Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
estudo bíblico Páscoa
Vamos celebrar a Páscoa! Mas, você sabe qual é o significado da palavra Páscoa?
I. O nome, Páscoa, e seu significado.
Na Bíblia Hebraica, a palavra pesah, páscoa, é usada para significar,
A. mancar, coxear.
B. saltar sobre.
C. A vítima do sacrifício, isto é, o cordeiro pascal.
Farás o sacrifício da Páscoa (...) Dt 16,2; conforme versos 5 e 6).
II. O uso do verbo pesah, coxear, saltar, na história bíblica.
Não há muitas ocorrências no AT e no NT do verbo pesah, porém é muito significativo o seu uso.
A. O verbo pesahcom o sentido de coxear, mancar.
Então, Elias se chegou a todo povo, e disse: ´Até quando coxeareis
entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o.
Porém o povo nada lhe respondeu(1Rs 18,21).
B. O verbo pesahcom o sentido de saltar.
No relato da Páscoa, o verbo pesahé usado com o sentido de saltar,para proteger as casas dos hebreus, da ação do destruidor.
E Javé passará para ferir os egípcios. E quando vir o sangue sobre a travessa
da porta, e sobre ambas ombreiras. E Javé saltará sobre a porta, e não
permitirá ao destruidor entrar em vossas casas para ferir (Ex 12,23).
E vós dizeis: Esta páscoa é para Javé que saltou sobre as casas dos filhos de
Israel, no Egito, quando feriu os egípcios, e livrou nossas casas. E o povo a
ajoelhou-se(Ex 12,27).
E o sangue será para vós por sinal sobre as casas que estiverdes lá: quando eu
vir o sangue, e eu saltarei sobre vós, e não haverá convosco praga pelo
destruidor, quando eu ferir na terra do Egito (Ex 12,13).
III. Tentando interpretar o sentido do verbo pesah, coxear e saltar.
Os profetas, autênticos e incansáveis proclamadores e intérpretes da palavra de Deus para o povo usaram esta divergência - coxear e saltar - para aprofundar o sentido da ação salvadora de Deus.
Primeiramente, vamos tomar uma reportagem inserida na história de Elias.
Tomaram o novilho que lhes fora dado, preparam-no e invocaram o nome de Baal,
desde a manhã até ao meio dia, dizendo: Ah! Baal, responde-nos! Porém não havia uma voz que respondesse; e, manquejando, se movimentavam ao redor do altar que
tinham feito(IRs 18,26).
O autor da história de Reis usou o sentido de coxear para afirmar a presençasalvadora e protetora de Deus no confronto com os profetas de Baal. Ele quer afirmar que os profetas de Baal coxeiam, mancam, e não encontram a resposta para os seus clamores. Ao afirmar isso, o texto bíblico quer assegurar que Javé não manca com os seus seguidores, mas Ele salta para salvar e proteger o povo. A continuação da história atesta esta verdade.
De modo intencional, o deuteronomista sutilmente ridiculariza os profetas de Baal. Só Javé responde aos pedidos de seus fiéis, e Javé não coxeia e não manca com aqueles que gritam, pedindo sua ajuda.
Em segundo lugar, apesar de parecer que o significado de pesah, coxear e saltar, seja divergente, o profeta Isaías soube como conciliar o que, até então, era inconciliável: coxear e saltar.
(...) Sede fortes,
Não temais!
Eis que vosso Deus vem para vingar-vos,
trazendo a recompensa divina.
Ele vem para vos salvar.
Então se abrirão os olhos dos cegos,
e os ouvidos dos surdos se desobstruirão.
Então o coxo saltará como o cervo,
e a língua do mudo cantará canções alegres,
porque a água jorrará no deserto.
e rios da estepe.
A terra seca se transformará em brejo,
e a terra árida em mananciais de água... (Is 35,4-7).
O profeta Isaías, no propósito reagir contra qualquer aliança com os povos vizinhos, afirma que a proteção de Javé é suficiente para o povo de Deus. O profeta aproveita esta aparente divergência para afirmar o milagre de Javé na história: Ele transforma os oprimidos em pessoas libertas; Ele concede forças ao que não têm nenhum vigor. Assim, Isaías aprofundou mais a noção do verbo pasahcomo saltar para a salvação.
Javé dos Exércitos protegerá Jerusalém,
Ele protegerá e libertará,
Ele saltará sobre e salvará(Is 31,5).
O profeta Isaías, no propósito reagir contra qualquer aliança com os povos vizinhos, afirma que a proteção de Javé é suficiente para o povo de Deus. O verbo pasah é usado, por Isaías, para caracterizar o milagre da proteção, libertação e salvação de Javé sobre o povo bíblico, diante da Assíria, a maior potência política do oitavo século antes de Cristo.
III. O sentido de pesah no Novo Testamento.
A língua grega não contempla a teologia da mesma forma que a língua hebraica. O substantivo páscoa segue a mesma grafia, e a palavra coxo escreve de forma diferente: é xwlos. Porém, a relação hebraica dos verbos coxear, mancar com pular, saltar seguem o mesmo sentido usado pelo profeta Isaías. Nos dias de Jesus, o Novo Testamento reporta, em diferentes ocasiões, o encontro de Jesus com pessoas portadoras de deficiência física. A atitude de Jesus nunca foi de explicar essa deficiência com o argumento da maldição hereditária. Diante do coxo, Jesus procurava devolver-lhe a saúde física, incluindo-os na sociedade, bem como nas festas religiosas. A cura de um coxo é, para Jesus, anúncio do Reino de Deus, tal como o profeta Isaías anunciara muitos séculos antes.
Ao dares um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos,
nem teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não te convidem por sua
vez e te retribuam do mesmo modo. Pelo contrário, quando deres uma festa,
estropiados, coxos, cegos; feliz serás, então, porque eles não têm com que te
retribuir. Serás, porém, recompensado na ressurreição dos justos (Lc 14,12-14).
Atos dos Apóstolos relata a cura de coxo (At 3,1-10). O contexto dessa cura está no esforço dos apóstolos Pedro e João de continuarem sinalizando a presença de Jesus, mesmo após a sua morte e ressurreição.
E tomando-o pela mão direita, o levantou; imediatamente os seus pés e artelhos se
firmaram; de um salto se pôs em pé, passou a andar e entrou com eles no Templo,
saltando e louvando a Deus(At 3,7-8).
É sugestivo observar que o duplo significado hebraico do verbo pesah está presente nestes textos. Eles tentam afirmar o milagre de Deus que transforma a impossibilidade do coxo na possibilidade da ação de Deus, protegendo e salvando.
Rev. Tércio Machado Siqueira,
professor da Faculdade de Teologia da Universidade Metodista
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