Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
josé do carmo marketing da fé
Reunião Administrativa Final: A prestação de contas
Uma crítica aos atuais modelos de igrejas, e um alerta ao clero e fiéis de boa fé.
Pr. José do Carmo da Silva. (Zé do Egito)
Igreja Metodista em Fátima do Sul-MS.
Estamos vivendo a época do marketing, onde se propaga a idéia que tudo depende de uma boa estratégia de mercado para se obter sucesso. Livros como: O Monge e o Executivo, do americano James Hunter e outros, são sucessos de vendas. O meio empresarial secular busca resgatar valores espirituais aplicando-os à lógica do mercado. Enfim, a onda agora é ser espiritual. Não importa de que matriz seja a espiritualidade. A moda agora é ter uma, seja no estilo de Jesus, Buda ou qualquer outro grande líder oriental ou ocidental, antigo ou pós-moderno, podendo até mesmo ser Raul Seixas, Renato Russo ou Paulo Coelho; o que importa é manifestar alguma forma de espiritualidade e seguir um líder. Tudo é lícito desde que a influência dos líderes sobre seus seguidores gerem divisas, aumente a produção, colaborando com a empresa no alcance de suas metas. Então a frase de efeito é: faça o que tu queres, pois é tudo da lei. A lei de mercado.
Em plena pós-modernidade, na qual empresas e empresários adotam conceitos e valores espirituais, o inverso também ocorre: igrejas e pastores passaram a adotar estilos e valores empresariais. Sobretudo o marketing da fé, que proclama alto e em bom som, via rádio ou televisão, não as insondáveis Riquezas do Evangelho de Cristo, mas sim o palpável, calculável, e rentável "evangelho da riqueza" disponível para quem aceitar a Cristo, e sacrificar o valor mais alto. Nas catedrais da fé, nos templos, nos estádios, ou na televisão -- por meio de emissoras próprias ou horários comprados -- homens meticulosamente treinados levam ao extremo da distorção, com propósitos de estropiação o que Francisco de Assis declarou em sua célebre oração: "pois é dando que se recebe". Na ótica sem ética de muitos neopentecostais, o oposto se torna literal "se não der não recebe". Mas sendo a vertente tida como de matriz protestante, embora não manifeste muitas ligações com a Reforma do século XVI, melhor apelar para a Bíblia. Logicamente por eles usada de forma distorcida e descontextualizada. Se tratando de arrecadar dinheiro, para eles não há versículo melhor do que esse: "Deus ama a quem dá com alegria" (2 Co 9.7b). Com essa visão materialista, templo se torna dinheiro, pequenas igrejas, em poucas décadas, conseguem aquilo que muitas denominações históricas não conseguiram em séculos e atingem milhares de membros no Brasil e exterior, assemelhando-se a grandes empresas multinacionais administrando suntuosos bens obtidos na "determinação e exercício da fé".
Sei que não se faz missão sem investimentos, e investimentos significam dinheiro. Sei também que muitas igrejas sérias cresceram e estão crescendo como resultado de uma boa administração eclesiástica, baseada na ética cristã, na qual procuram caminhar e formar seus líderes e membros. Não existe organização que não precise de uma estrutura administrativa. A Igreja como organização social não foge à regra: é impossível se administrar bem sem uma boa liderança, realmente capacitada e motivada. Contudo, fico preocupado quando vejo a lógica e valores do mundo influenciando e motivando as igrejas, quando o inverso é que deveria estar ocorrendo. A lógica e os valores do Reino de Deus proclamados pela Bíblia e encarnado pelos cristãos(ãs) que vivem o já, como sal, luz e fermento na massa causando impacto espiritual, influencia social e preservando o mundo até a plena manifestação do Reino de Deus.
Se administrar é preciso, administremos com fidelidade, acima de tudo deixando-nos guiar pela graça de Deus, que nos constituiu como cooperadores, sob a liderança infalível do Espírito Santo. Na Igreja de Cristo, os participantes da Missão de Deus em salvar o mundo não devem mover-se por nenhum outro motivo que não seja glorificar a Cristo por meio de seus atos.
Se liderar é preciso, lideremos como Jesus. Se seguir um líder é necessário, sigamos Jesus. Contudo, mais que saber o que Ele disse e fez, precisamos saber fazer o que Ele ordenou a quem quer segui-lo: negação cotidiana do eu, e tomada sobre si da cruz, para nela crucificar o ego.
Seguir a Jesus Cristo e pregar seu Evangelho com sinceridade sempre exigiu despojamento e convicção, pois seus fiéis seguidores ao longo da história sempre enfrentaram oposição. A Igreja cristã encontra-se frente a um grande desafio na proclamação do Evangelho genuíno, cujos valores se contrapõem ao "evangelho" ufanista importado dos Estados Unidos, que se alastra no Brasil. Produzindo adeptos, não fiéis. Juntando multidões, mas não discípulos(as). Crescendo numericamente, mas não qualitativamente. Produzindo, com raras exceções, mais escândalos e vergonha para a causa do Evangelho à medida que aguça a sede de ter e poder, em detrimento do ser e servir.
A recepção verdadeira do Evangelho de Cristo torna-se mais difícil no presente século onde impera a religião do marketing, onde templo é dinheiro. E os lobos(as) muitas vezes travestidos em pastores(as), bispos (as) e apóstolos (as) possuem seus nababescos covis, e as raposas dissimuladas em líderes habitam em suntuosas tocas, gozando vida luxuosa e regalada, frutos da maior perversão religiosa que já se viu embaixo do céu: o negociar da graça, dom de Deus, presente do alto. E por possuir caráter inegociável, Jesus seu único doador advertiu a seus liderados: "de graça recebeste de graça daí".
Muitos mestres e líderes religiosos do presente século, à semelhança da elite religiosa dos dias de Jesus de Nazaré, continuam contrapondo-se ao estilo de vida do Filho do Homem, que não tinha sequer onde reclinar sua cabeça.
Contudo, eis que virá o dia
Diante Dele também se apresentarão muitos dizendo: - "Senhor, protestantemente condenamos tudo aquilo que ameaçava a ordem teológica tradicional estabelecida, nos legada pelos antigos tratados teológicos experimentados ao longo de cinco séculos. Pela nobreza e manutenção do pensamento dos antigos, sufocamos tudo com ares de novidade e que de um jeito latino e abrasileirado destoava da maneira de sua Igreja evangélica". Milhares do Magistrado, apelando para as Escrituras e Tradição, tentarão justificar: - "Que fique bem claro e registrado nas atas conciliares, Senhor, que sempre manifestamos nossa discordância por meio de conclaves, dogmas e encíclicas, a tudo àquilo que ameaçava vosso domínio, Jesus, que fora exercido por meio da divina instituição e magistrado. Instituição fundada por Ti, fora da qual proclamamos que não havia salvação e do clero divinamente por Ti estabelecido, ao qual ensinamos que todo homem devia obedecer. Em Teu nome como fiel e única portadora da verdade, almejando manter a lei e a ordem, inquirimos e exercemos o juízo, anatematizando aqueles (as) que ousaram pensar, falar, ensinar e agir diferente de nós... Ou melhor, de Ti."
Ironia à parte, é preciso ouvir o que o Espírito diz a Igreja. Quem for bom entendedor entenda. Concordando ou não com o supracitado repito: é preciso ouvir o que o Espírito diz a Igreja, e não mais fechar os olhos para não ver, e muito menos a boca para não denunciar. Jesus não mandou simplesmente pregar o Evangelho, Ele mandou ensinar a observar tudo aquilo que Ele ensinou. E muito do que tem sido pregado em muitas pseudo-igrejas cristãs, nunca sequer chegou à periferia do pensamento de Cristo, muito menos saiu de seus lábios. Concluo, glorificando a Deus, por Ele deter o poder de julgar segundo aquilo que está no coração dos homens e os movem na administração de sua Igreja. Uns agindo por motivos nobres, outros... nem tanto assim. Contudo, Deus conhece os que são seus e dará a cada um segundo a suas obras. Pois, segundo as Escrituras as portas infernais não prevalecerão contra a Igreja de Cristo. A Ele desde já clamemos misericórdia, buscando sermos bons administradores de seu Reino já presente em nós, mas que ainda não veio em toda sua plenitude. Amém.