Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
Filme Desejo de Reparação
Choro por qualquer coisa, mas o filme "Atonement" (Desejo e Reparação) mexeu comigo um pouco mais que o normal. Saí do cinema cabisbaixo, enxugando as lágrimas com as costas da mão para não escancarar meus sentimentos.
Sua sinopse básica, que copiei da internet, é a seguinte: Aos 13 anos, a jovem Briony (Saoirse Ronan/ Romola Garai) já demonstra ter um grande talento como escritora, principalmente por sua intensa criatividade. Um dia, ela pensa ter visto sua irmã mais velha, Cecília (Keira Knightley), sendo assediada por Robbie (James McAvoy), o filho da governanta de sua casa. Ela fica em silêncio até o dia em que uma prima é estuprada. Levada por sua imaginação fértil, Briony tem certeza de que foi o jovem Robbie e o acusa. O rapaz é preso, mas Cecília está apaixonada por Robbie e é a única que não acredita na acusação de Briony.
Pois bem. "Atonement" trata principalmente com o sentimento de culpa. Aliás, atonement é uma palavra inglesa bem comum na teologia, traduzida por "expiação". E expiação, segundo o dicionário, significa cumprimento de pena. Nas antigas religiões, atonement era uma cerimônia que procurava aplacar a cólera divina com o intuito de fazer alguma reparação.
No filme, Briony destrói com um amor que mal teve chance de concretizar-se. Dona de uma paixão infantil que se expressou adoecidamente como auto-retidão, ela alterou o destino tanto de sua irmã como de Robbie, injustamente acusado por um crime que não cometeu.
Realmente. O estrago de uma difamação peçonhenta foge do controle de qualquer um e acaba com as pessoas - muitas vezes de forma irreversível. Pior, deixa um rastro de culpa tão medonho que não há cura.
Uma antiga parábola serve bem para ilustrar o caso. Conta-se que um homem agonizava, já perto de morrer. Quando determinada senhora soube da iminência de sua partida, sentiu remorso por ter participado de conspirações maldosas para destruí-lo. Com pressa de pedir perdão, ainda encontrou o homem lúcido.
A mulher se ajoelhou ao lado da cama e implorou por misericórdia pelas suspeitas e difamação. O velho disse que perdoava, mas precisava ensinar-lhe mais alguma coisa. Pediu que a senhora rasgasse o travesseiro e espalhasse as penas no vento da janela. Depois, convidou-a para voltar no dia seguinte e recolher todas as penas soltas.
"Isso será impossível", respondeu. O homem concluiu: "Amiga, eu posso perdoar-lhe, mas o mal que você me fez é como uma daquelas penas que a brisa levou; nem eu nem você sabemos por onde elas voam. Assim, foi a minha vida. Os diferentes desdobramentos da minha história se você não tivesse sido tão irresponsável, nunca saberemos".
Em "Atonement", somos convocados a ter cuidado com nossos juízos e intolerâncias. As vidas das pessoas dão guinadas, vão por caminhos impensados como resultado das decisões e escolhas que os outros fazem. Por isso, prefiramos o próximo em honra; não suspeitemos mal; levemos as cargas uns dos outros; perdoemos. Para o bem deles, e nosso. Soli Deo Gloria.
Ricardo Gondim
pastor da Igreja Assembléia de Deus em Betesda