Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Levando na Flauta

Domingo de manhã. Quem passa pelas ruas de terra de Mato Dentro, bairro a 30 km de distância do centro de Sorocaba, imaginaria ouvir de tudo, menos o som de uma flauta. Uma não, várias: flautas tenores, contraltos e sopranos, tocadas pelos alunos do projeto "Levando na Flauta", dirigido por Nelson Fer e sua equipe. O ponto missionário Mato Dentro, espaço onde as aulas são proporcionadas, é mantido pela Igreja Metodista Central de Sorocaba e fica numa comunidade rural freqüentada por caseiros, família de trabalhadores das fazendas e muitas crianças, na maioria entre 9 a 16 anos. .

 

A idéia do Levando na Flauta é dar aos alunos uma oportunidade de aprender uma atividade artística, além de despertar talentos para o Ministério de Música na Igreja. O instrumento usado tem baixo custo e o aprendizado é relativamente curto, mas o domínio exige disciplina e dedicação. O programa iniciou em 2002 e atende atualmente 30 crianças, com 4 horas de aula a cada domingo. "No repertório constam músicas de folclore, cantigas de roda, músicas barrocas e hinos adaptados para conjunto de flauta com acompanhamento de violão ou teclado. As aulas terminam na hora do almoço e as crianças voltam às 15 horas para a escola dominical e culto", diz o professor.

 

O estudo da música, segundo Nelson, tem proporcionado para as crianças e adolescentes do Levando na Flauta um aumento da sociabilidade, da concentração e da disciplina. "No início do projeto havia alunos agressivos, desatentos e com baixa auto-estima. Hoje tocam em grupo, são mais calmos, desenvolveram sensibilidade e alguns já pensam até em tocar outro instrumento. Quando surge um aluno com mais dificuldade, damos todo o apoio para que ele aprenda. Não desistimos de nenhum dos alunos, e esta postura tem mostrado seus resultados. Um dos primeiros alunos com dificuldade na técnica de respiração, já quase desistindo, teve aulas particulares e acabou se tornando um dos melhores flautistas, com um sopro forte e afinado. Ele só não participa mais do projeto porque teve que se mudar para outra cidade", lamenta Nelson.

 

Uma das maiores dificuldades do Levando na Flauta, segundo o músico, é a falta da presença e apoio dos pais no processo de aprendizado das crianças. "Em sua grande maioria os alunos são crianças que vêm de famílias mal estruturadas, que não conseguem captar a importância do projeto na vida dos filhos. Por meio do ensino da flauta e da proximidade que o processo de aprendizado traz, temos visto carências de ordem emocional, intelectual, material e espiritual que ficam patentes e podem ser tratadas, incluindo por vezes as famílias".

 

Mas nenhum trabalho consegue ser realizado se não tiver uma equipe de apoio por trás. Além dos irmãos do ponto missionário (que têm ajudado cedendo o espaço, preparando um lanche para os alunos e providenciando transporte), a Sede da terceira região repassou uma verba que foi usada para aquisição de mais 9 flautas. "Além disso, recebemos uma verba do projeto Dona Susana, que será destinada a capacitar alunos que se destacaram no aprendizado e que poderão atuar como professores na comunidade", comenta Nelson.

 


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