Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/10/2010
Entrevista com Percival de Souza
O Evangelho é a boa notícia
Seu rosto e sua voz já são familiares aos brasileiros interessados nos acontecimentos diários, noticiados pela imprensa e comentados por ele na Rede Record de Televisão, onde atua diariamente. Percival de Souza não é apenas um jornalista, ganhador de prêmios, escritor de 16 livros, que já trabalhou em rádios e emissoras de televisão, aquele que luta para andar com a verdade, como ele próprio diz. É também um seguidor de Cristo, evangélico sério, membro de Igreja Metodista, que aprecia o termo “crente” apenas porque define o ato de “crer”, acreditar.
Conhecido por suas análises sobre casos de criminalidade, Percival responde a questões que misturam fé e profissão, família e Igreja, observações sobre sociedade e Bíblia. Nesta entrevista, ele fala de si mesmo, de seus limites e preocupações. Aborda o caso Isabella Nardoni, que tanto apurou. Religa os dias de hoje com a origem do homem em sua essência maléfica, referindo-se ao primeiro homicídio cometido por Caim contra Abel. Percival de Souza provoca um efeito salutar em quem aprecia o bom jornalismo. O ofício revela-se honroso em suas mãos. Na especialidade de investigar crimes, ele potencializa o valor da missão da imprensa, que mostra fatos e denuncia em prol de uma dinâmica mais ágil e transparente que envolve sociedade e Justiça. O caminho que levou ao bom resultado de sua carreira foi longo e caprichosamente traçado, auxiliado por Deus, a quem ele deve gratidão pela força e contínua companhia.
ENFOQUE– Conte um pouco de sua infância e família. Foi criado em lar evangélico?
PERCIVAL DE SOUZA – Nasci dentro de um lar cristão. Minha mãe faltou a um culto de domingo à noite para que eu nascesse. Meu pai era contador em fazendas de café no interior paulista, e por isso passei a infância no interior. A formação cristã sempre foi sólida, dentro de princípios sadios, éticos e morais. Tive um berço cristão, portanto, no qual aprendi a fazer as primeiras preces, as primeiras leituras bíblicas, a conhecer aos poucos os grandes personagens das Escrituras.
ENFOQUE– Em sua adolescência ou juventude, algum acontecimento marcante determinou ou influenciou seu caminho como profissional?
PERCIVAL DE SOUZA – Aos 14 anos, quando a família mudou-se para a capital, pedindo uma chance à cidade grande, fui trabalhar como contínuo na redação da hoje “Folha de S. Paulo”, onde conheci grandes figuras do jornalismo. Sonhava em, talvez algum dia, ser como eles. Meu pai sempre estimulou a leitura, dava livros de presente, enfatizava a importância de clássicos da literatura. Ele tinha uma biblioteca pessoal muito boa. Foram duas circunstâncias marcantes.
ENFOQUE– Como aconteceu sua conversão?Que fatores foram fundamentais para que você permanecesse convicto até hoje de sua escolha como crente em Jesus e também como metodista?
PERCIVAL DE SOUZA – Minha personalidade foi moldada dentro dos fluxos cristãos, injetados gradativamente na epiderme finíssima da alma. Vivi com alimentação amena e depois sólida, conforme a doutrina paulina. “Crente”, para mim, nunca foi sinônimo de religião, mas, sim, a conjugação do verbo “crer”, que significa “confiar”, “acreditar”. “Eu sei em quem tenho crido.” É bíblico, portanto. Cristo tocou o meu coração desde pequeno e acredito que um fator preponderante tenha sido a forma como os adultos da minha geração viviam: autênticos, dedicados, empenhados em conquistar almas, consagrados. Lições coerentes de vida no cotidiano. Procuro viver como um cristão praticante, pois a salvação é acessível a todos e no planeta inteiro. Considero as divisões estéreis e bizantinas, pois o próprio Cristo orou para que sejamos todos um. Como escreveu Vieira, num dos seus sermões, é preciso observar muito bem o que Cristo disse e ao mesmo tempo atentar para o que Ele não disse. Ou seja: o cristão, fiel e obediente, sabe qual é a vontade do Senhor, mesmo num assunto não expresso em palavras. Essa é uma das maravilhas que o Evangelho nos ensina. Ele é, de fato, a permanente boa notícia.
ENFOQUE– E a trajetória no jornalismo, como começou?
PERCIVAL DE SOUZA – Um dos meus primeiros passos foi na revista “Quatro Rodas”, da Editora Abril, que tinha como diretor de redação um dos ícones do jornalismo brasileiro, Mino Carta. Iria reencontrá-lo anos mais tarde, quando o jornal “O Estado de S. Paulo” lançou o vespertino “Jornal da Tarde”. No começo, fui repórter nas áreas de reportagem geral, futebol, boxe e automobilismo. Mino foi responsável por me escolher para criar uma nova roupagem para o jornalismo criminal.
ENFOQUE– Fale de algumas experiências interessantes nas redações e por quais mídias já passou.
PERCIVAL DE SOUZA – No “Jornal da Tarde”, desenvolvi novos métodos de trabalho. Era o auge do chamado “novo jornalismo”, que teve expoentes como Gay Talese, Tom Wolfe e Truman Capote. A essência de estilo era o aprimoramento do texto, a informação bem apurada, nada de improvisação. Parágrafos eram esculpidos, considerando a reportagem, alma do jornalismo, como uma obra de arte. Isso tinha tudo a ver com a revista “Realidade”, da Editora Abril, na qual colaborei.
O jornalismo de investigação veio na esteira, mas como uma necessidade da sociedade brasileira, na qual muitos fatos graves somente são apurados se denunciados antes pela imprensa. Isso me levou para o livro-reportagem, transformou- me em escritor. Escrevi 16 livros, as experiências significativas também em rádio (Eldorado, Gazeta, Capital) e TV (Globo, Cultura, Educativa, Record). Ontem e hoje, passado e presente caminhando de mãos dadas, continuo apaixonado pela grande reportagem, no sentido quase épico, a ponto de ver em “Os Sertões” momentos magníficos de reportagem por meio do escritor Euclides da Cunha, em sua magistral descrição da destruição do arraial de Canudos, logo após a implantação da República brasileira.
ENFOQUE– Com mais de 30 anos de atuação no jornalismo, você trabalhou durante o período da ditadura militar nos anos 1970. Aborde os embates sofridos nessa fase da carreira e se o elemento fé colaborou em algum fato.
PERCIVAL DE SOUZA – No regime do arbítrio institucional, a imprensa era censurada direta e ostensivamente. Amarguei grandes frustrações por causa disso. Jornalista na linha de frente, sofri represálias, enquadramento na Lei de Segurança Nacional e ameaças sem fim. Quando minha primeira filha estava para nascer, precisei retirar minha esposa de casa, por razões de segurança pessoal. Vivi e senti na pele os impactos dos chamados “anos de chumbo”. Soube, fazendo uma entrevista com integrante de um grupo de extermínio chamado “Esquadrão da Morte”, que eu deveria ter sido executado, o que somente não aconteceu porque o matador titubeou. Quer dizer: andei pelo vale das sombras da morte, e Deus me salvou. Tenho certeza absoluta disso. Mas não foi somente esse fato. Existiram muitos outros. Acho que dei muito trabalho para o Altíssimo. Deus sempre foi muito generoso comigo.
ENFOQUE– Você buscou uma especialização nas áreas de segurança e criminologia e hoje atua na TV como repórter e comentarista desses temas, além de escrever para alguns jornais e revistas semanais. Por que a escolha dessa área?
PERCIVAL DE SOUZA – Embora entrando nessa especialização por circunstâncias de vida, creio que o marco zero dessas tristes histórias criminais foi o assassinato de Abel pelo próprio irmão. Como a Bíblia não esconde nada debaixo do tapete, tentação que persegue homens, mulheres e instituições até hoje, a História está registrada no livro das origens. Os males do mundo estão armazenados no coração, daí a melhor perspectiva de análise ser cristã e não criminológica. Digo isso como cristão e criminólogo, fusão que me permite olhar a sociedade por um imaginário buraco de fechadura e assim descrevêla como ela realmente é.
ENFOQUE– Como especialista em jornalismo investigativo, você ganhou quatro prêmios Esso. Como avalia seu profissionalismo?
PERCIVAL DE SOUZA – Procurei me aprimorar e, sinceramente, tornar-me não apenas mais um, mas um dos melhores. Isso exige esforço, desprendimento, doses de obstinação, de vez em quando um pouco de coragem, força interior para superar etapas sem convívio familiar e, diria um não-cristão, “um pouco de sorte não faz mal a ninguém”. Prefiro dizer: pedir a proteção e a companhia de Deus. E sentir, na perspectiva de fé, a resposta: “vá em frente, estou com você”. Isso não é piegas, é profundamente real. Eu trabalho assim. Acredito que o Senhor continua nos falando, de muitas e variadas maneiras, o que exige de nós “ouvidos de ouvir”, segundo as Escrituras.
ENFOQUE– E qual seria a senha para o sucesso na investigação jornalística: o anonimato, as fontes, um excelente bancos de dados...? Como orientar os jornalistas que atuam nessa área?
PERCIVAL DE SOUZA – A chave da questão é identificar pessoas que tenham em suas cabeças uma boa história a ser contada. Vejo os jornalistas investigativos, na essência, como contadores de histórias. É preciso, então, extrair tais histórias de determinadas cabeças. É essa a chave do código. Documentos entram de modo suplementar, mas evidentemente estão na posse de alguém, ou uma fonte que saiba da existência deles. As fontes precisam confiar em você do mesmo modo que você nelas. É preciso resguardá-las, protegê-las. A Constituição Federal nos ajuda nesse sentido. O bom jornalista zela por suas fontes como um jardineiro cuida de seu jardim. Aliás, não existe bom repórter sem boas fontes.
ENFOQUE– Você escreveu muitos livros, como “Autópsia do medo”, uma biografia do delegado Sérgio Paranhos Fleury, e “Eu, Cabo Anselmo”, uma entrevista com o maior agente duplo a serviço do regime militar. Outros sobre violência, prisão e narcoditadura e ainda sobre o assassinato do jornalista Tim Lopes. Em que acha que essas obras mais contribuem para os seus leitores?
PERCIVAL DE SOUZA – Os livros mencionados são exemplos profundos que exigiram muito de mim para esse tipo de jornalismo que procura demonstrar uma perfeita sincronia dele com a literatura. Eles são História e reportagem, literatura e reconstituição de fatos. “Autópsia do medo” é uma espécie de DNA com histórias ainda secretas do período da ditadura. Entrei nos porões, dei nome a personagens, contei a história de uma guerra revolucionária por meio de uma narrativa linear, sem paixões apriorísticas e tão pouco agito de bandeirolas ideológicas. Não foi fácil seguir essa metodologia, porque muitos contam as coisas como gostariam que elas tivessem acontecido e não dentro do primado do real. Libertei-me desses grilhões.
Fleury foi símbolo da repressão política. Entrei no personagem a tal ponto de ter condições de dizer ao filho, também delegado de polícia: “Conheço seu pai melhor do que você”. Se tivesse engenho e arte, gostaria de ter escrito esse livro na primeira pessoa do singular, como Margherite Yourcenar fez com o “Imperador Adriano”. Curvei-me às limitações. Ganhei espaço nas estantes acadêmicas. Como Anselmo, Fleury ajuda o leitor a entender o “iceberg” do período da ditadura.
Já o livro sobre Tim Lopes é uma catarse, homenagem póstuma ao amigo assassinado. A narrativa é feita com forte embasamento bíblico, o que exige didática do autor. Espero ter conseguido fazer literatura, reportagem, denúncias, revelações e olhar crítico com poderosa tessitura bíblica. Fui ousado aprendiz das Escrituras. Mas as pessoas gostaram. Quer dizer, a terra quer se deixar salgar.
ENFOQUE– É bastante sabido no mercado de publicações que a dupla “sangue e violência” vende bastante. O que acha disso?
PERCIVAL DE SOUZA – Pode vender, mas não isoladamente. Um jornal de grande circulação, a revista também, tem seu forte nas assinaturas e não na atração efêmera e perecível de um dia. Sangue e violência agitam a sociedade, estão no seu cotidiano. Saber da realidade assistindo apenas ao filme “Tropa de Elite” é ridículo. O filme é bom, mas não é tudo, tanto que quem assistiu assumiu posições do tipo mocinho “versus” bandido – identifique o lado de cada um como preferir. “Narcoditadura” é anterior ao filme e muito mais trágico. As publicações não produzem fatos. Divulga-os. Isso é insofismável, mas dolosamente incompreensível para os que preferem colocar as publicações no epicentro das grandes questões, eximindo-se automaticamente de qualquer responsabilidade. Quem pode, conscientemente, atirar a primeira pedra? Acadêmicos que fugiram da Academia estão cansando a inteligência.
ENFOQUE– Dentre os vários casos de crimes que você investigou e comentou, quais os que mais mexeram com seus limites como ser humano e como cristão?
PERCIVAL DE SOUZA – Muitos. Mais recentemente, o caso de Suzane Richtofen, que comandou o trucidamento dos próprios pais; a menina Isabella Nardoni, de 6 anos, arremessada da janela no sexto andar de um prédio; e o caso de um pistoleiro que, vestido de Papai Noel numa semana de Natal, baleou uma moça no rosto, a mando – segundo polícia, Ministério Público e decisão judicial de custódia preventiva – do próprio pai e do avô. No caso de Suzane e do pistoleiro, por trás de tudo estava o vil metal, falso tesouro de corações empedernidos. No caso da menininha, o desamor em grau máximo. Meu limite, no caso Isabella, foi até torcer para que pai e madrasta fossem inocentes, tamanho o desgosto pela humanidade diante de um episódio assim. Com relação a Suzane, a repulsa por um crime abjeto. O limite é o ser humano indignado, contido pelos parâmetros dos ensinamentos de Cristo. Caim matou Abel, e Deus colocou um sinal em sua fronte para ninguém que o encontrasse pudesse feri-lo de morte. Não me atrevo a discutir com Deus. Não coloco em xeque o mandamento “Não matarás”.
ENFOQUE– E como é Percival de Souza? É um homem calmo, controlado, perspicaz? Como se define?
PERCIVAL DE SOUZA – Acho que sou um pouco das três fases de comportamento mencionadas. Mas, de vez em quando, há uma explosão, porque vivo em contato permanente com algumas coisas de pior que a sociedade produz. Sou observador, atento aos detalhes, faço de tudo para não deixar a emoção se sobrepor à razão (o que, confesso, nem sempre consigo) e tenho uma vontade permanente de não errar na hora da análise, da apreciação, da crítica. Participo de programas de TV ao vivo. Os assuntos trabalham com emoções. Sempre peço discernimento ao Senhor. Sei que sou falível, sujeito a erros. Procuro estar bem informado para embasar meus comentários. Quero estar certo em cada abordagem, luto para andar com a verdade. Aí, então, não tenho medo de contrariar interesses ou fariseus e filisteus e tampouco conciliar gregos e troianos. Sem, é claro, lavar as mãos na varanda de Pilatos.
ENFOQUE– Fale um pouco de sua família. Como se adapta à peculiaridade de sua profissão?
PERCIVAL DE SOUZA – Sou casado, Yeda é a minha companheira há quase quatro décadas. Tenho duas filhas, Andréia e Tatiana, e dois netos, Júlia e Murilo. Nossa família é unida por laços fraternos, de amor, solidariedade e estar junta a qualquer tempo. Minha casa, agradeço a Deus por isso, é um permanente ponto de encontro. Dividimos alegrias, dores, preocupações, realizações. Acho que formamos uma família à moda antiga.
Há momentos de ausência, por causa de meu trabalho, e preocupação diante de certos casos que gravitam em torno de pressões, intimidações e ameaças. Minha esposa e as filhas tiveram de superar momentos difíceis, em que conviveramcom forte segurança pessoal. Elas são meu apoio e, ao mesmo tempo, meu calcanhar-de-Aquiles. Como essa é a minha vulnerabilidade, devo falar pouco a respeito. Mas deixo muito bem claro: a nossa confiança está em Deus.
ENFOQUE– Como é sua atuação na igreja local ou em sua denominação? Consegue tempo para exercer algum cargo?
PERCIVAL DE SOUZA – Exerci variados cargos na administração local, nas atividades regionais e no âmbito nacional da Igreja. O que mais me empolgou sempre foi a Escola Dominical, aliás, criada por um jornalista. É a Universidade de Deus – conforme feliz expressão do saudoso bispo metodista Sady Machado da Silva.
A que mais me decepcionou foi a Comissão Regional de Justiça, da qual fui presidente. Mescla-se Direito Canônico com normas do Direito brasileiro, em questões inúmeras vezes estéreis. Não gosto de quem mistura emprego com atividade da igreja, como se vínculo meramente empregatício fosse um ministério – o que não é. Nos processos eclesiásticos, assisti a muita coisa lamentável e pedante, num desfile de bacharéis frustrados e arrogantes ao mesmo tempo.
Também presidi o Conselho Diretor da hoje Universidade Metodista e fui membro do Conselho Diretor da Faculdade de Teologia. Sempre procurei priorizar tais atividades, mas minha atração maior continua sendo pelo Ministério de Ensino, que tem muito a fazer diante da fragilidade teológica dominante em nosso país.
ENFOQUE– O que a maioria dos crimes já comentados por você revela sobre a Justiça brasileira? E se fosse um parlamentar, que tipo de mudança gostaria de fazer a fim de melhorar o cenário de violência?
PERCIVAL DE SOUZA – A Justiça se prende aos autos e não aos atos, julga crimes e não pessoas, pouco sabe da alma humana e aplica penas abstratas, fantasmagóricas. Como cristão, gostaria que o aparato da persecução penal adotasse normas de uma espécie de enfermaria do espírito, reabilitadora, que punisse e ao mesmo tempo transformasse. Sei que isso é uma utopia, e quem transforma a sociedade é a força da necessidade e não os devaneios. Mas tenho certeza que deveria funcionar assim.
Já afastei da minha vida, ao menos por enquanto, os cálices do Parlamento ou de ser secretário de Estado nas áreas de Segurança Pública e Administração Penitenciária. Ainda acredito que a minha vocação seja outra. De qualquer forma, já fiz sugestões nessas áreas por meio de depoimentos em Comissões Parlamentares de Inquérito, do Senado Federal e da Câmara dos Deputados, em matéria de segurança, na última sobre o sistema carcerário e na área de drogas – prevenção, repressão e tratamento. O sinistro cenário da violência é humano. Ela segue o ser humano como a sombra acompanha o corpo.
ENFOQUE– O que mais gosta de fazer em sua profissão: comentar, escrever, apurar...?
PERCIVAL DE SOUZA – O comentário é alicerçado em fatos, e procuro elencar os acontecimentos com o máximo que for possível apurar e somente a partir daí fazer uma apreciação. Escrever sempre me encantou. A boa literatura é um espetáculo das palavras. Apurar me atrai, principalmente quando se penetra em “icebergs”, faces submersas que se pretende ocultar. Essa é a minha paixão como jornalista e escritor, com ímpeto também para aventuras teológicas, dentro desse mesmo espírito. Viajando pela Grécia e pela Itália, dois roteiros cristãos obrigatórios, fiquei fascinado com as descobertas dos lugares históricos, palco de ensinamentos dos apóstolos, e decepcionado com a minha ignorância a respeito. Já fiz curso sobre as epístolas paulinas, mas conhecer Atenas e seu Areópago, Corinto, Éfeso e Patmos, além de Roma, foi fazer um estudo ao vivo da Bíblia.
ENFOQUE– Que trecho bíblico acha que traduz o caos que leva a tanta criminalidade?
PERCIVAL DE SOUZA – O coração é a região do inesperado, segundo Machado de Assis, ou palco permanente da luta do bem contra o mal, conforme Dostoievski. Os sentimentos negativos se acumulam no coração, como o ódio, o ciúme, a avareza, a ambição. São eles os fatores predominantes da criminalidade, e por isso mesmo o ser humano não pode prescindir de freios contensores. Para mudar o ser humano, produzindo nele uma conversão, é preciso mudar o coração para que Cristo nele possa entrar. Ou permitimos que ele entre ou batemos a porta no rosto do Senhor. Por tudo isso, é preciosa a lição das Escrituras: “Onde está teu tesouro, aí estará também o teu coração”, como assinala Mateus 6:21.