Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

estudos bíblicos-DIA DO MEIO AMBIENTE

Dia Internacional do Meio Ambiente - 5 de Junho 

O que o meio ambiente tem a ver com a Igreja? Nada! Igreja tem a ver com estudo da Bíblia, com ação missionária, salvação das almas, etc... São tantos os problemas importantes da Igreja: evangelização, crescimento, reformas, culto... Afinal, por que perdermos tempo com isso? Se você está lendo este artigo é porque talvez não concorde com o parágrafo acima.

Se estou correto, você também deve saber que muita gente concorda! Na verdade, creio que quase unanimemente a ação (ou falta de ação) da Igreja também concorda com isso. De onde viria tamanho desleixo com a ação ecológica?

Estou certo de que, em grande parte, ela nasce de limites na maneira como compreendemos o Evangelho e o próprio meio ambiente.

Mas, que limites seriam estes?

Almas ou vidas?
Os missionários e missionárias estadunidenses desembarcaram no Brasil pregando a salvação das almas. Daí, muito de nossa ação missionária baseia-se na exigência da "salvação das almas". Mas, o que seria exatamente salvar almas?

A palavra alma, que usamos em nossas igrejas é tradução da palavra soul, do inglês. Um exemplo dado pelo professor Cláudio Ribeiro na conferência: "Graça e Salvação na Teologia Wesleyana", proferida na 55ª. Semana Wesleyana da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, ajuda-nos a compreendermos um pouco da questão: Dois náufragos estão numa ilha deserta. Uma de suas primeiras atitudes é a de escrever "gigantemente" um SOS. SOS sinônimo de "SOCORRO". Mas, na origem,  SOS é a sigla de "save our souls".

Aí que está o problema: Será que os náufragos, acostumados com abridores de lata e microondas, nesse momento limite de sua existência clamariam para que algum helicóptero salvasse suas almas? Estariam eles com medo da perdição eterna, sinalizando para, caso algum pastor protestante passasse por ali, pudesse fazer uma oração por eles? É claro que não! SOS, em português seria: "Salve nossas vidas!".

O professor Cláudio Ribeiro alerta: "A tradução para o português da palavra soul mantém, mas também elimina aspectos salvíficos significantes: Ela mantém o aspecto transcendente da salvação, (mas) ela não expressa o aspecto cotidiano da salvação".

Mas o problema é ainda mais fundo. Quase todas as vezes que encontramos a palavra alma no Antigo Testamento ela é tradução de nepex ou, popularmente nefesh. O professor Tércio Siqueira explica: "essa tradução é, no mínimo, infeliz, porque a palavra nepex possui vários sentidos: garganta, pescoço, desejo, vida, pessoa e sede das impressões psíquicas e dos estados de espírito. Portanto, segundo a Bíblia, a palavra nepex não é uma parte do ser humano paralela ao corpo mortal. A definição de alma como um princípio espiritual distinto do corpo não é bíblico, mas faz parte da filosofia grega, a partir de Platão". No Novo Testamento o problema se repete, psyche, é traduzido por alma, sendo que o sentido da palavra é vida!!!

Cláudio Ribeiro apresenta uma reflexão preponderante nesse sentido: "A teologia wesleyana corrige, ao menos, duas compreensões equivocadas sobre a salvação, bastante correntes no interior das igrejas, ambas sem base bíblica de sustentação. A primeira é a concepção mera e excessivamente individualista da salvação. A segunda é que a salvação é exclusivamente para um outro mundo. A compreensão wesleyana em consonância com os escritos bíblicos, não se refere à salvação individual, mas sim às dimensões pessoal, social e cósmica da salvação."

Eis aí uma das ampliações do conceito missionário da Igreja que deve nos levar à ação ecológica: salvar vidas é, por excelência, a missão da Igreja, não apenas no sentido pessoal, mas social e cósmico. Salvar a vida do planeta é também salvar a nossa vida. E isso possui um impacto no nosso cotidiano.

A ecologia e os animaizinhos da floresta.

Chegou o Dia do Meio Ambiente. Nossas crianças sairão das escolas com máscaras de onça, macaquinho e lobo-guará. Eis outro aí outro problema: relacionamos diretamente meio-ambiente às florestas, à fauna e à flora.

É óbvio que a ação ecológica inclui os animais e ecossistemas em extinção. Mas para nós, que vivemos na cidade ou no campo, distantes da floresta, o meio ambiente está relacionado intimamente com nosso modo de vida e o seu impacto ecológico. Em outras palavras: discutir meio ambiente na igreja local é, fundamentalmente, discutir nosso modo de consumo e o seu impacto ambiental.

A ecologia e o ibope

Mas é claro que o problema da missão na igreja não passa apenas por pressupostos teológicos ou comportamentais. A realidade também é que, cuidar do meio ambiente não dá tanto ibope ou dinheiro às nossas igrejas.

Notamos hoje uma ação utilitarista da fé, uma verdadeira competição comercial. Tudo o que não contribua para encher igrejas representa, nesta lógica, algo supérfluo. Enquanto não superarmos a esta noção comercial, também não dispensaremos energia nos pressupostos fundamentais do evangelho.

Caminhos a serem trilhados

Conceitos e prioridades precisam ser revistos. Apresentei aqui um pequeno pedaço da ponta do iceberg. Urge uma mudança de nossas mentes e corações. Num mundo onde a vida é cada vez mais escassa, o metodismo deve unir-se às vozes proféticas da sociedade, afinal, se continuarmos preocupados apenas com pseudo-almas, bichinhos e ibope, não apenas viveremos uma missão fragmentada como corremos o risco de trairmos o Evangelho a que fomos chamados.

Rev. Pedro Nolasco Camargo Toso
pastor da Igreja Metodista em Jundiaí, 3ª RE


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