Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
memória ferroviária no Bennett
Ricardo Beghini - Estado de Minas
Poesia, teatro e música marcaram, em Chiador, a 342 quilômetros de Belo Horizonte, na Zona da Mata, o lançamento do projeto Estação Cidadania, que visa a restaurar a primeira estação ferroviária de Minas Gerais. Inaugurada por dom Pedro II e autoridades do Império, a construção, que hoje está em ruínas, completará 138 anos dia 27. "Ela tem uma importância histórica muito grande", afirma o presidente do Movimento de Preservação Ferroviária (MPF), Victor José Ferreira.
Em meio às festividades culturais, o MPF, a Prefeitura de Chiador e o Instituto Metodista Bennett (IMB), do Rio de Janeiro, assinaram convênio de intercâmbio e cooperação técnica para pôr em prática a iniciativa, que prevê, entre outras ações, pesquisa de campo e elaboração do projeto arquitetônico para restauração do prédio, que já está em execução no escritório do curso de arquitetura e urbanismo do Centro Universitário Metodista.
Uma das fases seguintes será o enquadramento do Estação Cidadania à lei de incentivo à cultura, para captação de patrocínios e doações. Segundo Victor, que também é vice-diretor-geral do IMB, são potenciais patrocinadores a empresa Furnas Centrais Elétricas, que está iniciando a construção de uma usina hidrelétrica na região, e a Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), que usa o ramal da Estação de Chiador para transportar bauxita do município de Itamarati de Minas até o interior de São Paulo.
A expectativa é de que a etapa de captação de recursos seja iniciada ainda este ano. "Os patrocinadores poderão obter abatimento integral dos valores doados em seu imposto de renda, observados os limites permitidos pela lei", explica o presidente do MPF. Concluída a busca por patrocinadores e parceiros, Victor estima que as obras de restauração do prédio e revitalização do entorno da primeira estação ferroviária do estado sejam concluídas em um ano.
"Além de permitir a recuperação de um importante elemento do patrimônio histórico ferroviário, já tombado pelo município, a iniciativa também é importante para o desenvolvimento cultural, turístico, social e econômico de Chiador", revela.
Símbolo
A Estação Cidadania de Chiador é o projeto-piloto da Estação Brasil - Rede de Estações da Cidadania, que será desenvolvido pelo MPF e entidades parceiras. O objetivo é recuperar as estações abandonadas depois da privatização da malha ferroviária, no fim dos anos 1990. "A estação é um dos símbolos mais importantes e emblemáticos da estrada de ferro. Foi o epicentro da vida social e econômica de inúmeras cidades, que surgiram e se expandiram no entorno dela." Pelo projeto, mais que valor arquitetônico, as estações têm forte valor cultural e afetivo para as comunidades.
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DA CAUSA
Uma bela manhã ensolarada num histórico espaço da Zona da Mata, e a oportunidade de se mesclar arte e cultura através das manifestações prometidas pela organização do evento, talvez fossem a certeza de belos momentos em nossas vidas, mas não foi.
O que se viu, o que se sentiu, superou expectativas, se sobrepôs ao sonho, posicionou-se ao lado do prazer. Lembrei-me do nosso poeta Vinicius de Morais: ?...de um lirismo profundo, um lirismo quase ode.?
Iniciou pelo mezzo surto de alegria, quando vi, ouvi e senti, a música, a nobre arte dos sons, com a Orquestra Mirim Armando Prazeres. Jovens descomprometidos com o absurdo do descaso social e totalmente envolvidos pelo gesto erudito de pessoas muito especiais, mesclaram-se aos pássaros, ao povo e à própria história que adiante iria ser retratada por um grupo de teatro, num belo cenário ferroviário.
A seguir o neo D.Pedro II, em seu breve discurso de inauguração da Estação de Chiador, nos advertiu: ? O aspecto de uma cidade é a bela imagem que ela tem de si mesmo.? Que aspecto portanto, teremos a partir daí? Com a resposta os homens e o tempo.
Adiante, com a implantação do trem, o questionamento natural e espontâneo de um povo ainda carente de necessidades básicas. Belíssimos texto, direção e interpretação, e aí: aplausos e o calor de um belo e perplexo povo, para a Orquestra Mirim, o neo D.Pedro II, sua impecável Imperatriz, e todo o elenco teatral.
Achei que daí para frente o coração não seria mais assaltado pela arma da emoção e que tudo, à tarde, voltaria a normalidade com a apresentação da Orquestra Mirim. Também não foi. Entrei na Paróquia de Santo Antônio e acabaram de vez comigo. Destruíram o pouco de lágrimas que ainda restavam em minha reserva técnica.
DA CONSEQÜÊNCIA
Perplexidade, emoção e por fim, as lágrimas do prazer.
Talvez através destas palavras eu pudesse sintetizar o sentimento dos momentos descritos e vividos no sábado, mas não seriam suficientes.
Mais do que isto ficou o sentimento, que apesar do homem, ainda podemos acreditar na intenção de alguns homens, e o que vai diferenciar uns dos outros será certamente o tiro certeiro do nosso D.Pedro II: o aspecto que teremos a partir daqui, nas cidades e em nossas vidas.
Poderia terminar assim: PARABÉNS e Nota DEZ, pelo Projeto de Restauração da Estação Ferroviária, pelo Grupo de Teatro e pela
Orquestra Mirim, mas é pouco.
Mais que o brilhantismo do evento e o restauro da estação, as lágrimas de contentamento de um povo, que em sua grande maioria nunca foi ao teatro nem a audição de alguma orquestra ( possivelmente alguns ouviram falar à respeito ), o estouro dos aplausos, representam
a melhor quantificação de agradecimento pela oportunidade de estar frente a frente com o novo, não indignar-se, e sim deleitar-se. Esta
foi a maior NOTA: acima de dez e da escala musical.
Obrigado pelo convite ( aceito imediatamente ) para que eu fizesse parte deste histórico momento, onde ainda tive o grato prazer de encontrar Vilna Baggio, minha professora na Escola Dominical e o Cássio, que não via desde 1986 na CBTU/AC. Obrigado por tudo que foi feito por mim e conseqüentemente à minha família.
Um grande e fraterno abraço.
Chiador 23 de junho de 2007
Josil Deslandes