Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
mensagem do concilio geral sobre violencia em SP
"Orai pela paz da cidade, porque na sua paz, vós tereis paz." (Jeremias 29.7)
A Igreja Metodista reunida nos dias 10 a 16 de julho de 2006, na cidade de Aracruz, ES, com representantes de todo o País, vem declarar, por meio desta carta de solidariedade e amor, nossos sentimentos e anseios em relação à onda de violência que invade o nosso Brasil e que, de modo especial, se abate sobre a capital e demais cidades do Estado de São Paulo, sob a ação criminosa do primeiro comando da capital (PCC). Choramos juntamente com as famílias das pessoas que atuam nos presídios e que se sentem caçadas nas ruas e praças; pelas vítimas inocentes pegas em meio à violência que toma ruas e invade casas, pela população amedrontada e refém dessas ações de morte.
A violência nasce das desigualdades humanas e é um insulto a Deus. Ela está hoje presente de modo mais marcante nas grandes capitais, mas nem mesmo as cidades interioranas escapam à sua ação. A população não acredita mais nas instituições públicas, tais como o governo, a polícia e a própria sociedade como um todo.
A luta contra a violência é uma luta de todos os segmentos da sociedade. É preciso vencê-la em sua esfera doméstica, econômica e social. Cremos que uma nova ordem mundial é possível e grande parte desse projeto está baseada na ação cidadã ativa e não na mera expectativa. Esperar a ação somente dos poderes constituídos tem-se mostrado um caminho ineficiente. A população precisa ser co-autora deste projeto de vida, unindo-se e munindo-se com as ferramentas do amor, da paz e do bem.
Jesus Cristo, em seu Evangelho, nos afirma: "A minha paz vos dou" (João 14.27). O Reino de Deus e sua justiça são o ponto de partida para alcançar o verdadeiro estado de paz. Jesus é nossa maior segurança. Achegar-nos a Ele é o caminho para aprendermos valores que constroem, que unem, que se erguem contra as injustiças e separações, promovendo a verdadeira paz e o bem-estar pleno que vêm de Deus. Nele, por meio da oração, também obtemos o socorro divino. De fato, não há casos perdidos para Jesus.
Vencer a violência significa superar e vencer suas causas. A má distribuição de renda e uma estrutura econômica que amplia as separações entre ricos e pobres; a educação pública e também privada sem a preocupação fundamental de educar para a vida; o desemprego e os baixos salários que aumentam a economia informal e forçam os aposentados a se tornarem os responsáveis pela manutenção da casa, com poucos recursos; as crianças e adolescentes que são aliciados pela rede do tráfico de drogas; a violência doméstica; o abandono de pessoas que vivem nas ruas; o aumento do consumo de drogas e suas diversas conseqüências; o turismo sexual de crianças e adolescentes, o tráfico de seres humanos e sua escravização em trabalhos clandestinos; a desumanização dos presídios e cadeias que em nada contribuem para a reinserção das pessoas na sociedade; a insegurança com que se vive nas cidades; a falta de acesso aos serviços adequados de saúde pública; a destruição causada pelas grandes empresas ao meio-ambiente e às populações indígenas e ribeirinhas são alguns dos muitos desafios que temos diante de nós.
Ao mesmo tempo, já existem entre nós muitas ações em favor da vida. A Igreja Metodista, por exemplo, atende 2.100 crianças por dia em seus projetos sociais na cidade de São Paulo. Também são acolhidos 350 moradores de rua e centenas de mulheres nas mais diversas atividades sociais, de cidadania e de fé. Em cada bairro, muitas ações semelhantes podem ser encontradas. Há focos de esperança em nosso meio. Devemos localizá-los, contribuir com eles, estimulá-los e fazê-los crescer, de modo a alcançar o todo da nossa sociedade.
Quanto aos nossos governos, por outro lado, esperamos uma postura digna e eficiente. Entre as coisas que o Senhor abomina, estão "mãos que derramam sangue inocente, coração que trama projetos iníquos" (Provérbios 6.16-17). A dor das pessoas que choram por causa da violência sobe a Deus e Ele há de cobrar isso dos que exercem a autoridade para mudar a situação. Deus recomenda às autoridades por meio de sua Palavra: "Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e aos necessitados." (Provérbios 31.8-9). A sociedade brasileira em geral, e a sociedade paulista em particular, não espera menos de seus governantes.
Jesus chorou sobre Jerusalém, dizendo: "Ah, se tu conhecesses também, o que à tua paz pertence!" (Lucas 19.42). Ele igualmente chora sobre nossas cidades hoje e pode efetivamente consolá-las. Cabe ao povo de Deus responder a esta realidade em nome de Jesus Cristo, sob o poder do Espírito Santo, que nos ungiu para "apregoar o ano aceitável do Senhor" (Isaías 61.2), isto é, o tempo de acontecerem coisas boas para a vida, e a boa-nova da salvação.
Pequenos tijolos constroem grandes pontes. Pequenas ações levam a grandes mudanças. Cada comunidade pode e deve fazer pequenos sinais e ações de paz, que despertem a todos para a necessidade de superação desta realidade: uso de cores e símbolos como o verde e o branco, para sinalizar paz e esperança; vigílias, passeatas, caminhadas e orações pela paz em templos e praças públicas; cartas às autoridades cobrando mudanças e propondo idéias; realizando campanhas que conscientizem sobre a importância do voto, especialmente neste ano eleitoral. E de forma especial, usar o dom da voz para consolar, anunciar o bem e denunciar o mal. São algumas medidas que já estão ao nosso alcance. Muito mais poderemos fazer na criatividade da vivência de cada um, cada uma.
"Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor. Pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que desejais." (Jeremias 29.11).
Assim seja, dá-nos tua paz, venha teu reino, Senhor!
Bispo João Alves de Oliveira Fº
Presidente do 18º Concílio Geral