Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Mensagem de Natal

"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu ... e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz" (Is 9.6).

Divinamente inspirado e profundo conhecedor da história e da vida política de sua época, em magnífico estilo, sete séculos antes, o profeta Isaías anunciara a vinda ao mundo do Príncipe da Paz.

Zacarias, no século sexto, profetizara: "... Ele anunciará paz às nações; o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o Eufrates até à extremidade da terra" (Zc 9.10) e Miquéias, o profeta, no oitavo século, escrevera: "Ele será a nossa paz" (Mq 5.1)­.

A paz era ansiosamente desejada, pois o mundo que O precedera era palco de desordens, acirradas discórdias, violências, conflitos e guerras. O profeta Ezequiel, também no sexto século, advertira: "Faze cadeia, porque a terra está cheia de crimes de sangue, e a idade cheia de violência" (Ez 7.23).

No hebraico, língua do Antigo Testamento, a violência é designada pela palavra hamas para caracterizar um ato de extrema crueldade dirigido contra o ser humano. A violência é uma ação perversa e manifesta uma atitude ostensiva de oposição a Deus e à sua Criação.

O nascimento do Menino Jesus em Belém de Judá foi anunciado aos pastores pelo anjo e saudado por uma multidão da milícia celestial que louvava a Deus e dizia: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens a quem ele quer bem" (Lc 2.14).

A presença de Jesus entre os homens é a expressão da benignidade divina que se propõe a estancar a torrente de perversidade e violência, que procede dos corações alienados de Deus, a destronar o ódio e a entronizar o amor.

O tempo continua a fluir com celeridade, enquanto os séculos e os milênios vão se sucedendo. Nosso calendário romano já registra o terceiro milênio e o judaico assinala o ano 5778. Impossível deter o tempo! Novas gerações vão ocupando os seus espaços e o pecado, crudelíssimo algoz, continua escravizando, em lastimosa progressão, impiedosamente, o ser humano. As guerras e a violência de todas as formas e sob todos os pretextos, continuam incontroláveis espalhando pelo mundo inteiro, seus inexoráveis efeitos!

"Homo homini lupus"- O homem é o lobo do homem - proclama a célebre frase do filósofo inglês, Thomas Hobbes. O homem sempre fez guerra com a malévola intenção de prejudicar e exterminar o próximo, se necessário, para satisfazer suas ambições e egoísmos desenfreados. Desde a antiga Roma até o presente momento histórico já foram travadas mais de 140 guerras. No século XX, em diferentes partes do mundo, os homens já se envolveram em cerca de 36 guerras. As duas grandes guerras mundiais (1914-18; 1939-45) respectivamente, deixaram atrás de si um séquito macabro de dor, desespero, lágrimas, destruição e morte: 60 milhões de homens, mulheres e crianças foram as vítimas fatais, e, restaram, acima de 100 milhões, os mutilados, feridos, desabrigados e refugiados. A atual guerra no Iraque já ceifou milhares de vidas, causou incalculáveis prejuízos materiais ao país e cerca de US$ 100 bilhões de despesas aos invasores. Os recursos financeiros gastos com os conflitos seriam suficientes para dar moradia, alimento e vida digna para os 850 milhões de famintos que vivem em condições de penúria e extrema carência no mundo. O crime organizado, para os seus já conhecidos objetivos, movimenta a fabulosa soma de US$ 2 trilhões. A insaciável corrupção, de todos os tipos e dimensões, corre impune em todas as camadas da sociedade onde encontra pessoas sem caráter e sem o mínimo de dignidade. A multiforme miséria reinante no mundo não pode ser atribuída a Deus, mas, unicamente, à persistente teimosia e estupidez humana.

Indiferentes aos desígnios de Deus, os obreiros da iniqüidade prosseguem em sua obstinada marcha destruidora. O pecado da desobediência à lei do amor, consubstanciada na pessoa do Filho de Deus, permanece presente e atuante nesta geração. A sagacidade e a astúcia da serpente, mencionada no Gênesis, ainda fascina enganosamente, ilude e induz os humanos a erro. O paraíso concebido pela mente de Deus, a criatura o transformou em sanguinária arena de luta fratricida!

"Si vis pacem para bellum"- se queres a paz prepara-te para a guerra - era a divisa do poder político e militar de Roma. As temíveis Legiões Romanas compostas, em média, por seis mil legionários cada uma delas, mantinham-se em permanente prontidão à espreita dos inimigos para subjugá-los e aniquilá-los em qualquer parte do mundo. Era o predomínio do império da imposição e da força.

A divina criancinha que nascida na manjedoura, ao contrário, inaugura o império do amor e da paz, pois ela é a própria encarnação do amor, "a revelação do mistério que estivera oculta dos séculos e das gerações" (Cl 1.26). Todos os que recebem em seus corações esta suprema dádiva de Deus, que buscam e querem a paz, semeiam-na, preparam-se para recebê-la e também para levá-la a outros. Envoltos e seduzidos pelas artimanhas e ciladas do tentador, homens e mulheres, ainda não convertidos, não conseguem vislumbrar a luz do evangelho, do amor e da paz que, na plenitude dos tempos, fora anunciada aos pastores. A voz mansa e suave do Príncipe da paz torna-se inaudível ante o som horrendo e tenebroso da voz do príncipe das trevas expressa numa pequena discussão, numa intriga, no sibilar das balas e até no estrondo das bombas e no troar dos canhões.

Superar toda forma de violência e construir a paz, entrar e habitar amorosamente nos corações é o projeto de Deus na santidade dessa criança. Veio para estabelecer o shalom, preconizado pelo Velho Testamento e para derrubar o muro de separação que havia entre a criatura e o Criador. Este termo hebraico, de natureza abrangente, traz implícito o sentido de reciprocidade e significa bem-estar, prosperidade, felicidade, saúde, segurança, fraternidade, harmonia com Deus e paz.

Natal renova o sublime propósito divino de fraternidade, de reconciliação entre Deus e o homem e do anseio incontido e ardente de felicidade e paz para todos.

Natal faz vibrar com ternura os nossos corações, e desperta dentro de nós os mais nobres sentimentos e valores que estavam indolentes e adormecidos em nosso ser. Tão majestoso gesto enaltece, dignifica e restaura a condição humana, ferida e humilhada pelo aguilhão do pecado.

Celebremos, pois, este Natal com hosanas, regozijo, alegria imensa, profundo reconhecimento e glorificando a Deus nas maiores alturas. Este é o fato mais extraordinário acontecido na História: a vinda de Jesus ao mundo para nos salvar no tempo e na eternidade.

Seja nosso supremo desejo buscar e semear; semear o amor e colher a paz, inclinando-nos em adoração, gratidão, reverência e submissão diante do divino Infante de Belém, Jesus, o Príncipe da Paz.

Rev. Ivam Pereira Barbosa - Redator do IR-Informativo Regional da 5ªRE

Bibliografia: Diccionario de La Biblia - Barcelona Editorial Herder - 1963; O Novo Dicionário da Bíblia - Edições Vida Nova - 2002; Vocabulário Bíblico - Aste-São Paulo; Folha de São Paulo, julho/2007; O Estado de São Paulo, setembro/2007; Vicentino, Cláudio - História Geral - Editora Scipione- 1977; Magnoli, Demétrio Martinelli - O mundo contemporâneo - Editora Ática -São Paulo - 1990; Anotações, do autor, em aulas de Latim - Unesp/Franca.


Posts relacionados