Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

Entrevista Lenildo.

 Uma conversa sobre política e fé

 

 O vereador Lenildo Magdalena, 82 anos, é o mais antigo parlamentar em atividade na Câmara de São Bernardo do Campo, município da Grande São Paulo.

Filiado ao PSB (Partido Socialista Brasileiro), ele está exercendo sua 11ª legislatura. Natural de Campos, Rio de Janeiro, Lenildo chegou a São Bernardo no ano de 1950 para cursar Teologia na Faculdade do então "Bairro dos Meninos" - hoje, Rudge Ramos. Logo entraria para a política. Foi eleito vereador em 1956. Como pastor, organizou a Igreja Metodista Central de São Bernardo do Campo, onde esteve por 18 anos.

 

Como você entrou para a política?

Foi em outubro de 1951. A campanha à prefeitura de São Bernardo estava num nível muito baixo. Durante um comício, resolvi me manifestar a favor do candidato Lauro Gomes e fui escolhido orador oficial da campanha. Lauro Gomes foi eleito e passei a colaborar com sua administração, inicialmente como voluntário. Em 1955, candidatei-me a vereador e venci minha primeira eleição.

 

Durante muitos anos você exerceu a política e o ministério pastoral simultaneamente (Lenildo deixou o ministério em 1970). Você era identificado como "vereador metodista"?

Nunca me apresentei como metodista ou representante dos evangélicos. Acho isso totalmente inconveniente, pois qualquer fracasso meu seria atribuído à instituição. O que eu faço é me esforçar para trazer à vida pública os valores cristãos. Eu pastoreei a Igreja Metodista Central de São Bernardo por 18 anos sem "misturar estações". Mesmo quando candidato a vereador, recebia outros candidatos na Igreja. Aqui na Câmara de São Bernardo nunca houve uma "bancada evangélica", mas estamos comemorando oito anos do Movimento de Oração e Ação pela Paz, o MOAP, que reúne diferentes denominações. Fazemos nossas reuniões no Plenário da Câmara na primeira e última segunda de cada mês. Cada segunda vem uma igreja participar desse momento de oração conosco.

 

A Igreja deve lançar candidato próprio?

Essa é uma posição equivocada. Lançar candidato foge dos propósitos da instituição. Ela representa o Reino, tem que exercer posição de julgamento

 

Mas a gente costuma ouvir que, no dia em que o país tiver um presidente evangélico, tudo vai melhorar...

Só quem não conhece política pode falar uma bobagem dessas. Nem se fosse imperador! Veja o que aconteceu com Garotinho.  Quem se mete na política, quem aceita este desafio, tem que entender que política é esgoto. Podemos viver sem os "esgoteiros"?  Podemos mexer no esgoto sem correr risco de respingos? Não. Acho que ter a consciência de que a política é esgoto é uma condição fundamental para você se proteger da lama. Todos os ídolos têm pés de barro. Quanto mais santo alguém se apresenta, pior é. A impureza que ele vê no outro é sinônimo da projeção dos demônios que existem dentro dele.

 

Então, a Igreja deve ficar fora da política?

Quando se fala em política na Igreja, confunde-se política partidária com orientação política. A Igreja é agente na comunidade. Tem que tratar de temas políticos e se posicionar.

 

Quais foram os seus maiores acertos e erros durante esses anos todos na política?

No partido não é a sua vontade que prevalece. Você abre mão da responsabilidade individual para ter uma personalidade grupal. Mas graças a Deus nunca estive envolvido em casos de corrupção. Eu havia colocado uma faixa no meu gabinete com os dizeres: "Aqui não se engana ninguém". Essa faixa criou uma polêmica aqui na casa. Mas eu gostaria que todos os vereadores colocassem a mesma faixa.

Quanto aos projetos que mais me alegram, destaco a Lei do Meio Ambiente e a Tribuna Livre. A Lei do Meio Ambiente é de 1960, quando ainda nem se falava em ecologia. Trata da questão de ruídos urbanos, localização e funcionamento de indústrias nocivas ao ambiente. A Tribuna Livre é o projeto do qual mais me orgulho. Está completando quarenta anos; foi aprovado em 8 de setembro de 1967, em pleno regime militar, e foi o primeiro projeto desse gênero no mundo. Essa lei dá a qualquer morador da cidade o direito de se manifestar na Câmara. Depois da Ordem do Dia os munícipes têm um tempo para se pronunciar. As pessoas fazem inscrição na Secretaria da Câmara; têm 20 minutos para falar e depois um vereador responde. A Câmara deve ser a caixa de ressonância das aspirações populares.

 

O que você acha do atual governo federal?

Não posso negar o carisma do presidente, resultante de um messianismo que atende às expectativas da grande massa desiludida. Ele resiste em cima desse messianismo a toda uma teia de corrupção como poucas vezes se viu. Mas o que vai acontecer quando acabar o mandato do presidente Lula? Falta liderança nos partidos políticos. Lula é a válvula de segurança da pressão social. Sinto cheiro de pólvora...

 

Suzel Tunes


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