Publicado por Sara de Paula em Escola Dominical - 05/06/2019
Em tempos de Babel, o desafio de dialogar como em Pentecostes
“E como os ouvimos falar, cada um em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? (...). Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados! ” Atos 2.11b.
A palavra diálogo vem da fusão de duas palavras gregas: dia e logos. Dia pode ser traduzido como através enquanto que logos assume vários significados como palavra, expressão, significado. O diálogo é premissa para a convivência, por meio dele nos colocamos no mundo, interagimos e nos transformamos. Para além da conceituação da palavra diálogo, está o desafio em dialogar. Há diálogos e diálogos, no entanto, quer positivos ou negativos, autoritários ou “empoderadores”, são eles que estabelecem as nossas relações sociais. Portanto, o diálogo nos compromete.
É tempo de Pentecostes! A festa que acontecera após a morte e ressurreição de Jesus ficaria marcada para sempre na história da humanidade. Foi nesse dia, quando as pessoas reunidas dialogavam, louvavam e oravam, que se cumpriu a profecia anunciada no Antigo Testamento (Joel 2.28-32) e a promessa de Jesus (Lucas 24.49): O Espírito Santo inunda a vida humana!
Há quem afirme que o Pentecostes é a redenção da Torre de Babel (Gênesis 11.1-9). Na construção da cidade e da torre, as pessoas se apropriaram de uma terra (v.2), desenvolveram suas tecnologias (v.3), estabeleceram padrões religiosos e se iludiram ao achar que teriam o controle sobre tudo. Nessa construção estavam implícitos a autopromoção, a onipotência e o egoísmo, pois queriam se fechar em si mesmos (v.4). Quando Deus desce para ver a cidade e a torre, é isso que encontra: uma linguagem única que não favorecia o diálogo, mas que se apresentava sob a forma de um monólogo opressor, explorador e enganoso que promovia um projeto de vida egoísta, centrado em si mesmo. De fato, era preciso confundir essa linguagem! (v.7) Por mais alta que fosse a torre, nunca chegariam a Deus dessa forma, pois nos aproximamos de Deus apenas pela sua Graça.
Em Jerusalém, por ocasião do Pentecostes, as várias línguas geradas no episódio da torre de Babel ali também se encontravam. A cidade construída por mãos humanas havia matado Jesus, o Nazareno. No entanto, o Reino estabelecido por Deus garantia a ressurreição de Jesus, o Cristo. Na construção do Reino, o símbolo não é a cidade nem a torre, mas a simples casa (Atos 2.46-47). É nela que o vento do Espírito, que não pode ser encerrado em nenhum lugar, em nenhuma torre, vem soar, encher e preencher os corações.
Quando o Espírito desce, encontra pessoas disponíveis que aguardam as ordens para construção do projeto de Deus. A manifestação divina não é para confundir! Com o simbolismo das línguas de fogo, Deus vem dialogar e impulsionar que as pessoas dialoguem e se entendam. Assim acontece, os discípulos que ali estavam começaram a falar em diversos idiomas sobre as grandezas de Deus. Para além da polifonia das línguas, a linguagem do amor de Deus era anunciada! A confusão das línguas foi superada pela ação do Espírito Santo!
Na torre de Babel o domínio de tecnologias avançadas apontava para um conhecimento técnico, privilegiado. Quem propunha o diálogo, quem trazia a mensagem do que fazer e como fazer, tinha um conhecimento formal e de destaque social. Mas quem falava em Jerusalém por ocasião daquele especial Pentecostes? Eram galileus! O que isso significava? Galileus eram pessoas da periferia, do interior, sem muita instrução formal (Atos 4.13). Isso era surpreendente e as pessoas não conseguiam entender o que se passava ali (Atos 2.7). Entre a admiração e o espanto havia no coração de quem era temente a Deus, a disposição de ouvir e se apropriar da mensagem libertadora do Evangelho. No entanto, havia também quem não estava disponível para ouvir, dialogar e se comprometer. Por isso, desprezava o que estava acontecendo e até loucura falava: “É bebedeira”. Não era bebedeira, estava muito cedo (v.15). Comer e beber tão cedo não era parte do costume judaico.
Vivemos na Babel com o desafio de mantermos o diálogo anunciado em Pentecostes. Difícil tarefa a nossa! Em meio à cidade, aos projetos pessoais, nosso coração dever estar na casa, na tarefa solidária de colaborar para que outras pessoas encontrem a Cristo. Não há problema nenhum na busca de realizações pessoais, o problema está em encerrar a vida nesses projetos. A nossa realização pessoal e profissional precisa estar conectada com a casa comum (oikos), com a família, a Igreja, a sociedade, com o planeta!
No diálogo em Pentecostes houve temor, obediência e disposição em dialogar com gente diferente. Houve cuidado com o que se falava, houve reconhecimento de que a sabedoria humana pouco vale diante da sabedoria divina. Que a gente se disponha a dialogar mais e que seja o nosso diálogo um reflexo do que aconteceu em Pentecostes. Uma coisa temos por certo: a Graça de Deus entre nós, por meio da revelação bíblica, nos enche de humildade e compaixão para ouvir e também de coragem, respeito e misericórdia para falar!
Com afeto,
Andreia, pastora.
Andréia Fernandes é pastora metodista, coordenadora do Departamento Nacional de Escola Dominical da Igreja Metodista.
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