Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Igreja em Aricanduva Projeto de Alfabetização.

   Projeto de Alfabetização na Igreja Metodista em Aricanduva tem mudado a vida de várias pessoas na Zona Leste de São Paulo.

Neste ano, o Dia Internacional de Alfabetização - 8 de setembro - cai num sábado. A Igreja Metodista em Aricanduva aproveitará a data para fazer um festivo Culto de Ação de Graças. Essa pequena igreja da periferia de São Paulo tem bons motivos para comemorar a data com satisfação. Em seu salão social ela abriga um projeto de alfabetização que está ajudando a escrever uma nova história de vida para 35 pessoas entre 15 e 66 anos.

O projeto foi idealizado pelo pastor Jair Alves, que atualmente está pastoreando em Itaim Bibi, e pela professora Maria das Graças Pereira da Silva, mas começou efetivamente no ano passado, com o apoio do Rev.Sinclair Corrêa Soares, educador, pastor aposentado e membro da igreja em Aricanduva. Dentre os vários trabalhos sociais que a igreja poderia realizar em seu bairro, os irmãos e irmãs de Aricanduva perceberam uma realidade surpreendente: numa das maiores capitais do país ainda é grande o número de analfabetismo e evasão escolar. "Ao realizar este projeto, a Igreja Metodista está mais uma vez cumprindo o seu papel na sociedade. Isso é missão. Ao incluir as pessoas no mundo da escrita, você também abre as portas para a evangelização", afirma o pastor Jair.

Para realizar esta missão, a Igreja conta com duas professoras; uma voluntária e outra cadastrada na Secretaria de Educação de São Paulo, para a qual o governo do estado destina, mensalmente, um auxílio de duzentos reais. O projeto funciona de segunda a quinta-feira com início das aulas às 19 horas e término às 21 horas.             

 

 

Empenho voluntário

Neili Isabel Germano é formada em Pedagogia e Letras. Católica, ela mora próximo à Igreja Metodista em Aricanduva e trabalha como professora voluntária no projeto.

 

 

Como você se engajou nesse projeto?

Vi a faixa na frente da igreja e me cadastrei como professora voluntária. Eu trabalhava num projeto semelhante na Igreja Católica São Pedro, mas aqui é mais perto de casa. Junto comigo, vieram quatro alunos de lá.

Como é sua rotina de trabalho?

Saio de casa todo dia às seis e meia e trabalho até às cinco e meia da tarde antes de vir pra cá, de metrô. Dou aulas de segunda à quinta e nas noites de sexta faço apoio pedagógico aos adultos que estão em dificuldades. Aos sábados, leciono duas disciplinas que não estão na grade curricular: inglês e recreação para as crianças.

Mas não é muito cansativa essa vida?

Eu me dedico de corpo e alma ao projeto! Mas não é muito fácil... Tenho apenas uma verba de noventa reais para ajudar no transporte, e ainda assim, porque a professora Graça, que é cadastrada no Estado, divide sua ajuda de custo comigo. Também sentimos falta de material didático e de mais pessoas para ajudar com as crianças. Às vezes, as mães não vêm porque não tem onde deixar as crianças. Quem nos ajuda é a igreja.

Sendo voluntária, o que você "ganha" trabalhando neste projeto?

O retorno é saber que eles estão aprendendo. Os alunos aprovados pelo projeto podem se matricular em qualquer escola da prefeitura ou do estado. Cinco de nossos alunos já estão matriculados na quinta série. Eles vêm realmente querendo aprender.

E você, o que tem aprendido com os alunos?

A gente aprende com eles a superar os próprios limites. Vendo como eles se esforçam para enfrentar as próprias dificuldades, a gente também se entrega inteiramente. Eu só fico triste mesmo quando percebo que meus alunos não ficaram satisfeitos com meu rendimento em sala de aula. E me esforço para melhorar.

Como vê a participação da Igreja Metodista neste projeto?

Eu "tiro o chapéu" para os metodistas que abraçaram essa causa, oferecendo espaço e apoio social aqueles que precisam.

 

    Vencendo distâncias

Maria das Graças Pereira da Silva é professora cadastrada pela Secretaria Estadual da Educação. Ela é evangélica, da Igreja Universal do Reino de Deus e foi pioneira neste projeto.

 

 

Como foi o seu engajamento no projeto?

Eu trabalhava no Projeto Caminhar com o pastor Jair, que me convidou a participar deste trabalho.

Quais as maiores dificuldades deste trabalho?

Pra mim é a distância. Eu moro no Itaim Paulista (bairro da zona leste de São Paulo). A aula termina às 9 da noite e só vou conseguir chegar a casa, às 11. É cansativo: tenho 30 crianças de manhã, 30 à tarde e 20 estudantes do projeto à noite. Além do cansaço, a falta de recursos para o trabalho é outro problema.

Quem é mais fácil de alfabetizar?

Ambos são bons. As crianças têm menos preocupações, é fácil alfabetizar. Já os adultos são mais esforçados, querem aprender para ler, escrever...

E para você, qual é o maior aprendizado?

É a integração com as pessoas, o carisma de alunos e alunas que há mais de 40 anos pararam de estudar e hoje conseguiram retornar aos estudos. Alguns já estão na 5ª série.

Aprendo muito com eles, eles me transmitem perseverança.

 

    Um novo começo

Magali Pereira da Silva tem 66 anos. Descendente de italianos, os pais a educaram para casar cedo e se dedicar ao lar; ela aprendeu a cozinhar, costurar, fazer crochê...

Mas Magali acabou não se casando e se arrependeu de ter deixado os estudos de lado.  "Agora estou me preparando para completar o ginásio. Estou gostando principalmente das aulas de inglês. Já sei contar de um a dez!", anima-se. Magali também afirma estar gostando de estudar dentro de uma Igreja Metodista, que ela não conhecia. "Aqui no projeto estou conhecendo pessoas novas".

   

Ganho de auto-estima

Raquel Antunes de Oliveira Brito, 38 anos, passou um dia em frente à Igreja e viu a faixa anunciando o projeto. Era a oportunidade que ela esperava. "Só estudei até os dez anos de idade porque perdi minha mãe cedo e tive que ajudar meu pai". Agora, Raquel está cursando a 3ª série do ensino fundamental "Estudando a gente ganha auto-estima", afirma.

José Geraldo Magalhães Júnior



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