Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
entrevista Lenildo
Uma conversa sobre política e fé
O vereador Lenildo Magdalena, 82 anos, é o mais antigo parlamentar |
Como você entrou para a política?
Foi em outubro de
Durante muitos anos você exerceu a política e o ministério pastoral simultaneamente (Lenildo deixou o ministério em 1970). Você era identificado como "vereador metodista"?
Nunca me apresentei como metodista ou representante dos evangélicos. Acho isso totalmente inconveniente, pois qualquer fracasso meu seria atribuído à instituição. O que eu faço é me esforçar para trazer à vida pública os valores cristãos. Eu pastoreei a Igreja Metodista Central de São Bernardo por 18 anos sem "misturar estações". Mesmo quando candidato a vereador, recebia outros candidatos na Igreja. Aqui na Câmara de São Bernardo nunca houve uma "bancada evangélica", mas estamos comemorando oito anos do Movimento de Oração e Ação pela Paz, o MOAP, que reúne diferentes denominações. Fazemos nossas reuniões no Plenário da Câmara na primeira e última segunda de cada mês. Cada segunda vem uma igreja participar desse momento de oração conosco.
A Igreja deve lançar candidato próprio?
Essa é uma posição equivocada. Lançar candidato foge dos propósitos da instituição. Ela representa o Reino, tem que exercer posição de julgamento
Mas a gente costuma ouvir que, no dia em que o país tiver um presidente evangélico, tudo vai melhorar...
Só quem não conhece política pode falar uma bobagem dessas. Nem se fosse imperador! Veja o que aconteceu com Garotinho. Quem se mete na política, quem aceita este desafio, tem que entender que política é esgoto. Podemos viver sem os "esgoteiros"? Podemos mexer no esgoto sem correr risco de respingos? Não. Acho que ter a consciência de que a política é esgoto é uma condição fundamental para você se proteger da lama. Todos os ídolos têm pés de barro. Quanto mais santo alguém se apresenta, pior é. A impureza que ele vê no outro é sinônimo da projeção dos demônios que existem dentro dele.
Então, a Igreja deve ficar fora da política?
Quando se fala
Quais foram os seus maiores acertos e erros durante esses anos todos na política?
No partido não é a sua vontade que prevalece. Você abre mão da responsabilidade individual para ter uma personalidade grupal. Mas graças a Deus nunca estive envolvido em casos de corrupção. Eu havia colocado uma faixa no meu gabinete com os dizeres: "Aqui não se engana ninguém". Essa faixa criou uma polêmica aqui na casa. Mas eu gostaria que todos os vereadores colocassem a mesma faixa.
Quanto aos projetos que mais me alegram, destaco a Lei do Meio Ambiente e a Tribuna Livre. A Lei do Meio Ambiente é de 1960, quando ainda nem se falava em ecologia. Trata da questão de ruídos urbanos, localização e funcionamento de indústrias nocivas ao ambiente. A Tribuna Livre é o projeto do qual mais me orgulho. Está completando quarenta anos; foi aprovado em 8 de setembro de 1967, em pleno regime militar, e foi o primeiro projeto desse gênero no mundo. Essa lei dá a qualquer morador da cidade o direito de se manifestar na Câmara. Depois da Ordem do Dia os munícipes têm um tempo para se pronunciar. As pessoas fazem inscrição na Secretaria da Câmara; têm 20 minutos para falar e depois um vereador responde. A Câmara deve ser a caixa de ressonância das aspirações populares.
O que você acha do atual governo federal?
Não posso negar o carisma do presidente, resultante de um messianismo que atende às expectativas da grande massa desiludida. Ele resiste em cima desse messianismo a toda uma teia de corrupção como poucas vezes se viu. Mas o que vai acontecer quando acabar o mandato do presidente Lula? Falta liderança nos partidos políticos. Lula é a válvula de segurança da pressão social. Sinto cheiro de pólvora...