ela era formada em teologia e cursava direito.
A clausura começou em meados de setembro. Confinados, os moradores da casa inicialmente só podiam comer o que havia dentro da residência. No início de outubro, a luz foi cortada, pois a família completara três meses sem pagar a Light -distribuidora de energia elétrica. A comida, estragada, não pôde mais ser consumida. Foi quando o jejum começou.

Cursos bíblicos
Durante todo o tempo, as criança tiveram "cursos bíblicos", segundo a conselheira tutelar Elaine Galvão, que ouviu Grazielle no Hospital Estadual Carlos Chagas.
Além dos portões trancados e da ausência total de eletricidade, Cláudia tampou as janelas com cortinas pretas. Segundo Galvão, ninguém foi agredido durante o confinamento.
Na sexta-feira, por volta das 17h, as duas crianças conseguiram sair de casa. Cláudia já estava morta há cerca de cinco dias, e seu corpo havia entrado em estado de decomposição.
Cátia e Lúcia desmaiavam e vomitavam sobre os próprios corpos regularmente. A avó, então, mandou as meninas procurarem ajuda.
"Elas pareciam aquelas crianças da Etiópia. Era só pele e osso", afirmou José Carlos Lima, 36, vizinho da família. As duas procuraram ajuda no bar de Milton André, 64. Ele lhes ofereceu macarrão, leite, bala e refrigerante, mas elas não conseguiam comer.
Segundo o delegado Flávio de Brito, a avó e os pais das meninas podem responder por crime de abandono de incapaz, mas a conclusão do inquérito ainda está indefinida.
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) apontando a causa da morte de Cláudia ainda não foi concluído.

Folha de S.Paulo, 15 de novembro de 2007


Posts relacionados

Geral, por Sara de Paula

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães