Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

movimento evangelico na política

ENTREVISTA: Eleições 2006: Desafios e oportunidades

Fonte: Agência Soma


  Presidente licenciado do Movimento Evangélico Progressista, Juliano Henrique Finelli fala sobre eleições 2006 e as posições assumidas pelo último congresso do MEP que resolveu "discordar da existência de "candidaturas oficiais" das igrejas ou denominações, pelo fato de que elas não concorrem nem para o amadurecimento cívico dos cristãos, nem para o aperfeiçoamento da Democracia".
  
   Como o MEP se posiciona nestas eleições?
   JULIANO HENRIQUE FINELLI - Conforme decisão da plenária do VII CONMEP, Congresso Nacional do Movimento Evangélico Progressista, realizado na cidade de Guarulhos-SP, nos dias 18 e 19 de março de 2006, sob o tema: "O MEP, Igreja e Sociedade: Desafios e Oportunidades no Contexto Brasileiro", decidimos "discordar da existência de ?candidaturas oficiais? das igrejas ou denominações, pelo fato de que as mesmas não concorrem nem para o amadurecimento cívico dos cristãos, nem para o aperfeiçoamento da Democracia". Depois das eleições, o MEP prosseguirá cumprindo o seu programa, explícito no referido Congresso, quando reafirmou os princípios e compromissos dos fundadores desse movimento, em seus 16 anos de história, com uma teologia evangélica baseada na concepção de uma Missão Integral, o seu caráter interdenominacional e não partidário, a sua luta pela consolidação e ampliação do regime democrático. Além da busca por uma economia solidária, que ultrapasse o modo de produção capitalista e, como afirma o profeta Amós.5:24, cheguemos ao tempo em que "...corra a justiça como um rio que não seca".
  
   Com relação ao posicionamento ético dos evangélicos em geral, qual é, em sua avaliação, a tendência do momento?
   JULIANO -
Posso falar sobre a nossa tendência. Reporto-me novamente ao nosso VII Congresso onde elaboramos a Conclamação de Guarulhos. Ali conclamamos às "lideranças e pastores das igrejas cristãs, que assumam, verdadeiramente, uma postura profética, denunciando aqueles que desejam utilizar as igrejas como "curral eleitoral" e anunciem a postura cidadã de que a cada membro é exigida sua responsabilidade pessoal e social em seu voto. Esta postura pastoral, de consciência crítica, de participação na ação política frente aos desafios e oportunidades que a sociedade oferece, implica em haver por parte das lideranças e pastores uma atitude firme, que significativamente rejeite o uso antiético e oportunista da igreja, e exerça ações contundentes em direção à transformação integral da sociedade".
  
   De que modo o movimento vê os candidatos - principalmente de igrejas pentecostais - que se aproveitam do lema "irmão vota em irmão"?
   JULIANO -
Nos anos 80, com a constituinte, os evangélicos perceberam a necessidade de eleger seus representantes, e mudaram o lema para: "Irmão vota em irmão". Nasceu, com isso, um grupo de políticos intitulado de "bancada evangélica". Esse grupo desenvolveu uma fama de fisiológica e conservadora, que foi fortalecida pelas denúncias do Jornal do Brasil em 7 de agosto de 1988. Onde se lia que: "Boa parte dos evangélicos faz da tarefa de preparar a nova Constituição um grande lucrativo comércio, negociando votos em troca de vantagens e benesses para suas igrejas e, muitas vezes, para eles próprios". Entendendo que a crescente influência política da comunidade evangélica deveria ser muito diferente, vários evangélicos sentiram que havia chegado o momento de organizar mais a corrente minoritária. Dessa necessidade nasceu o MEP que tem em cada palavra de seu nome um importante significado. Movimento, porque é uma associação informal e suprapartidária. Evangélico, porque é conservador e ortodoxo na teologia, afirmando a autoridade bíblica e a importância da evangelização, conversão e oração. E Progressista, porque é comprometido com mudanças sociais. Criamo-nos, então, como alternativa ao grupo que desenvolveu uma fama fisiológica e conservadora.
  
   Como parte significativa das igrejas evangélicas, que até os anos 70 eram apolíticas, passaram a participar ativamente da vida política do Brasil?
   JULIANO -
Da alienação política da época da ditadura militar passou-se para o fisiologismo da década de 80. Para, no final desta mesma década, surgir no seio da já grande massa evangélica segmentos fortes comprometidos com a Missão Integral da Igreja, contrários tanto à alienação quanto ao fisiologismo. Entre eles, o MEP e o Fale. Este último tem como objetivo desenvolver maior consciência e envolvimento com a realidade social entre os jovens, a partir do fornecimento de informações e do envolvimento em campanhas de oração, com o envio dos cartões para pessoas-chave e por intermédio da promoção de pequenos eventos públicos.
  
   O fato de algumas igrejas possuírem meios de comunicação as transformam em fator decisivo para o sucesso de algumas candidaturas?
   JULIANO -
Cremos que o único fator decisivo para o sucesso de uma candidatura está na soberania absoluta de Deus. Subsidiariamente, as idéias dominantes das classes dominantes, que são veiculadas pelas mídias dominantes, exercem sua influência, que não deve ser subestimada.
  
   Você acha que, pelo fato das igrejas pentecostais terem a maior parte dos seus fiéis nas camadas menos favorecidas da população, já está ocorrendo em alguns segmentos um movimento semelhante ao que levou à formação das CEBs na igreja católica?
   JULIANO -
As Comunidades Eclesiais de Base católicas eram caudatárias da Teologia da Libertação. Por este pressuposto, as Cebs, se por um lado estavam ao lado dos oprimidos, ou seja, da grande parcela da população brasileira, por outro não praticavam a Missão Integral da Igreja. Qual seja a sua importância soteriológica, com a salvação das almas por meio da obra substitutiva de Cristo.
  
   A preocupação com o social hoje nesses setores é algo mais marcante?
   JULIANO -
O social é preocupação de todos os setores. Resta saber se estão conscientes da atual conjuntura internacional e nacional que tem limitado a soberania do Estado e a soberania popular, bem como a distância e as limitações entre os projetos de governo e sua execução, ou a ausência de um projeto nacional claro e exeqüível para o Brasil.
  
   Como você analisa o relacionamento entre o governo Lula e as igrejas em geral, em especial as evangélicas? Houve cooperação em alguns setores, como os de ações sociais? Essa colaboração foi diferente em relação foi diferente se comparada a outros governos?
   JULIANO -
Bem melhor que o do governo anterior. Tanto lideranças católicas quanto protestantes e evangélicas têm sido convidadas e participam de organismos federais.
  
   O que você recomenda e o que desaconselha ao evangélico eleitor?
   JULIANO -
Recomendamos compromisso com governos democrático-populares, que, a partir de suas experiências promovam uma verdadeira Reforma Política e se expressem como um Governo de Misericórdia e Justiça onde as políticas públicas traduzam o cuidado com os órfãos, as viúvas, os migrantes e todos os excluídos e discriminados. Resistir e confrontar propostas políticas que, mesmo travestidas de "modernidade", signifiquem, no fundo, a manutenção de um estado de coisas em que se perpetua a injustiça e a desigualdade. Desaconselhamos o voto nulo.



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