Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 31/10/2012
Expositor Cristão avalia crescimento a Igreja Metodista
O crescimento numérico acompanha a história da igreja cristã. No primeiro século, nem a perseguição conseguiu evitar a expansão por toda a Ásia Menor, norte da África e Europa. Os cristãos foram conhecidos como os que têm transformado o mundo (Atos 17.6). Expansão natural de uma comunidade fervorosa e evangelizadora.
“E divulgava-se a palavra de Deus, de sorte que se multiplicava muito o número dos discípulos em Jerusalém e muitos sacerdotes obedeciam à fé”, “todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”, conta o livro de Atos dos Apóstolos.
“Qualidade gera quantidade. É importante termos esta compreensão bíblica. Com o poder de Deus somos chamados a expandir e fazer novos discípulos/as”, argumenta o bispo Carlos Alberto Tavares (Rema). Esta concepção de crescimento parece indiscutível, mas não há consenso sobre o assunto.
Algumas correntes defendem a necessidade de avanço, enquanto outras argumentam que a qualidade é mais importante e denunciam a obsessão por números. “Há algum tempo eu não creio mais no discurso de que qualidade gera quantidade. Desejo mais Deus do que o crescimento. É Ele quem faz a obra”, opina o rev. Jânio Barbosa (3ª Região).
Em entrevista ao Expositor Cristão, o professor da Faculdade de Teologia, rev. Rui Josgrilberg, fez uma declaração que acendeu a luz do debate. Ele comentou que há dentro da Igreja Metodista uma aspiração de massa. Só que, segundo ele, a Igreja não tem estrutura para tal crescimento numérico.
“Por mais que se assimilem outras influências, a Igreja Metodista tem que se dar conta que tem outra vocação: de ser mais sal. Pela complexa organização, pela formação que escolhemos dar aos pastores, não temos o perfil de igreja de massa. A Igreja Metodista tem que crescer numa outra direção”, afirma Josgrilberg.
O que a Bíblia diz sobre o assunto? Um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento declara que Deus entregou o único Filho, Jesus, para salvar a humanidade (João 3.16). As Escrituras também afirmam que Deus deseja que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3.9).
“Diante destas verdades, creio que a igreja deve sim se importar com quantidade, sem deixar de lado a qualidade. Nossa missão é alcançar as pessoas! Deus amou o mundo!”, opina o rev. João Coimbra (Rema).
Mas, para o bispo emérito da Igreja Metodista, Adriel de Souza Maia, é preciso cautela. Ele argumenta que para alcançar números e qualidade, maturidade é fundamental. “Quando o crescimento quantitativo isola o crescimento qualitativo, a igreja corre o risco de tornar-se um peso morto na comunidade, sem profundidade de sua fé”, complementa.
O teólogo Hernandes Dias Lopes ao trabalhar a questão do crescimento de igrejas, argumenta que é preciso evitar dois extremos. O primeiro deles é a numerolatria: a idolatria dos números - crescimento como um fim em si mesmo, com muita adesão e pouca conversão, muito ajuntamento e pouco arrependimento. O segundo é a numerofobia: o medo dos números. A desculpa infundada da qualidade sem quantidade.
Missão - Dentro do debate sobre crescimento de igrejas, está a temática da soberania divina. Deus poderia trazer todos os homens e mulheres para Seu reino como e quando quisesse. “Mas por razões que nenhum teólogo pode compreender completamente, Ele escolheu usar seres humanos como intermediários. Nós somos alertados que a fé vem pelo ouvir e o ouvir a Palavra de Deus. Mas, como ouvirão se não há quem pregue (Romanos 10.13-17)?”, questiona o teólogo norte-americano Peter Wagner.
“A igreja existe porque um Deus altamente missionário enviou seu próprio Filho para dar vida abundante à humanidade. Perdemos o foco quando não possuímos preocupação missionária. A missão é a razão pela qual a igreja existe”, afirma o rev. Wesley do Nascimento (4ª Região).
As últimas palavras de Jesus na Terra comissionam os cristãos à tarefa prioritária de evangelização do mundo. “Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” Mateus 28.19-20.
No processo onde Deus comissiona o ser humano para a missão, o princípio da semeadura é esclarecedor. Em I Coríntios 3.6 o apóstolo Paulo diz: “Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus”. Este texto dá base para a interpretação de que os resultados são espirituais, mas dependem da ação dos homens e mulheres de Deus.
O rev. Rogério da Silva Oliveira, pastor de uma das maiores igrejas do metodismo brasileiro, em Macaé-RJ, ensina que plantar significa trabalho. “Exige suor, capacitação, educação, preparo e discipulado. A igreja precisa traçar planos e estratégias para gerar o crescimento de Deus. Apenas abrir uma porta e fazer cultos não dará resultados”, ressalta.
“Deus dá o crescimento agrícola quando seres humanos trabalham duro o bastante para criar condições de produção. De certa forma, misterioso como parece ser, Deus age de maneira semelhante com a evangelização do mundo. Isso não é glorificar indevidamente os indivíduos que criam as condições, porque eles fazem como servos e instrumentos de Deus para a tarefa”, complementa Peter Wagner.
Contexto - O crescimento de Deus gera discípulos e discípulas comprometidos/as com a missão. Trata-se de um conceito diferente do vivenciado por denominações no Brasil. O mundo evangélico está em expansão. De acordo com dados do IBGE, o percentual de crescimento dos evangélicos saltou de 15,4% em 2000 para 22,2% em 2010. É um cenário marcado por forte competitividade entre os grupos religiosos.
“Evangélicos ficam expostos em situações de competição por hegemonia neste campo tão plural. Ficam evidentes as disputas entre grupos e lideranças, o que ultrapassa o campo da religião e adentra a concorrência mercadológica”, analisa a professora da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista Magali do Nascimento Cunha.
Para a pastora Débora Blunck Silveira (4ª Região), o crescimento de muitas igrejas está concentrado no trânsito religioso. “É um trabalho de proselitismo. Líderes tentam convencer que estão certos e tiram muitos/as de outras igrejas. Precisamos de uma expansão comprometida com os que não conhecem a Jesus”.
Este é o grande diferencial da Igreja Metodista, na opinião do Rev. Deonisio Agnelo dos Santos (Rema). Ele declara que os metodistas não devem se deixar influenciar por correntes teológicas que visam números. “Quando tentamos crescer a qualquer custo, perdemos nossa identidade. Levando o evangelho integral, teremos cristãos melhores e a qualidade trará a quantidade”, reforça.
Problemas - Se o crescimento é resultado do comprometimento da igreja com Deus e com o próximo, porque muitas comunidades sérias não crescem? No caso da Igreja Metodista, explicações não faltam. “Colocaram em nossas mentes que para uma igreja dar certo precisa ter um/a pastor/a por tempo integral, mesmo que esta igreja só tenha 10 membros. É por isto que temos no Brasil várias igrejas pequenas que não conseguem se manter e ter um sustento próprio”, afirma o Rev. Orlando Carrafa dos Santos (4ª Região).
O bispo honorário Nelson Campos Leite aponta outro problema. Ele argumenta que muitas igrejas locais não avançam na missão, pois não têm a evangelização como prioridade. “Comunidades estão mais interessadas em patrimônio e não investem como deveriam no avanço missionário. Quando este for o principal foco, certamente iremos crescer”.
De acordo com o último levantamento oficial (2010), a Igreja Metodista no Brasil tem quase 215 mil membros. O Censo 2010 do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística apurou que cerca de 340 mil pessoas frequentam os templos metodistas.
“Com ecumenismo ou sem ecumenismo o metodismo brasileiro teima em não crescer em número, não seguindo o padrão experimentado por outras igrejas evangélicas, até mesmo pelos presbiterianos e batistas”, analisa o bispo Emérito Paulo Ayres.
Para o Colégio dos bispos e bispa da Igreja Metodista, os 20,8% de crescimento no número de membros nos últimos cinco anos é satisfatório. “Centenas de novas congregações, pontos e campos missionários foram plantados pelo país, dezenas de igrejas alcançaram a autonomia. Novos municípios foram alcançados e milhares de pessoas decidiram se unir ao povo metodista para servir o Reino de Deus numa perspectiva wesleyana”, afirma o relatório do Colégio Episcopal para o 19º Concílio Geral.
Diagnóstico - A Igreja Metodista tem 1038 igrejas, 373 congregações e 400 pontos missionários no país. Após 1982, com a aprovação do Plano para Vida e Missão, os metodistas foram desafiados a sair das quatro paredes e a crescer. “Antes de ser organização, instituição ou grupo social, o Metodismo é um corpo, um organismo vivo, uma comunidade de Cristo. Sua vivência deve ser expressa como uma comunidade de fé, adoração, crescimento, testemunho, amor, apoio e serviço”, afirma o documento que completou 30 anos.
“O Plano recuperou elementos básicos da fé e tradição metodistas, como experiência pessoal do cristão com Jesus Cristo como seu Salvador, ênfase na obra e poder do Espírito Santo, disciplina cristã e a santidade, paixão evangelística e comprometimento por uma ordem social mais justa”, pondera o relatório dos bispos/a.
Em resposta às ênfases do Plano para a Vida e Missão, o Concílio Geral de 1987 aprovou uma mudança significativa na configuração da Igreja Metodista. A organização baseada em cargos foi substituída por uma estrutura considerada mais missionária: Dons e Ministérios.
Quatro anos depois, no Concílio Geral de 1991, a Igreja Metodista reforçou a ênfase missionária, ao aprovar o tema: “Igreja Metodista: Uma comunidade Missionária a Serviço do Povo”, que recebeu o acréscimo de uma frase de John Wesley: “espalhando a santidade bíblica por toda a terra”.
No mesmo ano, um documento publicado pelo Colégio Episcopal afirmava: “As experiências mais notáveis de crescimento no metodismo mundial, se dão exatamente naquelas igrejas onde a herança espiritual wesleyana está sendo recuperada e atualizada para responder aos novos desafios missionários”.
Discipulado - O crescimento dos metodistas está vinculado também com a difusão do discipulado. Nos últimos cinco anos, muitos/as pastores/as metodistas pelo Brasil desenvolveram estratégias para aprofundamento bíblico e doutrinário dos membros.
“Ao implantar o discipulado na Igreja Metodista não procuramos acompanhar um ‘modismo’ e nem mesmo combater grupos que têm influenciado igrejas por todo o Brasil e América Latina. O que nos motiva é adotar o discipulado como ‘um modo de ser’, ‘um estilo de vida’ pessoal e comunitário, sendo também uma ‘forma de pastoreio’ a ser desenvolvida em nossas comunidades e uma ‘estratégia’ na maneira de ser igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo”, afirmam os bispos e bispa.
O metodismo nasce na Inglaterra do século 18 como um movimento espiritual dentro da Igreja Anglicana. John Wesley se reunia com um pequeno grupo de amigos na Universidade de Oxford, no chamado Clube Santo. De uma pequena reunião, o movimento se transformou em um fenômeno de crescimento numérico.
São criadas sociedades para estudo da Bíblia e com forte ênfase ao trabalho social. Não era uma busca por uma nova religião e sim pela verdade do Evangelho. O professor da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, Rui Josgrilberg, explica que esta é “uma indicação preciosa para o verdadeiro sentido da religião social ou da santidade social de Wesley. O caminho da salvação ou o caminho para o céu de Wesley é um caminho social”.
O teólogo Richard Heitzenrater, especialista em Wesley e no metodismo, conta que as sociedades unidas já tinham no ano de 1766 cerca de 20 mil membros. Inovações como a pregação ao ar livre estimularam o avanço do movimento e a simpatia dos mais humildes.
As classes e os bands funcionaram como um discipulado, ensinando as pessoas e proporcionando maior maturidade cristã entre os adeptos do movimento. Esses fatores fizeram com que o metodismo se tornasse um ícone de crescimento numérico na Inglaterra. Outros países na Europa e na América foram influenciados pelo movimento.
Nos Estados Unidos a expansão também foi marcante. Segundo o teólogo Duncan Reily, isto aconteceu graças aos avivamentos, opção pelas fronteiras e pela ousadia do bispo Francisco Asbury. Os metodistas tinham pastorais com índios, negros e atuaram principalmente na educação, fundando escolas e faculdades confessionais.
De acordo com historiadores, a Igreja Metodista foi a maior denominação da América e a mais poderosa economicamente de 1830 e 1865. Possuía o maior número de instituições de ensino e era a visão de mundo dominante nos Estados Unidos. A influência era tão grande, que a igreja era ouvida pela presidência e senado americanos diante de algumas decisões importantes.
No Brasil, a Igreja Metodista não teve o mesmo crescimento vivenciado na Inglaterra e nos Estados Unidos. A trajetória começou em 1841, mas o trabalho foi encerrado seis anos depois. Em 1867, 25 anos depois, o rev. Junius Easthan Newman chega ao Brasil para reiniciar as atividades. Em 1869, Newman muda-se para Saltinho-SP. O trabalho de evangelização teve bons resultados e foi organizada a primeira Igreja Metodista. Em 1879 a família Newman mudou-se para Piracicaba dando continuidade ao avanço metodista.
De acordo com Duncan Reily, o metodismo no Brasil tinha 214 membros em 1886, seis pregadores e possuía trabalhos em Piracicaba-SP, São Paulo-SP, Rio de Janeiro-RJ e Juiz de Fora-MG. Em 1930, a Igreja Metodista contabilizava 15.560 membros.
“Logo após a autonomia, em 1930, a Igreja Metodista apresentou crescimento constante, ora modesto, ora mais intenso, e, no período da ditadura militar, enfrentou a crise e a estagnação. Nos últimos anos, as estatísticas indicam que a expansão do metodismo no Brasil tem percorrido uma linha crescente”, pondera o rev. Nicanor Lopes.