Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Jornada Ubuntu no Brasil

19 a 29 de setembro de 2011

Verdadeiramente pudemos entender o significado da palavra africana “Ubuntu” que é a seguinte: “Eu existo porque você existe ou eu sou humano porque você é humano”.
A Jornada Ubuntu é uma atividade das mulheres metodistas unidas (US), que desta vez se juntaram às mulheres no Brasil (Confederação de Mulheres) para compartilharem a missão, atuando em São Paulo (foto grupo em São Paulo) e em Fortaleza, na tentativa de transformar a vida de mulheres e crianças, numa iniciativa que abre possibilidades para novas maneiras de estar juntas em missão e de crescimento espiritual, numa oportunidade de aprendizado, ação e transformação pessoal e social, conforme palavras da revda Rosângela de Oliveira que esteve liderando toda a comitiva durante os dias 19 a 29 de setembro de 2011.
Esta missão esteve em torno do combate à violência contra a mulher e a criança e o enfrentamento ao tráfico de mulheres e crianças. Foi sem sombra de dúvida o viver o tema “Mulheres Metodistas, Discípulas Unindo Valores e Fortalecendo a Cidadania”.

Doze mulheres americanas, de cidades diferentes, que ainda não se conheciam, saíram de suas casas e se juntaram a um grupo de brasileiras em São Paulo e depois em Fortaleza para fazerem missão. Sonia e eu as conhecemos no dia 23 de setembro quando elas já estavam juntas em São Paulo desde o dia 19, e ao desembarcarem em Fortaleza mais pareciam velhas amigas, tal era o entrosamento das irmãs Lee Mc Millan, Rosemary Uebel, Rosa Bernard, Jessi Rich, Susie Jonhson, Rita Gaither, Ashley Raines, Janelle Gonzales, Suzane Powell, Olma Garibau, Meredith Dreibelbis e Susan Deo.
A experiência do grupo nos primeiros dias foi muito boa pelo que pude entender de seus relatos, desde a acolhida na Sede Nacional até os trabalhos realizados com as demais irmãs brasileiras que as esperavam em São Paulo. Durante toda a Jornada elas tiveram a companhia da reverenda Rosângela Oliveira, Missionária Regional da UMW, como líder e também tradutora.

Dando o maior suporte em todo o sentido, inclusive como tradutora, esteve a Teca Greathouse, Missionária da GBGM, Coordenadora Nacional do Projeto Sombra e Água Fresca.

Tiveram o apoio em São Paulo da Presidente da Federação da Terceira Região, Neusa Felippe Souto, da Reverenda Margarida Ribeiro e o Centro Otília Chaves, e também do Demétrio. Participaram de uma devocional na Sede na quinta-feira com todos e todas que ali trabalham, recebendo o carinho principalmente da Reverenda Joana D’Arc Meireles, Secretária para a Vida e Missão da Igreja Metodista.
Chegando em Fortaleza se integraram ao grupo as irmãs, Almerinda Frota presidente da Federação da Região Missionária do Nordeste, Maria do Amparo Barbosa de Freitas vice-presidente, Sonia Palmeira presidente da Confederação, Leila de Jesus Barbosa vice-presidente e Andressa Rélica de João Pessoa como tradutora.

No primeiro dia em Fortaleza participamos de um Encontro de Mulheres “Caminhos para a superação da violência” na Igreja Central que é liderada pelo pastor Emanuel Rodrigues de Almeida, onde tivemos um número expressivo de participantes em torno de 100 pessoas. Com louvor dirigido por Almerinda Frota:

 Devocional dirigida por Sonia Palmeira:

 e dinâmicas de integração e transição por Leila Barbosa, os trabalhos foram iniciados.

Logo em seguida tivemos um Painel com drª Andréia Costa-Coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Ceará; Bispa Marisa de Freitas Ferreira; Susie Johnson- que trabalha no escritório de Políticas Públicas da Divisão de Mulheres em Washington e Gabriela Botanni- representante do Grupo “Um Grito pela Vida” de Fortaleza.
Drª Andréia falou que o inimigo pode estar mais perto do que se imagina e, na luta em defesa dos direitos da vítima de tráfico, o trabalho do núcleo de Enfrentamento é de Prevenção, Repressão e Assistência à vítima, ou seja: acolhe e dá o tratamento psicossocial e não enfrenta diretamente o traficante.

 

Que a maior preocupação é a capacitação de conselhos tutelares, etc. E nós, americanas e brasileiras devemos ser este veículo contra o tráfico.
A Bispa Marisa falou do absurdo que é, um pais como o nosso, gastar milhões para a construção de estádios e outras coisas em função da copa, e este mesmo país diz não ter dinheiro para a construção de uma creche.

E nós, no conforto da Igreja, não lutamos o suficiente para combatermos estas violências. Se a Igreja quer ser santa, ela tem que se converter a Deus. Deus criou o mundo e cada vez que agredimos algo, estamos agredindo a Deus. A mulher e a criança traficada pertencem a Deus e nós temos responsabilidade sobre isso. Tenho que socorrer, denunciar, conhecer, estudar, discutir e no mínimo trabalhar com a prevenção.
Susie Jonhson citou o profeta Isaías quando diz sobre este povo que é roubado...como se fosse uma presa fácil e ninguém para ajudar a restaurar esta pessoa.

E nós, mulheres metodistas unidas, resolvemos ser este veículo que traz a restauração destas vidas. Falou ainda da responsabilidade de lutar para que o governo cumpra seu papel e que por isso formaram um grupo para trabalhar as causas do que leva ao tráfico de pessoas ou porque existe isso? Que devemos pensar em quem fez nossa roupa, nosso sapato, nossa comida, que nem sempre são feitos de maneira voluntária. Muitos são verdadeiramente escravizados e nem recebem um pagamento. Diz que as mulheres unidas fazem passeatas, enviam cartas para senadores e telefonam para a Casa Branca se for preciso. Que nos Estados Unidos apenas 2 estados não têm uma lei de prevenção, mas que vão fazer um trabalho nestes estados.
Gabriela Botanni falou que o Grupo “Um Grito Pela Vida” foi fundado em 2006 e é um espaço de articulação e ação solidária.

Atua de forma descentralizada junto a organizações e iniciativas afins em diversas localidades, estaduais e municipais. Fala de Miriam a profetiza, uma das mulheres que começou, viu e atuou neste momento de libertação, pois viveu e experimentou o sofrimento de seu povo escravo. Aprendeu com as parteiras a sabedoria e fez a diferença. Trabalhou em REDE envolvendo outras mulheres. Disse ainda que a falta de conhecimento é que faz com que isto aconteça e portanto “vamos capacitar”!!!
Tivemos a oportunidade de conhecer e trabalhar com a Igreja de Parque São José que tem como líder o pastor Emerson Valente Oliveira, onde os grupos da Jornada foram divididos entre as classes de adultos, adolescentes e crianças.

Da mesma forma, na parte da tarde pegamos estrada de chão e fomos até a Igreja Metodista, Ponto Missionário em Alto Alegre , um lugar muito distante, de pessoas muito interessadas no trabalho do Senhor, e também, lugar de crianças tremendamente carentes de afetividade.

Nesta Igreja conhecemos algumas mulheres rendeiras e assistimos o tecer das rendas com uma habilidade impressionante. Foram momentos de emoção estar participando e ajudando de alguma forma estes irmãos e irmãs que vivem tão longe de muitos recursos.

No dia seguinte nossa missão foi numa Comunidade onde funciona o Projeto Reintegrar – REAJAN (Rede de articulação do Jangurussu e Ancuri uma organização que trabalha para a efetivação de políticas públicas de promoção e defesa dos direitos, priorizando populações de baixa renda para a transformação da sociedade.

As linhas de estratégia são os direitos da criança e adolescente, direitos da juventude e geração de trabalho. As Igrejas membros da Diaconia intervém na área de habitabilidade, economia solidária, educação e enfrentamento da violência. Os adolescentes apresentaram uma coreografia para o grupo.

Este dia havia um movimento chamado “Dia de Mobilização e Enfrentamento à Violência Contra Crianças, Adolescentes, Jovens e Mulheres” quando nos juntamos a eles com seus tambores e saímos em passeata pela rua com cartazes, banda e distribuição de panfletos para os motoristas e pedestres. Uma experiência nunca vivida por mim pelo menos!

Na terça-feira fomos ao Conjunto Palmeiras e nos encontramos com líderes comunitários e conhecemos o projeto “Banco Palmas”.

Criado pela Associação dos Moradores do Conjunto Palmeira, um lugar que era uma grande favela e durante 25 anos a associação organizou mutirões comunitários, urbanizou o bairro e tomou a iniciativa de criar um projeto que pudesse gerar trabalho e renda para os moradores, na própria comunidade.

Estas pessoas eram pescadores que viviam a beira mar, mas com a construção de prédios e hotéis, foram obrigados a deixarem suas casas no centro da cidade e mudarem para este bairro de periferia. Entenderam que eram pobres porque perdiam sua base monetária ou o dinheiro que tinham. Então esse projeto da moeda PALMAS foi a solução para que o dinheiro circulasse dentro da comunidade, ou seja todos gastariam apenas dentro da comunidade, fazendo com que a moeda circulasse e não saísse do bairro.

A moeda é indexada ao real (1 palma vale 1 real). A grande diferença do Banco Palmas para outras experiências de microcrédito é que ele reorganiza as economias do bairro, criando uma rede local de produtores e consumidores. Ou seja, estimula as pessoas a produzirem e consumirem na própria comunidade, criando um circuito financeiro gerador de desenvolvimento local. Inclusive fazem algumas ofertas estimulando às pessoas a utilizarem o Palmas.

O lugar é extremamente acolhedor, cheio de plantas e muito organizado, onde funcionam cursos como costura e a produção das roupas é apresentada e vendida em desfiles, o chamado “Palmas Fashion Week. Cursos para preparar as pessoas para trabalharem no Banco são feitos também.
Dali seguimos para uma casa da Associação de Mulheres em Movimento e Projeto A, onde mulheres são acolhidas, aprendem a fazer medicamentos caseiros como xarope e remédios para a gripe.

O Projeto A é reforço escolar para as crianças carentes na Associação das Mulheres em Movimento. Trabalham a Lei Maria da Penha, direitos, questões jurídicas, auto-estima, em parceria com o Centro de Referência da Mulher. Acolhem e protegem mulheres em situação de violência doméstica dando toda a assistência necessária. Fazem um trabalho de promoção da mulher ensinando uma função. Estas mulheres depois de muitos anos juntando dinheiro conseguiram comprar esta casa para a Associação de Mulheres.

Dali, seguimos para a Igreja do Bairro Palmeiras que tem como líder o pastor Tarcísio Lopes Monteiro e onde funciona o “Projeto Sombra e Água Fresca”.

As crianças foram apresentadas pela Janaína da equipe regional e coordenadora local do Projeto Sombra.O projeto desta Igreja só tem condições de atender 20 crianças apesar de o bairro ser muito populoso. O Projeto usa o espaço da Igreja de acordo com as instalações, desenvolvem atividades artísticas, lúdicas, de acordo com a região. As crianças têm de 6 a 10 anos de idade e são atendidas por voluntários. A idéia é criar um ou dois projetos como modelo para que pessoas sejam capacitadas e assim criarem outros.

Esse Projeto de Vila Palmeiras foi escolhido como modelo na região e tem o apoio da Igreja na Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos na Virginia. O trabalho da Igreja é de prevenção na esperança de que eles não caiam nas drogas. Foi muito interessante a curiosidade das crianças com respeito às americanas, só queriam ver e ouvi-las falar, uma graça! Tivemos a oportunidade de brincar e conversar com elas, inclusive uma delas disse que estava ali para aprender, brincar, fazer amigos e aprender a ser melhor.

No dia seguinte tivemos a oportunidade de sair em passeio pela praia do Cumbuco, um lugar muito lindo, onde desfrutamos da companhia umas das outras, encerrando assim o nosso convívio maravilhoso durante esta semana.

Uma experiência que com certeza ficará marcada na vida de todas nós.

Leila de Jesus Barbosa
Vice-presidente da Confederação de Mulheres do Brasil


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