Publicado por Herbert em Administração, Expositor Cristão - 13/04/2014

Palavra episcopal: discípulas e discípulos em comunhão

Bispa Marisa de Freitas Ferreira
Pastora no exercício do episcopado

Há uma fala que é muito comum em nosso meio: "Precisamos nos unir, minhas irmãs e meus irmãos. Só assim poderemos vencer as adversidades.". Acredito que você ouviu isto por inúmeras vezes. E certamente já percebeu que, apesar de desejar essa união, não são muitas pessoas que a vivem.

Toda pessoa cristã deveria viver em comunhão com as irmãs e irmãos. Comungar com a família da fé deveria ser tão simples quanto o correr das águas dos rios em direção ao mar. Deveria sim. Mas não é o que se vê com frequência.

Na verdade, comunhão cristã não é uma escolha, é uma decorrência da conversão a Cristo Jesus. Quando se experimenta o encontro com o Senhor Jesus ressurreto, passa-se a uma nova condição: filhas e filhos do Deus Oni­potente. Dá-se início a uma longa caminhada de discipulado: cada dia é uma oportunidade para que "cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo" (Ef 4.15).

Sob a ação do Espírito Santo somos transformados/as por meio da Palavra e da convivência com os/as santos/as. A luz, que agora brilha em nós, tem o poder de extirpar as trevas que nos acompanham. A imagem e semelhança com o Pai vai sendo refeita a cada dia. É como restaurar uma obra de arte que se deteriorou com o tempo.

Desfazendo o nó

Ter desejo de viver em comunhão não é o bastante para que a mesma aconteça. Não se une em torno de Cristo por uma lógica mágica. Não. A unidade se estabelece por uma nova condição que se dá com a nova vida em Cristo. Discípulas e discípulos se reconhecem irmãs e irmãos. O amor de Cristo que as alcançou, revela-se em atos concretos de cuidado para com o/a outro/a.

Lendo os evangelhos verifica-se que isto ocorria em todo o tempo na vida das pessoas que a Cristo se convertiam. Foi assim com a mulher que sofreu, durante 12 anos, com hemorragia. Ao ser tocada por Jesus, pôde voltar à convivência com todas as pessoas ao seu redor (o que até então lhe era proibido, já que estava em condição de impura - Lv 15.27-30). Foi assim com os doze, que atendendo ao chamado de Cristo, passam a viver em intensa comunhão de vida, propósitos e ações (mesmo havendo traição e negação por parte, respectivamente, de Judas e Pedro).

São inúmeras as evidências de que a comunhão se dá sempre na vida das pessoas que vivem por Cristo. Jesus é o centro da vida de cada um/a e de todos/as. O que une é Cristo e a missão. Em decorrência da comunhão com Cristo, destaco o maior ato de amor de Deus à humanidade: para que todos/as sejam um só corpo em Deus, Jesus dá a sua vida por nós.

A morte na cruz é caminho de aglutinação de pessoas pecadoras que se arrependem dos seus pecados. Este ato de Cristo restaura vidas antes perdidas por desobediência a Deus. Em Cristo, são redimidas e passam a ser seguidoras dele. São, agora, discípulas e discípulos do Messias. Cristo passa a ser o centro de suas vidas.

Em união comum

Na vida cristã a comunhão é uma evidência de que Cristo é o Senhor das vidas. Como ele é o alvo, a comum união se dá em função dele. Ama-se como ele ama; vive-se em discipulado como ele viveu com os doze; socorre-se ao próximo como ele o fez; ora-se em grupo como ele fazia; parte-se o pão em uma mesa comum, tal como ele o fez tantas vezes; acolhe-se crianças, reconhecendo que o Reino do Pai é delas. E por aí vai. Perceba que a comunhão é algo inerente a quem confessa o nome de Jesus.

Viver como Cristo, tal como disse as bem-aventuranças, não é fácil. Também não é opcional. Quando o povo de Deus perde-se em desentendimentos e distanciamentos, pode-se afirmar que isso é decorrente de uma vida cristã fictícia e não legítima. Vive-se mais em religiosidade que em vida cristã. Na vida cristã o Espírito Santo dá conta de destituir a obra da carne e, em contra partida, gerar o fruto (Gl 6.16-26).

A alegria da vida em família de Deus é o que predomina. Já não se permite viver em discurso cristão vazio. O que marca a vida da pessoa convertida é exatamente a condição de ser serva. Os diversos dons suprem as necessidades do corpo. Há um movimento conjunto, que revela o poder de Deus em fazer de todos/as um só organismo. Os interesses pessoais já não predominam: mais vale obedecer a Deus que a pessoas.

Quando a igreja de Cristo vive esta unidade em torno dele, o mundo passa a crer que Deus existe. Não são necessárias tantas palavras: o visível fala do invisível e atrai as pessoas. É puro poder de Deus no meio do seu povo. É alegria no Senhor!

É vida, e vida abundante! Que o Senhor nos mantenha com os olhos fixos nele. Só assim a comunhão brotará como água cristalina que mata a sede. No Caminho, em discipulado.


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