Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

meio ambiente

O planeta já está sinalizando um futuro de perguntas existenciais

 

Estamos caminhando hoje, a passos largos, para um período de grandes dificuldades para toda a humanidade. O clima no nosso planeta está mudando radicalmente. A natureza repercute, de forma agressiva, aquilo que sofre. Como humanidade, provamos a Deus de forma inequívoca que não temos condições de cuidar do planeta. Ainda que existam bons movimentos e boas pessoas fazendo a sua parte para a preservação da Terra, de forma geral o que presenciamos é o caminho certo para um mundo bastante conturbado.

            Como conseqüência do que temos feito à natureza, vemos a cada ano um número crescente de calamidades. Mais terremotos, maremotos, chuvas, fogo. O número de espécies que desaparecem por ano está em franco crescimento. Na cadeia alimentar, algumas das espécies extintas são de extrema importância e seu sumiço tem gerado amplas repercussões.

A Nasa prevê que em 2012 não haverá gelo no pólo norte no verão daquele hemisfério. E se todo aquele gelo derreter de fato, talvez tenhamos que, a exemplo da Holanda, construir diques no litoral, ou perderemos a famosa Av. Atlântica (entre outras praias). No Recife já há prédios cuja portaria que dava para o mar não pode mais ser usada sem que se molhem os pés - na maré alta, os joelhos.

            O plano de Deus, que O incluía na condução de nossas vidas, não era esse. Se a humanidade se pautasse pelos preceitos bíblicos a situação atual seria outra. A começar pelo texto de Gênesis que, mais do que um presente, é também uma responsabilidade. Dominai, em Gn 1,28, não é de forma alguma algo como "sujeitai aos seus caprichos". Indica o domínio, mas não autoriza o uso desenfreado e irresponsável.

            Outro ponto bíblico que, se seguido, nos teria colocado em melhor situação é o mais simples, e o mais importante, dos mandamentos: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo". O mundo não aprendeu esta lição e age mais ou menos como nesta estória: "Um grupo pessoas descia um rio num pequeno barco de madeira. Um homem, sentado na frente do barco cutuca seu fundo com um canivete. Se continuar, abrirá um buraco. Um passageiro, no meio do barco vê a cena e reclama pedindo ao primeiro que pare, e este responde que aquela é sua parte do barco e que o amigo não tem nada a ver com isso". Com desamor ao próximo, movidos pela ganância e vontade do lucro, muitos fazem buracos "nas suas partes do barco" indiferentes ao fato de que todo barco afundará junto. Os outros, incluindo aí os seus próprios netos, não lhe interessam muito. Importa ser feliz e abastado, ainda que o custo seja o outro. O outro não lhes pesa em nada. Eu acredito que alguns, mais abastados, já estão com seus coletes salva-vidas. Quando o barco afundar ficarão na superfície enquanto muitos irão ao fundo.

            Neste cenário, penso que o mais importante que a Igreja pode fazer é se preparar para o inevitável futuro que nos espera. No onze de setembro, com a queda das torres gêmeas em Nova Iorque, houve um aumento significativo da procura por respostas de Deus e as igrejas ficaram cheias de pessoas e seus questionamentos existenciais. Acredito que haverá cada vez mais procura por respostas nas igrejas. É ali precisamente que se espera encontrar as respostas para as questões últimas da vida. Com certeza seremos assolados por perguntas do tipo "Onde está Deus ?", ou "Como Deus deixou isto acontecer com minha filha/casa/vida ?" ou "Porque Deus não me avisou pelos profetas ?", questionando a ausência ou "indiferença" de Deus. Perguntas que, repito, serão frequentemente lançadas às portas das igrejas, aos crentes, aos fiéis. E a Igreja deve ter uma resposta clara para dar.

            A teologia da moda no Brasil não dá conta de responder estas perguntas. Sua base é a de que todos os que dizimam e são fiéis ao Senhor estão de baixo de suas asas e nada lhes acontece de mal, sendo todos os males enviados ou permitidos por Deus somente para os infiéis e impuros. Apregoa com veemência uma vida de sucesso, segurança e riqueza para os servos do Senhor. Apresenta Deus como um grande guarda-chuva ou escudo protetor para tudo.

            Sei de experiência própria, também dos exemplos bíblicos e dos relatos de diversos e renomados crentes nestes 2000 anos passados que Deus não se amolda nesta imagem. Ao contrário do que é dito ultimamente nesta moda, crentes passam sim por problemas, decepções, situações inesperadas, doenças e morte. E no que tange aos problemas atuais do nosso planeta, eles nos atingem e atingirão a todos. Não espere o crente fiel que, no alagamento da Av. Atlântica em 2012 - se acontecer - todos os prédios fiquem ilhados e o seu - somente o seu - fique seco. Isso pode acontecer - pois Deus é o Deus dos impossíveis - mas é muito pouco provável.

            Na onda deste movimento triunfalista muitos já afundaram. Alguns se afundaram em dívidas, pois acreditaram que dando muito no gazofilácio muito receberiam em troca, deixando ali todo seu salário num ato de pura barganha com Deus. Mas Deus não é banco nem aplicação bancária. Outros se afundaram em problemas, pois nada fizeram para resolver as questões que, acreditavam, seriam resolvidas por Deus. Deus não fica a resolver tudo o que a nós aparece. Jesus disse: "tirai a pedra". Ressuscitou Lázaro, mas os homens fizeram sua parte. Outros se afundaram na fé. Uma crise de fé de quem acreditou naquilo que Deus não disse, ainda que alguns pastores tenham dito, e ficaram decepcionados com Deus. Mas isso é assunto para outro texto...

            A Igreja Metodista precisa pensar e discutir logo a questão da suposta ausência de Deus, frente a um futuro cada vez mais perto. E a discussão, penso, deve chegar antes que os problemas cheguem. O planeta já está sinalizando um futuro cheio de perguntas existenciais. Qual resposta daremos à mãe de família que perde tudo, inclusive os filhos pequenos, inocentes, na enchente do rio que alaga toda uma cidade? E qual daremos ao filho que pergunta do pai, que foi morto em conflitos por alimento? Ou ao menino que pergunta sobre animais que não existem mais? O que lhes diremos teologicamente? Onde estava Deus? O que Ele fazia na ocasião que não protegeu os seus?

            Proponho que a Igreja Metodista pense a questão. E não se trata de dizer que a resposta está neste ou naquele livro, ou documento episcopal. Isso não resolve da forma como penso. A Igreja poderia (mas acho que o certo seria "deveria") usar a escola dominical, grupos pequenos e outros meios mais pessoais e diretos, para levantar e discutir a questão o mais cedo. Falo em discutir porque tais perguntas - de profundo significado para os homens e mulheres em aflição - não se respondem com textos impressos. Há muitos que precisam ser ouvidos. Há muito o que falar em nossas igrejas sobre tristezas e decepções, onde infelizmente, pela moda atual, o crente não fala muito de fracassos ou incertezas e dúvidas pois pode parecer que o tal que fala não é servo fiel, pois "o servo fiel nunca duvida", dizem. Mas quantos bons servos do Senhor na Bíblia já não passaram por dúvidas e incertezas...

            Fica a proposta: ouvir, explicar e discutir o tema premente: Onde está Deus ? Para sermos "uma comunidade a serviço" - como prega nosso tema - precisamos formar membros que saibam - e entendam - do conhecimento necessário para responder ao povo. As perguntas virão com certeza. Precisamos estar prontos.

 

Pr. Roberto Rocha, da Igreja Metodista do Vidigal, Rio de Janeiro.

e-mail: prrobertorocha@gmail.com

 

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