Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
eleições 2006 Miquéias
Foi-te anunciado, ó ser humano, o que é bom, e o que Javé exige de ti: nada mais que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus. (Mq 6.8)
Está chegando o dia das Eleições que, mais uma vez, determinará o futuro do Brasil por mais quatro anos. Embora não tenhamos, em um número significativo, pessoas que demonstrem integridade e ética na política, não podemos perder a esperança de uma nação mais justa e um país para todos/as, ou seja, apesar de não termos tanta "glória no passado" precisamos acreditar na "na paz do futuro"!
A concretização de uma sociedade justa e digna é possível, e encontramos no texto de Miquéias 6.1-8 alento para continuarmos acreditando num mundo melhor. O profeta nos inspira a não perdermos de vista os nossos horizontes de paz, de justiça e de direito. Para refletimos sobre esta tríade analisaremos Miquéias 6.6-8, pois este nos mostra que não é possível ser cristão/ã, participar do culto e da vida da igreja, sem o envolvimento com a sociedade em todas as instâncias.
Praticar o direito, eis o dever...
Miquéias 6.8 apresenta a prática do direito como o primeiro pedido de Javé para o ser humano, pois esta prática demonstra a existência de uma sociedade justa. Aqui o termo mispat, traduzido comumente por "direito", tem estreita ligação com a sedaqah-justiça. Por isso, o direito não se refere apenas às regras e normas que regem a sociedade, contudo pressupõe o compromisso com a/o próxima/o, ou seja, não se trata apenas de observar regras, mas estabelecer alianças de paz e de justiça. Assim, o exercício do direito se expressa na prática da justiça, principalmente no âmbito social, porque conforme Miquéias denuncia havia aqueles que usurpavam o direito da/o próxima/o. Praticar o direito suprime a injustiça e possibilita ao povo viver dignamente e gostar do amor solidário.
Ser solidária/o, eis o compromisso...
O segundo pedido de Javé ao ser humano é que ele goste do amor. Neste caso o termo para amor é hesed, que significa "bondade", "bondade amorosa", "misericórdia", "doação de coração", e que podemos optar por "amor de solidariedade". Deste modo, Deus, através do profeta, chama a atenção para que o povo goste do amor solidário, o que expressa o amor ao/à próximo/a, isto é, um amor que age frente às dificuldades do/a outro/a. Javé salienta que da mesma forma que usou de amor solidário com o Seu povo, assim eles deveriam agir com a/o próxima/o, o que faria com que as disparidades deixassem de existir. Deste modo, a melhor forma do povo conseguir exercer o direito é praticando o amor de solidariedade. Isso nos faz recordar de Agostinho quando diz: "Ama e faz o que queres". E o amor de solidariedade em Miquéias tem esta conotação, um amor que quer o bem, tanto individual quanto comunitário, e proporciona o caminhar com Deus.
Caminhar com Deus, eis a proposta...
Javé era o Deus que andava com seu povo, entretanto o povo estava se esquecendo de andar com Ele, por isso o terceiro pedido é para que o ser humano caminhe humildemente com Deus (Mq 6.8). É interessante observar que o povo demonstra andar com Deus quando pratica o direito e o amor de solidariedade. Como isso não estava ocorrendo, Javé conclama o povo a fazê-lo a fim de que eles vivam dignamente, porquanto sacrifícios (6.6) para nada servem se a maioria do povo não tem o que comer, não tem onde morar e são explorados dia após dia. Andar humildemente com Deus denota uma vida que expressa o amor de solidariedade e a preservação do direito do/a próximo/a.
Eleições 2006, eis o desafio...
Na atualidade, tal qual na época de Miquéias, nos deparamos com pessoas que gritam "Paz! enquanto têm o que comer, mas preparam a guerra contra aqueles que nada lhes põe na boca" (3.5), contudo isto não deve causar inércia frente à situação. Um sonho intenso só é possível se sonharmos com tal pujança que ele se transforme em realidade. Um raio vívido só aparece no céu quando o tempo está nublado, e precisamos que este raio esteja refletindo na nossa sociedade que se encontra nublada pela injustiça, violência, fome, pobreza, intolerância...
Os profetas denunciavam e, ao mesmo tempo, acreditavam que uma nova sociedade era possível. Como eles, devemos denunciar e acreditar num Brasil mais justo! E uma das formas que temos para expressar tal sentimento é o voto. Contudo, para fazê-lo é necessário adotarmos alguns critérios, tais como: justiça, honestidade, prática do direito, lisura... Como observamos em Miquéias 6, o exercício do direito é uma exigência de Deus tanto para o povo quanto para seus legisladores e governantes, a idéia é que todos/as temos a responsabilidade para que a justiça aconteça, a fim de construirmos uma sociedade baseada na prática do direito, no amor de solidariedade e, conseqüentemente, com o povo andando humildemente com Deus.
Revda. Suely Xavier dos Santos
IM Jd. Colorado - Congr. Carrãozinho
São Paulo - 3ª RE
Referências Bibliográficas:
1. JENNI, Ernest, e WESTERMANN, Claus (ed). Diccionário Teologico Manual del Antiguo Testamento. Vol. 1 e 2. Madrid: Cristiandad, 1978.
2. HARRIS, Laird Harris et all. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998. 1798p.
Artigo publicado na Revista Voz Missionária