Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
EECSN Tania Mara
AIDS e o desafio da solidariedade
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Quando se discute o papel das Igrejas no combate à AIDS, o nome da pastora metodista Tânia Mara Vieira Sampaio é uma referência em todo o país. Como integrante da Comissão Nacional de AIDS do Ministério da Saúde, ela tem se empenhado em conscientizar clérigos(as) e leigos(as) de que Aids não é castigo de Deus, nem uma sentença de morte. |
Formada em 1981 pela Fateo, Faculdade de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, Tânia também estudou Pedagogia e fez mestrado e doutorado em Ciências da Religião. Entre 1989 e 2000, ela lecionou na Fateo e hoje é professora da Universidade Metodista de Piracicaba, Unimep. A pastora Tânia também foi uma das colaboradoras da Pastoral "Aids: Desafio Pastoral e Solidariedade", lançada pelo Colégio Episcopal da Igreja Metodista há exatos 10 anos. Esta Pastoral já está esgotada, mas pode ser encontrada aqui no site da Igreja Metodista (clique no link ao final da matéria). Desde 1996, várias coisas mudaram no panorama da Aids. Mas as orientações pastorais de amor e solidariedade deste documento continuam bastante atuais. Bem como continua atual e cada vez mais urgente a palavra que diz: "eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10.10)
Quando e como foi que você começou a pesquisar a temática da Aids?
Comecei a pesquisar a temática da Aids e suas demandas bíblicas e teológicas a partir de 1985, quando surgiram, por parte da Igreja Metodista, do Ciemal (Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina), do CLAI (Conselho Latino Americano de Igrejas) e do CMI (Conselho Mundial de Igrejas), a solicitação para que eu ministrasse estudos bíblicos em encontros que tratavam da questão da saúde integral com ênfase no problema da Aids. Foram diversos momentos de celebrar liturgia e estudos bíblicos com uma forte motivação de afirmação da vida digna para todas as pessoas. Posteriormente, junto com Lair de Oliveira Gomes e Jorge Hamilton Sampaio, assessorei o Colégio Episcopal da Igreja Metodista a produzir a Pastoral da Aids. Fui indicada pela Igreja Metodista e referendada pela Assembléia do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) a representar este Conselho na Comissão Nacional de Aids, ligada ao Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde. Na Unimep, instituição na qual trabalho desde 1991, criamos, com uma equipe interdisciplinar de docentes e discentes, o Fórum de AIDS da Unimep, ligado à Faculdade de Ciências da Religião, outro espaço que constantemente me exigia seguir pesquisando o tema.
A área da saúde é uma esfera da vida fundamental para a dignidade humana. Não há como estar no pastorado, na docência e no cuidado da vida sem enfrentar os jogos de poder que as culturas estabelecem para controlar, inferiorizar e ou "demonizar" o corpo. E a Igreja com sua teologia -- ou, no plural, as igrejas e suas teologias -- pode ajudar em processos de afirmação da vida digna ou não.
Como você avalia o papel das Igrejas na prevenção e apoio aos portadores do vírus HIV?
A participação das Igrejas, tanto na prevenção quanto no apoio e cuidado das pessoas vivendo com HIV/Aids, não é homogênea. Há muitas que assumiram desde o início da epidemia, na década de 1980, um forte trabalho pastoral de acompanhamento e cuidado das pessoas e famílias. Porém, toda a sociedade estava impregnada da visão de que a Aids era doença que atingia a um grupo muito determinado na sociedade e não tinha relação direta com as pessoas que estavam ligadas às Igrejas. O preconceito e a criação de estereótipos sobre alguns grupos sociais foram responsáveis, em grande parte, pelo aumento da soropositividade em mulheres casadas (que viviam em casamentos aparentemente monogâmicos), leigos e leigas, assim como clérigos e clérigas de várias denominações religiosas. Em pouco tempo, as Igrejas começaram a perceber a necessidade de romper o silêncio sobre temas como a sexualidade e a própria Aids. Documentos começaram a ser escritos - e as pastorais sobre Aids e Sexualidade, do Colégio Episcopal Metodista são desse período. Mas tanto o processo de prevenção quanto o do cuidado e acompanhamento das pessoas para a adesão ao tratamento ainda precisam ser muito aprimorados. Há grupos ecumênicos que têm ajudado a avançar muito nesse aspecto e não podemos perder tais alianças.
Existem estatísticas acerca de pastores(as) e membros leigos(as) portadores do vírus HIV?
Não tenho dados estatísticos recentes disponíveis, mas esse número não é pequeno. Outro dado é o direito que as pessoas têm de sigilo sobre sua sorologia. Contudo, há pessoas que têm assumido sua condição de soropositividade como forma de ajudar suas comunidades e a si mesmas a aceitá-las e superar preconceitos.
E a Igreja Metodista? Como tem agido perante este problema social?
Os sinais no nível institucional têm sido positivos, em vista dos documentos publicados e dos diversos encontros que já se realizaram, mas pode e precisa avançar de forma a integrar todas as comunidades em uma ação mais organizada e com mais segurança das questões teológico-bíblicas, da área da saúde e dos processos pastorais.
De maneira geral, a sexualidade é tema pouco abordado nas igrejas. Para várias pessoas, tratar da questão (aconselhando o uso do preservativo, por exemplo), parece ser um incentivo de conduta promíscua. Como a Igreja pode resolver este impasse colaborando com a educação sexual da juventude?
Não vejo que a inclusão do uso do preservativo nos processos de aconselhamento sobre HIV/Aids e as DST incentivem uma sexualidade sem responsabilidade. Ao contrário, leva às pessoas a pensarem seriamente como querem viver sua sexualidade como afirmação da dignidade da vida. Nesse sentido, a pastoral do Colégio Episcopal sobre sexualidade é muito arrojada. Ela não incentiva a relação sexual antes ou fora do casamento, mas reconhece que esta é uma realidade do tempo presente e não podemos fechar os olhos a ela e nem silenciar sobre o assunto, mas debatê-lo de modo que as pessoas - os adolescentes, jovens, homens, mulheres e idosos - saibam e conversem sobre suas dúvidas e questões e estejam mais bem preparadas para a vida em sua integralidade.
Suzel Tunes
Documento "AIDS: Desafio pastoral e solidariedade". Documento publicado pela Biblioteca Vida e Missão, Colégio Episcopal. Texto de: Tânia Mara Vieira Sampaio, Lair Gomes de Oliveira e Jorge Hamilton Sampaio.Para dowload deste arquivo, clique aqui.