Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Entrevista: O desafio da Missão Integral

Entrevista publicada no jornal Expositor Cristão de Nov/2010

Nossa entrevista do mês de novembro é com o teólogo sênior da Visão Mundial e ex-obreiro da ABUB - Aliança Bíblica Universitária do Brasil, Valdir Steuernagel. Durante a conversa, Valdir fala sobre a responsabilidade cristã na política cotidiana e aponta temas da perspectiva da Missão Integral.

 

Até a década de 1960, discutia-se a “responsabilidade social da igreja”. Essa foi também a ênfase da Teologia da Missão Integral, que se desenvolveu nas décadas seguintes?

É difícil afirmar que “até a década de 1960, discutia-se a ‘responsabilidade social da igreja’”, pois o protestantismo/evangelicalismo, do qual creio que você está falando, tem uma dificuldade em caminhar unido e se desagrega com grande facilidade. Mas é verdade que o protestantismo histórico brasileiro expressava forte compromisso em torno à responsabilidade social da igreja antes da ditadura que se iniciou em 1964. A partir daí a ênfase passou a estar numa espiritualidade desencarnada e descontextualizada que se preocupava muito mais com a “salvação das almas” do que com o compromisso de fé público e ético dos cristãos.

Internamente, a ditadura militar brasileira cuidava para que as igrejas fossem as mais apáticas e passivas em termos de engajamento político-social. Externamente, a empresa missionária norte-americana enviava à América Latina, muitos missionários que eram produto de uma formação bíblico-teológica fundamentalista e adeptos de uma ideologia que via em qualquer preocupação com a justiça, ou em qualquer participação política e social crítica, expressões de um comunismo ateu que tinha de ser combatido a ferro e fogo.

A teologia da Missão Integral da igreja nasceu de uma dupla preocupação. Por um lado ela queria se apropriar e afirmar os postulados básicos da Reforma Protestante, que se expressava numa identidade evangélica. E, por outro, via que o evangelho precisava seguir o modelo da encarnação de Jesus e tinha, portanto, uma dimensão não apenas cultural, mas também social, político e econômica.

 

Se hoje temos convicção da nossa responsabilidade social, enquanto cristãos, como é possível desenvolver esta “vocação” em termos de política?

A vivência da vocação é, na maioria das vezes, pública; e, como pública, ela é também política. A política, entendida como o exercício da cidadania, é necessária e inevitável. A enfermeira que cuida bem dos pacientes do hospital e zela para que eles tenham um cuidado humano e profissional está fazendo política – o que é o caso com tantas outras profissões. Neste sentido, a Missão Integral afirma o sacerdócio geral de todos os santos, que é um dos postulados básicos da Reforma.

Assim, no exercício da nossa vocação, somos agentes políticos e nessa vivência política abraçamos, vivemos e anunciamos a política do Reino de Deus, que é marcada pelo amor, pela ética, pelo serviço e pela alegria.

Se pensarmos na política partidária, no entanto, precisamos dizer que ela é uma expressão legítima do exercício da vocação, ainda que seja apenas uma expressão, aliás, limitada, da vocação política. Mas parece que você quer aprofundar isso um pouco mais.

Existem temas ou bandeiras obrigatórias para um cristão que, comprometido com a teologia da Missão Integral, leva sua fé ao espaço público?

Durante esta entrevista eu já citei várias vezes a palavra “justiça”. Este me parece um tema inegociável para o cristão. Essa justiça questiona e substitui as inúmeras expressões de injustiça em meio às quais vivemos. Outro tema fundamental é o compromisso com o pobre e o vulnerável em nossa sociedade. E estes são muitos! O evangelho de Jesus Cristo tem um viés a favor do pequeno e do pobre, e é esse evangelho que devemos seguir.

Hoje a preocupação com o meio ambiente, as mudanças climáticas, a preservação da natureza, a proteção dos mananciais e dos mares, são todos temas inegociáveis na composição de uma agenda vocacional para os cristãos na atualidade.

Há certamente outras questões fundamentais, entre as quais a bioética, que precisam ser priorizadas em nossa agenda e vocação hoje. Mas creio que os temas mencionados já apontam para um jeito de olhar para o mundo sob a perspectiva da criação, da compaixão e da redenção.

Creio ser importante mencionar, no entanto, que estes temas não esgotam o cardápio da vivência missionária da igreja. Na Visão Mundial, nós dizemos que o nosso testemunho cristão se dá pela vida, através das nossas ações, palavras e através dos sinais milagrosos com os quais Deus nos agracia. Essas diferentes expressões testemunhais é que formam o conjunto missionário para o qual Deus vocacionou a sua igreja.

 

Quais os caminhos da Missão Integral hoje?

Os caminhos da Missão Integral hoje devem ser os mais simples possíveis. Afinal, a vivência missionária nada mais é que o seguimento individual e coletivo a Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

Colaboração Rede Cristã “Fale”


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