Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

egressos pastor josé do carmo

Egressos: o desafio da inclusão.

 

            A Igreja Metodista, possui, desde seu nascimento ainda como clube santo em Oxford, uma linda história em relação ao trabalho com presos, ao lado também do trabalho com crianças. Buscando resgatar essa dimensão do metodismo, baseado no Evangelho e nos atos de misericórdia, pilares de nossa fé, a comunidade Metodista em Fátima do Sul - MS, a partir do ano de 2005, passou a desenvolver um trabalho com os presos da unidade penal da cidade de Jateí, dista a trinta quilômetros de Fátima do Sul. De algumas visitas esporádicas nasceu uma pastoral carcerária. Além, desse trabalho, estamos envolvidos diretamente no Conselho da comunidade, um programa da Comarca de Fátima do Sul, responsável pelo acompanhamento dos egressos. Damos nossa contribuição por meio de palestras aos presos e outros acompanhamentos.

            A pastoral carcerária, embora tenha reduzido suas atividades no último ano, por questões financeiras, falta de um veículo próprio para se deslocar até a cidade vizinha e outros pormenores, ainda encontra-se ativa, pois a igreja continua recebendo a visita de egressos, que ao ganharem o beneficio do semi aberto, buscam a igreja. Temos na comunidade de fé, um ex- presidiário, que já há quase três anos caminha conosco, juntamente com sua esposa e filhas.  Esse amado irmão, após passar pelo curso oferecido pelo seminário Bispo Scilla Franco, foi consagrado um dos evangelista da comunidade. E hoje faz parte da liderança da igreja local, juntamente com sua esposa.

            Atualmente chegaram à comunidade de fé mais dois egressos, que estão no regime semi aberto: os senhores Dorgival Pereira e Arlindo Cansado da Silva, este ultimo com sessenta anos de idade, sem família, e muito enfermo, tanto no físico como na alma.

            A sociedade constantemente é abalada pelas imagens de rebeliões nos presídios. Estamos vivendo a era do crime organizado, onde grupos como o P.C.C, com estruturas de poder ricamente organizadas, possuem membros infiltrados nos três poderes: Legislativo, Executivo e judiciário. A cada dia, a luta contra o crime parece perdida e, o caos e o medo se alastram pela sociedade, fazendo vitimas de forma direta e indireta.

A discussão do momento, e que sempre vem à baila cada vez que menores estão envolvidos em crimes que abalam a sociedade, tal qual o assassinato do garoto João Helio, é se a maioridade penal deve ou não ser reduzida? Grupos antagônicos fazem defesas apaixonadas de suas posições. Alguns falam até mesmo da implantação da pena de morte, outros reivindicam a prisão perpétua. Falam em reduzir a idade da responsabilidade penal para 16, 14, outros ainda reivindicam 12 anos. Vou omitir minha opinião a esse respeito, só quero expressar o seguinte pensamento: A partir do momento, que a sociedade discute se deve ou não, punir, encarcerar, ou mesmo aplicar a pena de morte a crianças e adolescentes, é porque há muito, os adultos e suas instituições, mesmo a Igreja, perderam sua credibilidade, moral e capacidade de educar para a vida, então a saída que encontram é castigar e até mesmo matar . Enfim o quadro é aterrador, a sociedade tem um problema e precisa lidar com ele. Mas e a Igreja Metodista como pode contribuir de forma concreta para a superação da violência?

Dentro dessa temática e problemática, a primeira coisa que a igreja precisa recuperar é o foco de sua missão, declarada por Jesus como sendo a razão pela qual o Espírito estava sobre Ele,  tão logo motivo, pelo qual também está sobre a Igreja:  "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me conferiu a unção para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me para proclamar aos cativos a libertação, [...] para despedir os oprimidos em liberdade." (Lc 04.18). Creio que a Igreja Metodista precisa resgatar o trabalho com os presos como sendo parte de sua identidade histórica, pois está nas raízes do metodismo. Ela precisa dar sua contribuição cristã, por meio da criação de uma pastoral carcerária nacional, que sob o estimulo do Colégio Episcopal se interligue a pastorais carcerárias regionais, distritais e locais, compostas por  pessoas chamadas a esse tipo de evangelismo, e profissionais com formação em Direito, Psicologia, etc.

A cada visita que fazemos ao presídio, levamos um pouco de atenção para muitas pessoas, que uma parcela da sociedade, muitas vezes instigada pelo sensacionalismo da mídia, quer ver morta. Quando estamos em contato com eles/as, procuramos agir como Jesus, que abomina o pecado, mas ama e acolhe o pecador, da mesma maneira devemos abominar o crime, mas amar e acolher o criminoso, mesmo que seu ato seja hediondo. Se assim não agirmos, estamos sendo hipócritas, quando pregamos que "o Evangelho é o poder de Deus, que liberta o homem".

Quando olho, ouço e converso com um/a homicida, traficante, estuprador... fico lembrando que aquelas pessoas um dia foram bebês, crianças, adolescentes, que choraram, mamaram, brincaram, amaram e às vezes foram amadas, algumas estudaram, foram batizadas em igrejas evangélicas, mas por algumas razões, por fatores ocorridos em suas  formações e trajetórias,  hoje estão atrás das grades de uma prisão. As perguntas que não se calam é: o que faltou, e o que tem faltado para tais indivíduos? Onde erraram com a sociedade e a sociedade errou com eles? Qual dos tantos "evangelhos" que se apregoam por ai, que ouviram?

A lição que aprendo cada vez, que vamos ao presídio, ou que acolhemos um egresso na igreja local, é que o amor de Deus, é muito maior que qualquer pecado humano, mas tal amor só atingirá a vida dos presos/as, quando a Igreja realmente compreender que  a transformação e o bem estar da sociedade, passa pela transformação e o bem estar do individuo, por meio da pregação do Evangelho Integral. Precisamos esvaziar as prisões, antes mesmo que os presos cheguem lá, ou seja, é preciso evangelizar, cuidar e educar as crianças hoje, para que não se tornem bandidos amanha. Em relação aos adultos encarcerados, precisamos agir instigados  por estas palavras: Lembrai-vos dos que estão na prisão, como se estivésseis presos com eles; dos que são maltratados, pois vos também tendes um corpo. (Hb 13, 3).

             

            Pr. José do Carmo da Silva. (Zé do Egito)

            Igreja Metodista em Fátima do Sul - MS.

                       


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