Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Entrevista: Estresse pastoral

Entrevista com o psicólogo e pastor metodista, Josias Pereira, concedida ao Jornal Expositor Cristão em junho de 2010, p. 8 e 9.

Qual é o maior estresse entre os pastores/as: físico ou psicológico? Por quê?
Resposta: No caso das atividades específicas do pastorado o estresse é sempre psicológico (emocional e mental), pois não há desgaste orgânico, porém, quando não se manifesta com distúrbios psíquicos ou emocionais produz o desencadeamento das somatizações, que são os sintomas orgânicos que se manifestam em quaisquer árias do organismo: cardíacas, circulatórias, gástricas, respiratórias, urinárias, neurológicas, dermatológicas, musculares ou esqueléticas (ossos). Em fim qualquer parte do corpo pode ser atingida. São as doenças psicossomáticas. Elas podem atingir as pessoas em qualquer faixa etária.
Quando o distúrbio se manifesta somente no âmbito mental, psicológico ou emocional é mais difícil de ser compreendido, e, no contexto religioso, pode ser atribuído a manifestações espirituais ou demoníacas, dada a sua subjetividade, já que é sentido, mas não pode ser entendido e nem tampouco ser explicado. Estes estados são modernamente chamados de Síndrome de Burnaut e que popularmente é conhecido como esgotamento nervoso.

Por que isso acontece e qual a razão do ministério pastoral estar mais suscetível?
Resposta:
Considerando que o desencadeamento desses processos está sempre vinculado a situações de conflitos psicológicos, tais como valores e costumes confrontados com sentimentos, desejos e opiniões pessoais em relação às cobranças e espectativas da comunidade, além de compromissos e deveres familiares e às próprias necessidades pessoais que nem sempre podem ser efetivadas.
Assim, pela natureza e características do ministério pastoral, cuja carga emocional, dada a variedade de situações adversas, é consideravelmente elevada,há de se convir que o desempenho pastoral é altamente estressante.

Quais são os sintomas que se apresentam com maior freqüência?
Resposta:
Não conheço estatísticas confiáveis que indiquem quais sintomas são mais freqüentes.
As manifestações psicossomáticas dependem de uma gama extensa de fatores para o surgimento de  sintomas que são oriundos de duas vertentes básicas: as determinantes e as desencadeantes. As primeiras são decorrentes de fatores internos e as segundas de acontecimentos externos. Quando então podem entrar em jogo hereditariedade, suscetibilidade, temperamento ( jeito de ser), história de vida e seus traumas, bem como o potencial individual e outros tantos.
Entretanto, podemos considerar os sintomas em função de suas conseqüências, isto é, hà manifestações somáticas que são graves, porém, não apresentam urgência, pois suas conseqüências ocorrem a longo prazo, tais como fenômenos digestivos ou dermatológicos e outros tantos. Já as agudas são as crises circulatórias ou cardíacas, são os casos de AVCs ( acidente vascular cerebral= derrame cerebral ou infarto cerebral) que exigem atendimento com muita urgência, pois qualquer demora pode ser fatal.
Entretanto, é bom saber que para todos estes casos a prevenção ainda é o melhor.

Existe um período (em anos de ministério) mais estressante para o/a Clérigo/a?
Resposta:
A rigor não, pois tudo depende muito das condições pessoais e circunstanciais, bem como das contingências. Mas apesar de não termos conhecimento de dados estatísticos, a experiência indica que é mais provável nos primeiros anos de ministério e nas proximidades da aposentadoria, talvez pela insegurança do porvir, que também se apresentam com freqüência em outras atividades.
 
Existe um grupo de risco quanto as patologias? Se há um grupo de risco, quais são as propostas ou possibilidades para se tratar essa questão?
Resposta:
na minha experiência a atividade pastoral é o próprio risco pelos motivos já apresentados acima. Porém, quanto mais definida a vocação e quanto maior convicção do chamado divino, menor é o risco de estresses, pois o principal fator determinante são os conflitos de valores, embora esteja sempre inconsciente, pois quando conscientizados os sintomas podem a ser resolvidos.
Quanto a riscos agudos é a faixa etária que está entre quarenta e sessenta anos a mais exposta, sendo os quarenta e cinco a referência culminante, daí a importância da profilaxia.
 
O nível de estresse do clérigo/a pode repercutir no lar? Como evitar essa questão?
Resposta:
Sim, inquestionavelmente, pois uma pessoa estressada afeta as outras com as quais convive dispersando o seu mal estar entre os demais, pois o relacionamento inter e intrapessoal é altamente afetado.

 

José Geraldo Magalhães Jr.


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