Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
jaci maraschin
O pastor Jaci Maraschin, professor da Faculdade de Teologia por muitos anos, faleceu na tarde desta segunda, dia 29. Seu corpo foi cremado no dia 30, às 11h, no Crematório de Vila Alpina, São Paulo. Não houve velório, conforme seu desejo expresso. Sua partida deixa lacunas, tristezas e saudades mas, deixa, sobretudo, a gratidão por sua existência e talento divinos e lembrança de uma pessoa que celebrava a vida.
O professor Luiz Carlos Ramos esteve no crematório de Vila Alpina e prestou ao colega e amigo uma homenagem, publicada no blog http://luizcarlosramos.net.
A contribuição de Jaci Maraschin para a Universidade e Igreja
Jaci Maraschin foi professor da Universidade Metodista de São Paulo por 35 anos. Pastor da Igreja Anglicana, filósofo, doutor em Ciências da Religião pela Universidade de Estrasburgo, França, o professor Jaci dedicou-se ao estudo das relações entre teologia e cultura. Valorizando a cultura e musicalidade brasileiras, compôs canções inesquecíveis, como Lavapés e A canção do cativeiro.
Recentemente, canções de Jaci Maraschin foram lançadas em CD com com o título "Dança Jubilosa, Canções de Jaci Maraschin", do grupo "Gente de Casa", produzido por Flávio Irala. As letras e partituras já foram publicadas no livro, O novo canto da terra.
No ano de 2006, quando o professor Jaci aposentava-se do magistério, o professor José Marques de Melo dedicou a ele a revista Comunicação e Sociedade nº 46, com o tema Opinião Pública na Idade Mídia. No editorial publicado na ocasião, ele fala da grande contribuição dada pelo professor Jaci não apenas à teologia, mas à comunicação social.
Leia abaixo:
Editorial da revista Comunicação e Sociedade dedicado ao professor Jaci
No momento em que o prof. dr. Jaci Maraschin, após 35 anos de serviços prestados à instituição, decide aposentar-se do quadro acadêmico da Universidade Metodista de São Paulo, nada mais justo que lhe dedicar esta edição da revista Comunicação & Sociedade.
A trajetória intelectual do professor Maraschin percorre o mesmo itinerário histórico dessa universidade. Sua marca tem sido o magistério confessional, inspirador do liberalismo no campo das idéias, do pluralismo no terreno científico e do ecumenismo no âmbito religioso.
Pertencendo à comunidade eclesial anglicana, ele integrou o corpo acadêmico que, em 1971, foi recrutado para fundar a Faculdade de Ciências Humanas e Letras, célula máter da Federação de Escolas Superiores do ABC Paulista. Essa equipe, constituída por docentes vinculados a distintas denominações evangélicas, deu origem à universidade que a Igreja Metodista mantém na região metropolitana de São Paulo, com sede em Rudge Ramos, bairro da cidade industrial de São Bernardo do Campo.
Apesar da predileção pelos estudos filosóficos, particularmente pela estética musical, Jaci Maraschin acumulou vasta experiência como editor de publicações eclesiais ou culturais, migrando para o campo da comunicação social, quando se estabeleceu na estrutura acadêmica brasileira. Tanto assim que se integrou ao quadro docente da Faculdade de Comunicação Social da Metodista quando ela começou a funcionar, em 1972, assumindo sua direção em 1975.
Foi natural que, em 1978, ele se incor porasse aos professores doutores responsáveis pela implantação do nosso Curso de Mestrado em Comunicação Social.
Esse arrojado projeto acadêmico aspirava ao lugar privilegiado na vanguarda dos estudos comunicacionais brasileiros, como já vinha ocorrendo em relação aos cursos de graduação, organizados sob a direção do prof. Reinaldo Brose e implantados sob a liderança carismática do prof. dr. B. P. Bittencourt.
Para dar visibilidade ao programa, demonstrando ao mesmo tempo a excelência da produção intelectual do nosso corpo docente, propus ao reitor Bittencourt, na condição de coordenador do Centro de Pós-Graduação, a publicação da revista Comunicação & Sociedade. Contando com seu apoio incondicional, convidei o colega Jaci Maraschin a assumir a função de editor, capitalizando o conhecimento empírico e otimizando o potencial teórico que detinha nessa área.
Ele aceitou imediatamente o desafio, arregaçando as mangas, com o respaldo de um corpo editorial interdisciplinar e uma comissão mista de redação, composta por docentes e representantes discentes. Tendo como parceira a emer gente editora Cortez & Moraes, Comunicação & Sociedade tornou-se a primeira revista científica brasileira publicada por um programa de pós-graduação em comunicação social.
O novo periódico teve papel determinante no reconhecimento institucional da Metodista, tanto no país quanto no exterior. Foi também responsável pela elevação do nosso programa de Mestrado em Comunicação Social ao primeiro lugar no ranking dos cursos de pós-graduação da área, de acordo com pesquisa feita anualmente pela Editora Abril e corroborada pela avaliação oficial da Capes. Essa posição manteve-se durante o primeiro qüinqüênio de 1980, correspondendo justamente à fase em que esta revista conservou a periodicidade semestral.
Jaci Maraschin foi, sem dúvida, um dos artífices dessa conquista, zelando pela boa qualidade editorial e pela ampla circulação do periódico em todo o país. Sua permanência como editor deu-se no quadriênio 1979-1982, vindo a sucedê-lo, nessa função, o jovem scholar Carlos Eduardo Lins da Silva (1983-1984). Posteriormente, seus editores foram Wilson Bueno (1985-1993), Onésimo Cardoso (1994-1995), Sandra Reimão (1996-1999) e Adolpho Queiroz (desde o ano 2000).
Comunicação& Sociedade perdeu a colaboração do professor Maraschin em uma situação-limite, peculiar à nossa vida acadêmica. Tendo sido membro fundador do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social, em 1978, ele não hesitou em colaborar também com o nascente Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Metodista. Contudo, a maior afinidade com o campo de estudos religiosos acabou pesando na decisão de optar por um dos cursos de pós-graduação em que atuava. Os requisitos da Capes para avaliação dos cursos credenciados incluíam a identidade acadêmica dos seus pesquisadores, resultado da inserção orgânica em uma determinada área do conhecimento. A interdisciplinaridade passava a ser entendida como forma de cooperação interprogramas e não como resultado do hibridismo cognitivo ou da polivalência disciplinar dos seus docentes.
A presença de Jaci Maraschin foi emblemática nas oito primeiras edições da nossa revista. O texto de apresentação que escreveu para a edição n. 1 traduz exatamente nossa utopia editorial.
"Esta revista não deverá ser apenas um retrato do que somos e temos. O que somos e temos engendra, naturalmente, o que poderemos ser e ter. Nossa intencionalidade, portanto, é o futuro. Não desejamos apenas descrever e constatar, mas, principalmente, propor e interferir."
Reafirmar a vigência dessa plataforma constitui a mais expressiva homenagem que lhe podemos prestar, no momento em que se aparta da rotina universitária. Como farol para as novas gerações, permanece a meta que se propôs a equipe fundadora de Comunicação & Sociedade, no sentido de formar com seus leitores uma "nova comunidade de pensamento neste país tão carente de transformação".
Àqueles que nos sucederão nesta fascinante empreitada de semear inovações, disseminar conhecimentos e debater idéias, transferimos o legado tão bem dimensionado nas palavras proféticas de Jaci Maraschin:
"Acreditamos que a comunicação social precisa estar a serviço de todos e que os meios de comunicação, que nem este, devem, desde agora, oferecer-se a esse fim".
São Bernardo do Campo, 19 de junho de 2006
Prof. dr. José Marques de Melo
Diretor-responsável de Comunicação & Sociedade Revista semestral do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social - Faculdade de Comunicação Multimídia - Universidade Metodista de São Paulo