Na véspera do Fórum Social Mundial, que aconteceu de 20 a 25 de janeiro em Nairóbi, o arcebispo sulafricano Desmond Tutu, convocou o povo do continente a fazer ouvir sua voz com palavras dignas de registro, pois de valor permanente: "A África é um gigante que tem que despertar. A África tem que mostrar que sua criação não foi um erro de Deus". O objetivo do discurso era levar os africanos a terem mais autoconfiança e a defenderem eles mesmos seus interesses. Na ocasião, Tutu falava em nome dos líderes religiosos daqueles países. Além de líderes de sindicatos, associações camponesas, organizações de defesa dos direitos humanos e grupos de mulheres, a sétima sessão do Fórum Social Mundial contou também com a participação de religiosos para chamar a atenção do mundo sobre os grandes problemas da África. Segundo os organizadores, o método não foi apenas o de denunciar problemas, mas principalmente o de "mostrar como eles próprios estão tentando solucionar as questões mais prementes". Dentre os religiosos, a ICCO, organização intereclesiástica para cooperação internacional, esteve presente à reunião. Segundo o Conselho Mundial de Igrejas, a instituição religiosa "tem um grande poder moral na África. O papel da religião e das igrejas é muito importante e sua missão é imprescindível na luta social e política por mudanças". Reconhecendo que "o neoliberalismo não trouxe nenhuma solução para o problema da pobreza, que o HIV/AIDS não é apenas um problema de saúde (mas que tem principalmente a ver com os valores e costumes culturais) e que políticos e governantes têm que se empenhar muito mais na defesa dos pobres e dos fracos na sociedade", as lideranças religiosas africanas buscaram usar a reunião do Fórum Social Mundial "para chamar a atenção para os grandes problemas do mundo de hoje". No discurso de Desmond Tutu, ele usou a expressão "Ubuntu", que significa "eu existo porque você existe, e você existe porque eu existo". Esta expressão de solidariedade está profundamente arraigada na maioria das sociedades africanas. Para o arcebispo, os direitos humanos são uma obrigação da sociedade mas também dos indivíduos. O vencedor do Prêmio Nobel atribuiu ao Fórum Social Mundial um papel importante no combate à exploração econômica, à pobreza, à expansão do HIV/AIDS e às guerras. O Fórum Social Mundial foi organizado pela primeira vez, em 2001, no Brasil, como alternativa ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça e sua intenção é apontar rumos para a realização de uma ordem mundial mais justa. O FSM reúne os que criticam as tendências atuais da globalização e propõem alternativas políticas e econômicas. Na Agência Carta Maior, a reportagem "Igrejas assumem o protagonismo da marcha de abertura do 7º FSM" revela a importância da participação de cristãos no evento: "A marcha de abertura deste 7ª FSM mostrou o poder de mobilização popular das igrejas cristãs de várias orientações que levaram seus fiéis para a caminhada", informaram. Um destaque da matéria é o que disse o franciscano e professor de Teologia ao repórter da Carta Maior Marcel Gomes: "A igreja está recuperando seu lugar e seu papel, que é o de estar ao lado do povo. Nosso papel não é o de ficar fazendo belos cultos, mas, como disse Jesus, o de lutar para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Se a igreja ficar ao lado dos pobres, recupera um papel que perdeu quando foi cooptada pelo Império Romano, passando a ficar ao lado dos governantes".
Fonte: Agência Soma (www.agenciasoma.org.br) |