Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Entrevista: Até Quando?

Até Quando?   

Por: Robson Morais - Redação Creio

A cada 15 segundos uma mulher é agredida ou espancada no Brasil, segundo dados da Fundação Perseu Abramo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que 29% das brasileiras já foram vítimas de violência física ou sexual pelo menos uma vez na vida. O drama é tema do livro ‘Até Quando?’, dos autores Aileen Silva Carroll e Sérgio Andrade, lançado em 2010 pela editora Ultimato, expondo a violência contra a mulher sob outro ponto polêmico: o papel da Igreja e o crescimento nos números de vítimas dentro da comunidade evangélica. Os autores concederam uma entrevista a Robson Morais, jornalista do Portal Creio. Confira abaixo os detalhes da conversa:
 

Fale um pouco sobre o livro ‘Até Quando?’
O livro aborda a questão da violência contra a mulher praticada por parceiro íntimo, uma realidade presente em nossa sociedade e, infelizmente, também em nossas igrejas. Em diversas páginas consideramos sobre o papel da igreja diante deste mal. O livro também apresenta informações concretas e dicas práticas que ajudarão pastores, pastoras e outros líderes a  lidarem com situações de violência dentro de sua própria comunidade de fé.

De onde surgiu a ideia do livro? Como foi o contato inicial com este tema?
Nós, os autores, nos interessamos pelo tema por vários motivos. Sérgio, em seu ministério pastoral e no trabalho com a Diaconia, têm acompanhado vários casamentos nos quais a mulher sofre com violência. Aileen, técnica e educadora na Associação Menonita de Assistência Social/Comissão Central Menonita (CCM/AMAS), trabalha há vários anos com o tema da violência contra a mulher. Nos seus contatos com mulheres que sofriam agressões dos maridos, percebeu um número significativo de mulheres evangélicas.
Mulheres foram entrevistadas sobre as situações de violência que enfrentaram, o contato que tiveram com a igreja vivendo estas situações e o apoio que receberam, ou gostariam de ter recebido, das suas comunidades de fé. “Até Quando?” é fruto desta “escuta”. Ouvimos nos depoimentos das 132 pessoas entrevistadas que a violência praticada por parceiro íntimo está atingindo a igreja evangélica e que a igreja precisa estar preparada para responder tal situação.

Quais os números mais recentes de violência contra a mulher no Brasil? Tem crescido este dado?
A Fundação Perseu Abramo calcula que a cada 15 segundos uma mulher brasileira é espancada. A Organização Mundial de Saúde (OMS) relata que 29% das brasileiras têm sido vítimas de violência física ou sexual pelo menos uma vez.  Sabemos que cada ano o número de denúncias por meio de serviços como a Central de Atendimento à Mulher aumenta, mas isso não nos diz se a violência está aumentando ou se apenas está se tornando mais visível, agora que existem meios de denunciá-la.

Qual o papel da Igreja nestas situações?
Em primeiro lugar, a igreja precisa se dar conta que existem casos de violência entre os seus próprios fieis. Também é importante que a igreja conheça cada vez mais sobre o fenômeno para estar preparada para acompanhar, de maneira eficaz, pessoas que sofrem violência e pessoas que usam a violência. Não é suficiente tentar “se virar” usando o senso comum, pois muito daquilo que aprendemos na sociedade consiste em mitos que atrapalham um bom acompanhamento. Além disso, a igreja pode ser uma voz profética, abrindo sua boca contra este pecado. Alguns agressores conseguem interpretar a Bíblia de forma errada para justificar o uso da violência como forma válida de se relacionar dentro do casamento e da família. A igreja precisa deixar claro nas suas pregações e outras áreas de ensino que a violência contra a mulher é pecado, um insulto contra Deus e que não tem lugar no Reino.

Vocês acreditam que a falta de contato com a religião é a causa deste mal?
Se a falta de contato com a religião fosse a causa da violência, não existiriam agressores dentro da igreja. Infelizmente, sabemos que pessoas que usam a violência para oprimir e controlar suas esposas conseguem, às vezes, passar anos dentro da igreja sem experimentar qualquer mudança de comportamento. Isto não significa que contato com a igreja não pode levar as pessoas a se examinarem e verem a necessidade de verdadeiro arrependimento e mudança duradora. Para um agressor que confessa seu pecado, assume responsabilidade pelo seu comportamento e se abre para Deus e para ajuda de pessoas capacitadas, a igreja pode ser um recurso chave. A igreja serve como espaço onde seu comportamento pode ser confrontado e o seu esforço para a mudança apoiado. Porém, apenas participar da igreja ou se dizer “convertido” não é o suficiente.

Dentro da Igreja, como detectar este mal?
Às vezes, as pessoas se abrem e contam sobre as experiências de violência que sofrem. É importante saber ouvir e acolher a pessoa quando ela revela sua condição. Quando a pessoa não opta por não revelar o seu problema, ainda existem sinais de violência que podem ser detectados. Por exemplo: mulheres que demonstram ter medo do esposo; mulheres que não possuem amizades; mulheres que são proibidas de trabalhar fora de casa, etc.                                                                          

Há casos de pastores agressores? Como fica a situação quando o “monstro” é justamente quem deveria dar o suporte à vítima?
Existem, sim, casos de pastores, evangelistas, e diáconos que usam violência contra suas esposas e famílias. Como muitas pessoas acreditam que só um “monstro” pode ser um agressor, podem não acreditar na esposa quando ela se abre e fala sobre a violência que sofre, pois acreditam que o líder é “uma pessoa tão amável que nunca faria uma coisa destas”. Por isso, quando uma mulher revelar situações de violência é importante levá-la a sério. Não devemos achar que não pode ser possível, ou pensar que “ela deve ter feito alguma coisa para merecer” tal violência, só porque conhecemos e respeitamos seu marido. 

Sabemos que o dano físico é regenerado. E o espiritual ou psicológico?
É verdade que algumas vezes, o dano físico é regenerado. Em outros casos, não.  A violência contra a mulher muitas vezes leva até a morte, ou em outros casos há danos permanentes ao funcionamento do corpo da mulher. Na área psicológica, pode ser difícil para as mulheres superarem suas feridas. Algumas terão grandes  obstáculos pelo prejuízo à auto-estima. Podem sofrer com depressão e o medo que novas agressões possam acontecer. Também podem experimentar ansiedade crônica, insônia ou ataques de pânico. Conhecemos várias mulheres que passaram a tomar remédios controlados por causa dos danos psicológicos  ocasionados pela violência. A violência também pode ter grandes impactos na vida espiritual da mulher. Por exemplo, depois de sofrer agressões por um (ou mais) homem(s), ela pode desenvolver uma grande falta de confiança em pessoas do sexo masculino. Isto pode influenciar seus sentimentos sobre Deus, a quem geralmente nos referimos com pronomes masculinos e com palavras como “Pai”.  Alguns agressores usam interpretações erradas da Bíblia para justificar seu uso da violência, e isso pode criar na sua vítima uma aversão ou um mau entendimento da Bíblia, o que poderá dificultar sua caminhada de fé.

 


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