Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Jdrogas

Há nessa sociedade um grande número de alcoólatras. Muitas crianças precisam trabalhar para ajudar seus pais. Nas ruas, elas caem facilmente no vício e perpetuam um ciclo de miséria e desagregação familiar. Você reconhece esse cenário? Pode ser a Inglaterra do século 18, que um jovem chamado John Wesley sonhou mudar. Ou sua própria cidade, neste Brasil de 2006, para a qual você, como herdeiro do sonho wesleyano, não pode fechar os olhos.

 

A Campanha Nacional de Evangelização deste ano tem como tema a prevenção ao uso indevido de drogas. Este é um problema que atinge a sociedade como um todo, e não poupa a igreja. Quando falamos em drogas, estamos nos referindo a qualquer substância, lícita ou ilícita, natural ou sintética, que provoca alterações no funcionamento do organismo. Tanto a pessoa que se viciou em cocaína quanto aquela que toma remédio para dormir ou para emagrecer sem receita médica está fazendo uso indevido de uma droga. 

 

De maneira geral, as drogas que mais preocupam a sociedade são as ilícitas. É compreensível: substâncias como cocaína, crack ou ecstasy têm um efeito devastador sobre o sistema nervoso, podem levar à morte por overdose e, por serem ilegais, estão intimamente ligadas com o crime organizado. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que o tráfico de drogas movimenta cerca de um trilhão de dólares no mundo todo. E esse dinheiro todo não fica nas mãos dos jovens traficantes que moram na periferia das grandes cidades. Organizado de forma empresarial, o tráfico de drogas é comandado por grandes capitalistas mundiais, o que o torna ainda mais difícil de ser combatido.

 

Contudo, as drogas que mais atraem os jovens brasileiros não são as ilícitas. Um levantamento nacional feita pela Secretaria Nacional Antidrogas, Senad, e pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Cebrid, entre estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino, revela que a droga mais consumida pelo adolescente é o álcool, seguido do tabaco e dos solventes. E, o que é mais preocupante: mais de 12% dos adolescentes entre 10 e 12 anos já usaram algum tipo de droga.

 

O jovem evangélico não está imune a este perigo, alerta o pastor Paulo Bessa, integrante do Comen, Conselho Municipal de Entorpecentes, de São Bernardo do Campo. Ele conta que, em uma das igrejas que pastoreou, certa vez descobriu que alguns jovens fumavam maconha nos ensaios do grupo de louvor. E esse não é um caso isolado. "É preciso admitir que o problema não é específico deste ou daquele grupo social e está difundido em todos os níveis de crença", atesta o psicólogo Manuel Morgado Rezende, professor da Universidade Metodista de São Paulo. Admitir a existência do problema é o primeiro passo para solucioná-lo.

 

O que uma pessoa busca nas drogas?

            Segundo Manuel Morgado, a busca de poder e prestígio no grupo social e até mesmo um desejo inconsciente de confrontar pais, escola e igreja podem ser motivações para o uso de drogas lícitas ou ilícitas, especialmente entre os mais jovens. Mas essa avaliação não esgota todo o problema, lembra o psicólogo. "Quem consome drogas busca alívio imediato para algum tipo de mal estar ou desconforto. Busca fora o que não  consegue suprir com os próprios recursos internos." Só que a droga muda apenas a percepção da realidade. Quando o efeito passa, a pessoa se dá conta de que a realidade, com a qual ela não sabe lidar, continua a mesma. E é por isso que é tão difícil largar o vício, mesmo quando não existe dependência física.

 

 "A grande questão é a falta de sentido para a vida -  é o descontrole na vida que gera o descontrole na droga - e é nesse aspecto que a Igreja pode atuar", diz Manuel. Segundo o psicólogo, é preciso aprender a conviver com a dor. "Dor, imperfeição e incompletude são matérias da vida", ele lembra. Neste sentido, o discurso teológico que nega o sofrimento, ensinando que a fé cura todos os males e resolve todos os problemas, não auxilia na formação de uma personalidade sadia. "A fé não é fuga, mas construção da realidade", destaca o psicólogo.

 

Prevenção começa na infância

            Família da fé, o papel da Igreja na formação do ser humano é fundamental, mas não substitui as funções materna e paterna. A prevenção às drogas começa em casa, e muito cedo. "Mães e pais podem ensinar aos filhos, desde bebês, que alguns alimentos são mais saudáveis do que outros; e, a partir do próprio exemplo, demonstrar que remédio só deve ser tomado com prescrição médica", exemplifica o psicólogo.  "A melhor proteção é o cuidado afetivo no dia-a-dia, o que significa atuação constante dos pais", afirma Manuel.

 

            Na escola, as atitudes preventivas dependem da promoção de um ambiente saudável e acolhedor, de forma a desenvolver a auto-estima dos alunos, que é um poderoso "antídoto" contra as drogas. Quanto à eficácia das palestras sobre drogas, existe pouca polêmica entre os especialistas: elas surtem pouco efeito na mudança de comportamento. Segundo cartilha de orientação do Senad, "muito mais eficaz do que trazer pessoas de fora da escola para falar com os alunos é promover discussões internas para definir regras e o papel dos diferentes agentes da comunidade escolar para tratar a questão do consumo de drogas entre seus alunos".

 

            No âmbito das universidades, o desafio é a comunicação com jovens que buscam afirmar sua independência diante da família, professores, sociedade. O Rev. Paulo Bessa, que coordena, na Universidade Metodista, o Grupo de Apoio e Valorização da Vida, Gravv, está respondendo a este desafio por meio de ações que promovem qualidade de vida, como atividades esportivas, culturais e artísticas. A Pastoral Universitária atua, conjuntamente, no cultivo da espiritualidade. Diante de um usuário de drogas, aconselha o pastor, é necessário "dosar a firmeza necessária com paciência e demonstração de amor".

  

A história do folheto que salvou que uma vida

 

 

O vendedor Hugo Fonseca Alonso, do Rio de Janeiro, criado na igreja, havia se tornado vítima das drogas. Viciado em cocaína, perdera mulher, filhos, emprego. Numa de suas subidas a um morro onde comprava drogas, foi abordado por um grupo de evangélicos que lhe entregou um folheto. Sob o efeito da cocaína, Hugo nem viu o que guardava no bolso. Mais tarde, ao tirar o papel do bolso, Hugo teve uma surpresa: o folheto evangelístico que tinha nas mãos trazia uma foto de um grupo de jovens, entre os quais estava o seu próprio filho. "Quando olhei o folheto, vi o retrato do meu filho. Parecia que ele falava comigo, que me dizia: Saí daí, pai", conta Hugo. No dia seguinte, Hugo pediu ajuda à igreja, que o encaminhou ao centro de recuperação SOS Vida, em Cabo Frio, RJ.  Hoje, ele dá palestras de prevenção às drogas no Ministério Público, escolas e empresas. Voltou para a esposa e reconstruiu a família. Seu filho, Júnior, é estudante de Teologia.

 

Tal como o SOS Vida, a Igreja Metodista mantém outros locais especializados no diagnóstico e recuperação de dependentes químicos. É bom lembrar que nem todo usuário de droga já se tornou um dependente, assim como nem todo dependente precisa de internação. Assim, diante de uma pessoa que consome drogas, é preciso identificar, primeiro, qual é o grau de comprometimento com a substância.  Outras organizações, como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos também podem colaborar na busca de uma solução que passa pelo envolvimento de toda a família. "A jornada pode ser longa e pressupõe várias etapas", diz o psicólogo Manuel Morgado Rezende. Ele destaca, também, que recaídas são comuns, e não devem se tornar motivo de desânimo. "As recaídas fazem parte do processo e têm que ser enfrentadas".


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