Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

menina vítima de estupro

Uma criança de 9 anos foi vítima de estupro, praticado pelo próprio padrasto. Engravidou de gêmeos, uma gestação de altíssimo risco para uma criança, e teve que ser submetida a um aborto. Em plena Semana da Mulher, o arcebispo local puniu aos médicos que realizaram o procedimento cirúrgico com a excomunhão, o castigo mais severo aplicado pela Igreja Católica. Ao padrastro criminoso ele não anunciou a mesma pena. Veja abaixo a matéria publicada no jornal Folha de S.Paulo no dia 6 de março de 2009.

Arcebispo não teve pena da criança, afirma médico

Católico praticante, Rivaldo Albuquerque diz que já havia sido excomungado antes

"Fazemos [aborto em caso de estupro] pelo respeito que uma mulher vítima de violência merece", afirma o professor de Pernambuco

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

O médico Rivaldo Mendes de Albuquerque, 51, professor de ciências médicas da Universidade Estadual de Pernambuco, foi um dos profissionais que interromperam a gestação da menina de 9 anos, grávida de gêmeos.
Católico praticante, todo domingo ele pode ser encontrado na missa, aonde vai para pedir "luz e compreensão". Sobre a excomunhão decretada por dom José Cardoso Sobrinho, o médico disse: "Tenho pena do nosso arcebispo, que não conseguiu ser misericordioso com o sofrimento de uma criança inocente, desnutrida, franzina, em risco de vida, que sofre violência desde os seus seis anos".

 

FOLHA - Como um católico praticante recebe a excomunhão?
RIVALDO MENDES DE ALBUQUERQUE
- Com tristeza. Mas não foi a primeira vez. Quando o serviço de atendimento a mulheres vítimas de violência sexual da Universidade Estadual de Pernambuco foi inaugurado, em 1996, o mesmo dom José Cardoso Sobrinho nos excomungou a todos, porque o serviço, entre outros atendimentos, realiza as interrupções de gestação nos casos previstos em lei.

FOLHA - Então a pergunta é: como um católico faz abortos, apesar da proibição religiosa?
ALBUQUERQUE
- Primeiro, é preciso que fique claro. Não foi Deus que proibiu a interrupção da gestação em qualquer caso. Foram os homens da Igreja. E eles erram -já queimaram gente viva em praça pública, não se esqueça. Quando comecei a trabalhar neste programa, conversei com minha mãe, então com 80 anos, católica praticante. Perguntei se me condenaria por interromper a gestação de mulheres estupradas. Ela me disse que não. Que, se fosse com ela, gostaria de encontrar um médico compassivo com sua situação. A mesma pergunta fiz à minha mulher -mesma resposta. Tenho duas filhas. O que faço por outras mulheres é o que eu gostaria que fizessem pelos meus entes queridos se com eles ocorresse uma tragédia dessas.

FOLHA - Dom José Cardoso Sobrinho falou com alguém da equipe?
ALBUQUERQUE
- Não. Ele se dirigiu apenas ao reitor da universidade, o professor Carlos Calado. Mas, se tivesse falado com alguém da equipe, o procedimento adotado teria sido o mesmo. Nós não recebemos um único centavo a mais para fazer esse tipo de intervenção. Fazemos pelo respeito que uma mulher vítima de violência merece, e que o arcebispo, infelizmente, trata sem nenhuma misericórdia. Veja que curioso: quem nos condenou à excomunhão não proferiu uma só palavra dirigida ao homem que estuprou essa criança. Para dom José Cardoso Sobrinho, a única coisa que conta é o Direito Canônico [o manual de normas da Igreja Católica]. Falta-lhe coração. Tenho pena do nosso arcebispo, que não conseguiu ser misericordioso com uma criança inocente.

FOLHA - Como é a menina?
ALBUQUERQUE
- Típica vítima da miséria. A mãe pensava que a barriga era decorrência de vermes, por isso não tomou providências antes. É uma criança desnutrida, que ainda brinca com boneca.


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