Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

EECSN Magali Cunha

Espaço feminino se fortalece no CMI

A penúltima plenária da Assembléia elegeu os oito novos presidentes regionais, além dos 150 integrantes do Comitê Central. Dentre os cinco para a América Latina, foram eleitos a metodista brasileira, profa. Magali do Nascimento Cunha, e também o pastor Walter Altmann, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil - eleito também moderador do CMI. Nesta entrevista, a profa. Magali Cunha fala sobre sua eleição, o papel das mulheres e as perspectivas do ecumenismo.

Qual é o peso do Comitê Central?

O CC é o principal órgão de governo do CMI e responde pela instituição no interregno das assembléias, sendo responsável por levar adiante as políticas e projetos aprovados, avaliação, revisão e supervisão de programas de trabalho, bem como o orçamento.

Com a nova representação no Comitê, como você vê a atuação das mulheres?

 O Comitê de Indicações lembrou o compromisso do CMI em promover o equilíbrio com 50% de mulheres, 50% de leigos/as e 25% de jovens. As mulheres consideraram positivo seus 42% na representação. O mesmo não se pode dizer do nosso continente - dos seis representantes, apenas eu sou mulher e única leiga. Não há jovens. A eleição é feita a partir das indicações das igrejas-membro. Já as mulheres têm se destacado entre os/as presidentes do CMI e nas vice-moderações do CC, bem como na coordenação de programas e lideranças de comitês. A Década Ecumênica de Solidariedade com as Mulheres (89-98) foi determinante nesse processo. A Pré-Assembléia de Mulheres refletiu este contexto e o desejo em aperfeiçoar e ampliar sua participação.

E a 9ª Assembléia? Como você a percebeu?

Houve intensos momentos de espiritualidade e avivamento ecumênicos. Boa parte da programação foi dedicada aos cultos e estudos bíblicos, desenvolvendo a oração do tema "Deus, em tua graça, transforma o mundo". As plenárias temáticas Justiça Econômica; Identidade Cristã e Pluralidade Religiosa; Superação da Violência (liderada pelos jovens), América Latina (com a participação-chave da Umesp); Unidade Cristã e Deus, em Tua Graça, Transforma o Mundo, levantaram desafios a um eixo que permeou todo o evento: a reconfiguração do movimento ecumênico. Houve também o reconhecimento de que há novas formas emergentes de experiência ecumênica e a necessidade de o CMI se sintonizar com elas, respondendo aos desafios da unidade cristã e da responsabilidade social. Isto foi testemunhado na riqueza do "Mutirão" - espaço em que centenas de igrejas, grupos e organizações partilharam reflexões, projetos, atividades e sonhos.
 
Como docente, o que você espera do engajamento ecumênico dos acadêmicos?

Eu digo sempre que o ecumenismo não é opção, mas um mandato de Deus. A oikoumene - toda a terra habitada e nossa casa comum - é criação de Deus, que a ama e quer sua redenção. Como mordomos, dela somos responsáveis. Amor, misericórdia e respeito são atitudes-chave, a exemplo do ministério de Jesus. A diversidade é dom de Deus, não para se transformar em arma de combate, mas em instrumento de valorização do diferente e busca de unidade no que é comum. Senão, somos promotores de Babel e não de Pentecostes. O movimento ecumênico, fruto do ecumenismo-mandato-de-Deus, é um movimento com toda a variedade de expressões e com as buscas e contradições próprias de algo não acabado - por isso é movimento. Há pelo menos três dimensões nele, fruto da responsabilidade com a oikoumene - a busca da unidade cristã, a promoção da paz, da justiça e da integridade da criação, e o diálogo inter-religioso. Nossas ações ecumênicas podem assumir as três, duas ou mesmo uma só dimensão. O que importa são as atitudes-chave do amor, da misericórdia e do respeito ao outro. Este deveria ser o engajamento dos acadêmicos e de todos os que se dizem cristãos.

Quais as perspectivas após a realização da Assembléia no Brasil?

A Assembléia foi um recado nítido para as igrejas brasileiras: o Brasil é importante na história do movimento ecumênico. Os efeitos da opressão durante a ditadura militar, que usou a cultura antiecumênica para sufocar o compromisso público das igrejas em unidade, ainda são sentidos, mas podem ser superados. Para isso, a memória é significativa: Os testemunhos da Confederação Evangélica do Brasil e dos grupos que sobreviveram à ditadura. No arraial metodista, o engajamento ecumênico do dr. Tucker, do bispo Almir dos Santos e de tantos outros irmãos e irmãs, servem de motivação especialmente para a juventude que deve ser educada para a unidade e o respeito. Tive uma "inveja santa" ao ver jovens do mundo inteiro na Assembléia expondo atividades de responsabilidade social cristã, na denúncia e ação concreta em questões como a paz mundial, a solidariedade com as vítimas da tsunami, a justiça nas relações trabalhistas e a escassez de água no planeta. A juventude cristã brasileira já foi reconhecida assim; não é mais. A Assembléia no Brasil nos oferece a chance para reaprender e recriar a nossa história: crianças, jovens e adultos.

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