Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

favelas e igreja

Religião é avaliada em pesquisa como espaço de participação e transformação


Fonte: Agência Soma (www.agenciasoma.org.br)



  "A construção de identidades coletivas e o sentimento de pertencimento dos indivíduos não são possíveis sem uma base territorial". É ali que se dão os "processos de socialização, canais de comunicação e relações de proximidade necessárias para o estabelecimento de vínculos sociais e processos participativos capazes de propiciar a construção e o exercício da cidadania". Pensando nisso, o estudo "Caminhada de crianças, adolescentes e jovens na rede do tráfico de drogas no varejo do Rio de Janeiro, 2004-2006", do Observatório das Favelas, analisa a forma com que os jovens se relacionam com a cidade e afirma que a religião é um forma de incrementar o senso de participação e transformação na comunidade.
  
   Segundo os analistas da pesquisa, a relação dos jovens enredados no tráfico com o espaço público é um fenômeno "que tem sido caracterizado como processo de particularização da existência". Tal processo, detalham os estudiosos, "está relacionado ao estreitamento das referências espaciais dos jovens, o que geralmente vem acompanhado pela redução das referências temporais". Para os pesquisadores, "a particularização e a presentificação da existência são processos que têm como pano de fundo a primazia da lógica do consumo e limitam seriamente as possibilidades de humanização plena da juventude brasileira".
  
   Em outras palavras, a comunidade é fechada acaba se tornando a única referência, uma espécie de "mundo" daquele jovem, reduzindo drasticamente seu sentimento de pertencer à cidade como um todo. No relatório, é informado que "os limites da relação com a cidade e a particularização espacial aparecem de forma contundente nas respostas dos entrevistados sobre suas alternativas de lazer". O baile na comunidade é a diversão predileta de 56% dos entrevistados. "As opções de lazer que exigem o deslocamento da comunidade, tais como cinema, shows e praia aparecem em segundo plano, o que se deve muitas vezes ao medo de transitar pelas fronteiras estabelecidas pelas facções", afirmam.
  
   Nesse contexto, a religião aparece na pesquisa como "um espaço potencial de participação e/ou transformação" para vários entrevistados. Porém, os analistas destacam "algumas alterações significativas na configuração das religiões presentes nos espaços populares". No relatório, é comentado que "na década de 70 e meados da década de 80, havia uma forte representação das religiões afro-brasileiras nas comunidades populares. Atualmente, este quadro sofreu alterações. Na presente pesquisa, apenas um jovem declarou ter identificação com uma religião de matriz africana. O catolicismo ainda aparece como a principal resposta dos que declararam ter alguma religião (39,13%). O que surge como novidade são as denominações evangélicas, destacadas por 17% dos entrevistados, refletindo a crescente inserção das religiões evangélicas em áreas populares a partir da década de 90".
  
   Leia também:
  
  
Estudo orienta resgate de crianças e jovens do tráfico e auxilia na prevenção.
  
  
Família nas favelas cariocas é um dos temas da pesquisa sobre crianças e jovens no tráfico.


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