Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Fórum Social em Porto Alegre
A humanidade está usando de "maneira bárbara" as novas tecnologias. "Sequer conseguimos democratizar uma tecnologia do século XVI trazida por Gutenberg", afirmou o jornalista Beto Almeida, da TV Senado, do Brasil, e membro da Junta Diretiva da Nova Televisão do Sul (Telesur), no painel sobre Processos de Comunicação e Cultura Solidária, tema do Mutirão da Comunicação, aberto ontem à noite
Edelberto Behs
Porto Alegre, quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
A democratização da comunicação é o principal desafio na área apontada pelos painelistas Ismael González González, coordenador da ALBA Cultural e ex-vice-ministro de Cultura de Cuba, Fernando Checa Montúfar, diretor do Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para a América Latina (CIESPAL) e Carlos Augusto dos Santos, ministro de Comunicação do Paraguai.
Da forma como os meios de comunicação de massa estão organizados eles não servem à solidariedade, pois praticam um "jornalismo de desintegração cultural, trazendo valores do ?superman? quando somos Saci Pererê (personagem da mitologia brasileira)", avaliou Beto Almeida.
O jornalista da TV Senado questionou os critérios de noticiabilidade aplicados pela imprensa. Lembrou que dois geólogos, um cubano e outro estadunidense, alertaram com antecedência a possibilidade de terremoto
Lembrou, ainda, que o tsunami ocorrido no Mar Índico e parte do Pacífico foi detectado com oito horas de antecedência em sismógrafos dos Estados Unidos, mas nenhum esforço comunicacional foi empreendido para evacuar a população da área que seria atingida, o que resultou numa conseqüência bárbara, com milhares de mortos e feridos.
É preciso ousar novos conceitos de um jornalismo de integração, de solidariedade e de responsabilidade social, e desenvolver conceitos teóricos da área, desafiou Beto Almeida Montúfar disse que a cidadania comunicativa é um processo de múltiplas vozes, com espaços para a diversidade. González frisou que o conceito, muito em voga na igreja, de que é preciso dar voz aos sem voz carrega uma carga de periculosidade, uma vez que todas as pessoas têm voz, ela só não é amplificada.
"Temos que ser facilitadores da palavra", definiu, enquanto seu colega equatoriano no painel defendia uma "comunicação sem ventríloquos". Beto Almeida propôs a realização de uma Cúpula de Presidentes dos Países da América Latina e do Caribe para discutir a comunicação, uma vez que são eles os maiores alvos da crítica da mídia quando começam a quebrar paradigmas na área social, econômica e política que desagrada as elites.
O integrante da Telesur não acredita na possibilidade de uma comunicação democrática no contexto de uma economia cada vez mais cartelizada.
Mídia é espaço de educação do século XXI, diz arcebispo
Os meios de comunicação de massa são, hoje, o pátio dos educandos, disse o arcebispo de Porto Alegre, dom Dadeus Grings, na abertura do Mutirão de Comunicação da América Latina e do Caribe, ocorrida ontem à noite, no Centro de Conferências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS),
Edelberto Behs
Porto Alegre, quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Grings reportou-se aos educadores salesianos do passado, que viam no pátio das escolas, durante os intervalos entre uma aula e outra, um excelente espaço de socialização e educação. O arcebispo preside o Mutirão, evento que reúne na capital gaúcha, até domingo 1,2 mil participantes, de 37 países da América Latina e do Caribe.
O vice-reitor da (PUC-RS), professor Evilázio Teixeira, destacou que a comunicação é a "caixa de Pandora" do século XXI. Conseguir comunicar é a grande questão da época, disse, lembrando que dar visibilidade ao mundo não basta para deixá-lo mais compreensível aos cidadãos.
Convidado à abertura do evento, o senador Pedro Simon, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB-RS), ligado à Igreja Católica, fez uma avaliação negativa da atuação eclesial na área. "Estamos abaixo da crítica em termos de comunicação", afirmou, na expectativa de que o Mutirão de Porto Alegre aponte rumos para uma presença mais sólida da Igreja Católica na mídia, principalmente na televisão.
Na palestra de abertura do encontro, o presidente do Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, dom Cláudio Maria Celli, conclamou comunicadores católicos a realizarem uma auto-avaliação, um "exame de consciência para ver se vivemos os valores do Reino de Deus que queremos impulsionar no mundo".
É impossível ignorar o distanciamento entre ricos e pobres, inclusive nos países majoritariamente católicos, porque a miséria é desumanizadora, apontou. Deus está ausente onde os valores da solidariedade e da justiça não aparecem. Comunicadores devem debater como podem contribuir, com a sua atividade, para uma maior equidade no mundo, desafiou Celli.