Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
esquivel
Estudiosos debatem midiatização das experiências religiosas
Rolando Pérez
Quarta-feira, 13 de agosto de 2008 (ALC) - Estudiosos do fenômeno da religião e das mídias, reunidos na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp) para a 6a. Conferência sobre Meios, Religião e Cultura, analisam as implicações da midiatização das experiências religiosas no contexto de uma sociedade plural e diversa.
O professor da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), padre Pedro Gilberto Gomes, que participou do painel sobre "a religião nas grandes corporações midiáticas", sustentou que a América Latina observa hoje um deslocamento do espaço tradicional dos templos para um campo aberto e multidimensional, onde os meios desempenham um papel importante. "A cultura midiática está criando novas ritualidades e sensibilidades religiosas", afirmou.
Esta mudança de época está marcada por uma nova ecologia comunicacional. Nesse sentido, enfatizou Gomes, o fenômeno da midiatização religiosa é mais do que uma experiência relacionada ao uso e à apropriação da tecnologia midiática. Trata-se da construção de um novo modo de ser no mundo onde as identidades e formas de viver a fé e interagir com a transcendência estão mediadas por espaços e meios que estão além do mundo sagrado institucionalizado.
Nesse sentido, a midiatização da sociedade converte-se numa das chaves hermenêuticas para compreender e interpretar o mundo religioso e as novas espiritualidades.
Os trabalhos apresentados por pesquisadores de diversos países revelam que as novas formas de produção e de consumo religioso estão crescendo cada vez mais no espaço criado pelos novos meios de comunicação, no qual o ciberespaço converteu-se no lugar privilegiado destas novas buscas.
O professor Paul Teusner, da Universidade RMIT, de Melbourne, Austrália, apresentou as conclusões de sua investigação sobre a emergência da religiosidade juvenil na "blogosfera". O estudo de Teusner indica que o uso das novas tecnologias, como a internet, está gerando novas identidades religiosas e novos processos de interação entre os fiéis, bem como entre a própria comunidade religiosa tradicional.
O estudo revela que essa experiência religiosa não significa necessariamente uma forma de concorrência em relação às comunidades religiosas tradicionais. Os "cibercristãos" assumem a comunidade virtual como um passo intermediário para vincular-se com suas congregações ou igrejas locais tradicionais, salientou.
Para a professora Maru Hess, da Universidade Luterana de Minnesota, nos Estados Unidos, as novas apropriações dos espaços produzidas pelos meios tecnológicos geram re-significações notáveis no campo da autoridade religiosa. Por outro lado, indicou, este fenômeno gera desafios para as igrejas e grupos religiosos tradicionais em termos de repensar suas estratégias discursivas, bem como compreender, interagir e dialogar com estas novas comunidades virtuais de fé e com os próprios fiéis que se movem nos espaços e mundos culturais que a sociedade contemporânea midiatizada está gerando.
A conferência de São Paulo reúne 200 pesquisadores, de 26 países. Ela é organizada pela Comissão Internacional sobre Meios, Religião e Cultura, a Umesp e a Associação Mundial para a Comunicação Cristã (WACC, a sigla em inglês) na América Latina. O evento teve início na segunda-feira, 11, e se estende até amanhã.
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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC)
Pérez Esquivel fala sobre Mídia, Religião e Paz
O Prêmio Nobel da Paz, professor Adolfo Pérez Esquivel, concedeu na manhã do dia
11 de agosto, uma coletiva aos jornalistas presentes na Fnac Pinheiros. Ele, que
fez a abertura da 6ª Conferência Mídia, Religião e Cultura às 17h, falou
sobre diversos assuntos como direitos humanos, globalização e democracia.
Em primeiro momento, o professor manifestou sua alegria ao estar no Brasil,
relembrando as duas vezes em que Dom Paulo Evaristo Arns o tirou da prisão. "Ele é
um homem que sempre compreendeu a espiritualidade, o compromisso e as lutas por uma
vida melhor", disse.
Globalização
Pérez Esquivel mencionou a importância de reconstruirmos a nossa identidade e as
nossas raízes. "A globalização é um pensamento único que proporciona a morte das
culturas. Devemos reconstruir pensamentos próprios", declara.
Afirmou ainda que a globalização concentra informações através de grandes
monopólios. "Devemos trabalhar com meios alternativos. Há muita manipulação nos
grandes meios de comunicação", conta.
Direitos humanos
Com relação aos direitos humanos, o professor foi enfático. "O ser humano privilegia
o capital financeiro acima dos povos". Segundo Esquivel, à medida que compreendemos
a Deus e a nós mesmos, somos capazes de mudar esse panorama.
"A violação dos direitos humanos não passa somente por torturas, prisão e
assassinatos, mas acontece quando há crianças com fome, quando há terras tiradas de
camponeses", complementou.
América Latina
Segundo Esquivel, os problemas dos países Brasil, Argentina e Paraguai são os
mesmos: os latifúndios e uso indiscriminado de agrotóxicos por parte das indústrias
que destroem o meio ambiente. "Há necessidade de se regular o uso de produtos que
danificam o meio ambiente. Os paises do Mercosul deveriam se unir em uma cooperação
não só econômica, mas cultural para uma vivência dos direitos humanos".
Educação e mídia
Pérez falou ainda sobre como educar as crianças expostas à mídia. "Os meios de
comunicação são alienantes, sobretudo a TV. Até os desenhos animados são violentos.
Uma vez ouvi José Saramago dizendo o seguinte: 'escola não educa, instrui. Quem
educa é a família'".
Espiritualidade e paz
O professor ainda ressaltou que a paz não é a ausência de conflitos e guerras, mas
são passos a construir e, nesse sentido, a religião é um crescimento também
interior. "Devemos recuperar o equilíbrio com a natureza, com Deus e com o próximo",
finalizou.
Adolfo Pérez Esquivel é arquiteto, artista, professor universitário argentino,
militante dos Direitos Humanos pelo qual recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em 1980.
Detentor de títulos Doutor Honoris Causa oferecidos por várias universidades no
mundo. É Presidente Honorário do Serviço de Paz e Justiça na América Latina e
Presidente da Liga Internacional por Direitos Humanos e a Libertação dos Povos, com
sede na Itália.
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