Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Dia mundial da paz texto

Pax, paix, pace, paz; do latim às línguas neolatinas; eirene, shalom, respectivamente grego e he­braico, e, em todas as línguas e dialetos, P A Z é o vocábulo que expressa a realidade ardentemente almejada por todos os povos, em todos os tempos; dos indivíduos às famílias, das tribos às nações. O eterno conflito humano remonta a tempos imemoriais, desde o alvorecer da presença humana na terra, em consonância com a narrativa bíblica: Caim tirou a vida de Abel (Gn 4.8-9).

Examinando a História, constatamos que os grandes impérios: o Egípcio, Assírio, Babilônico, Persa, Grego, o Império Romano e até os do século XX, todos se envolveram em guerras sangrentas acompanhadas do inseparável séquito de corrupção, imoralidade e mentiras, sinalizando o declínio de sua hegemonia, e con­sequente desaparecimento.

Nos últimos seis mil anos 14 mil guerras macularam a caminhada da "civilização".

No último século, o mais violento de todos, foram travadas duas guerras mundiais, o Oriente Médio foi palco de conflitos per­manentes e o continente africano, em flagrante desrespeito às convenções internacionais, tem sido selvagem campo de batalhas, sem tréguas e sem armistício.

A Segunda Grande Guerra Mundial (1939-45) envolveu 72 países, mobilizou 110 milhões de homens e mulheres e deixou um saldo catastrófico de, aproximadamente, 55milhões de mortos, 35 milhões de feridos, 28 milhões de mutilados, 20 milhões de crianças órfãos e 19 milhões de refugiados. As duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos, em agosto de 1945, provocaram o holocausto de Hiroshima e Nagakaki, no Japão.

Ao terminar esta guerra, os líderes mundiais reuniram-se e, em nome dos sobreviventes, criaram a Or­ganização das Nações Unidas (ONU) com o propósito de evitar novas guerras e impedir, pelo menos por cem anos, a eclosão de conflitos entre os povos. Debalde! Frustrados foram tais propósitos! Poucos anos após, o rastilho da discórdia e da violência reiniciou pavoroso incêndio em várias partes do mundo: houve as guerras da Indochina, da Coreia, da Argélia, coloniais, na África, do Vietnam, do Yom Kippur, do Timor Leste, Irã-Iraque, Falklands, do Golfo, dos Balcãs, Afganistão e a atual e famigerada guerra do Iraque, cujo fim é de impossível previsão.

Atualmente, os arsenais nucleares de inimaginável potência, as armas químicas e bacteriológicas são capazes de destruir o mundo milhares de vezes! Existem 10 países que dispõem de armas nucleares e suas Forças Armadas mantém um efetivo de l0 milhões de combatentes, além de mais 30 países prestes a dominar a tecnologia nuclear.

O Pecado e o Predomínio da Violência

Observando a descrição acima, que demonstra a que lastimável ponto de indignidade é capaz de che­gar o ser humano, concluímos incontinenti que, por óbvio, os protagonistas destas cenas dantescas não agiram sob inspiração divina. A corrupção universal do gênero humano corrompeu-o integralmente, por isto é perma­nentemente tendente à prática do mal; é escravo do pecado e o escravo obedece as ordens do seu senhor.

O homem é o único ser da criação dotado de personalidade e livre arbítrio; no entanto optou, delibera­damente, por uma conduta de agressividade em relação ao próximo e à Natureza em ostensiva violação à lei divina que ensina a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22.36-40), por isso, sofre as inexoráveis consequências de sua equivocada opção.

O filósofo inglês Tomas Hobbes cunhou esta frase emblemática: Homo lupus homini (o homem é o lobo do homem). Movido por uma força maligna, que o domina, o seu objetivo é devorar o seu irmão.

O cientista Albert Einstein, pai da Teoria da Relatividade, judeu, nascido em Wirttenberg, na Alema­nha, considerado o maior gênio de todos os tempos, afirmou que o traço mais distintivo da natureza humana é a agressividade. Respondendo à pergunta sobre quais seriam as armas usadas na 3ª Guerra Mundial, asseverou que preferia dizer quais serão usadas na 4ª Guerra Mundial, se restar algum ser vivo: serão paus e pedras, pois tudo que foi construído até hoje, será reduzido a cinzas. Segundo o filósofo Karl Jasper a guerra existe desde os primórdios da vida porque ela tem origem na própria natureza humana e o escritor Tennesse Williams escreveu que o homem destrói a si mesmo e acabará por destruir toda a sua espécie.

A guerra é a síndrome da violência e do ódio, o embotamento da consciência enferma, a coisificação brutal da obra-prima do Criador, atestado incontestável da submissão às hostes das trevas.

Não só os humanos, mas também a Terra foi atingida pela universalidade e maldição do pecado. Após a queda do homem, Deus disse a Adão: "... maldita é a terra por tua causa" (Gn 3.17b). A violência, a ambição desregrada e o egoísmo, frutos do pecado da desobediência, infelicitaram a própria Natureza: 40% da área dos oceanos está gravemente prejudicada pela ação do homem. A grande quantidade de dióxido de carbono (C02) despejada na atmosfera provoca o aquecimento do planeta, o que causa secas e a diminuição drástica da pro­dução de alimentos gerando fome, inundações, acidificação dos oceanos e extinção de espécies. Metade dos rios da terra está contaminada por esgoto, agrotóxicos e lixo industrial. A degradação e a pesca predatória ameaçam reduzir em 90% a oferta de peixes utilizados para a alimentação.

A Verdadeira Paz

A causa fundamental de todos os conflitos, erros e desacertos humanos é o pecado resultado do afas­tamento de Deus. "Quando Adão e Eva ouviram a voz do Senhor... esconderam-se de Sua presença" (Gn 3.8b). Após cometer o fratricídio (crime de morte de irmão por irmão) "Retirou-se Caim da presença do Senhor..." Gn 4.16a).

A tão almejada paz e concórdia, sob todos os aspectos, será possível quando Cristo reinar em todos os corações. A paz é o fruto de uma vida de comunhão com Deus, portanto, de submissão e obediência às suas ordenanças e respeito a toda a criação A condição sine qua non, absolutamente necessária para alcançá-la, é ouvir a voz de Deus. O salmista declara "a voz do Senhor é poderosa, a voz do Senhor é cheia de majestade" (Sl 29.4), "Ele põe termo à guerra até aos confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança: queima os carros no fogo" (Sl 46.9).

Enquanto a voz da astuciosa serpente, personificando o tentador, na dicção do Gênesis, 3.1-7, estiver substituindo a voz de Deus levando à desobediência, e a oferta do tentador no deserto, -"... mostrou-lhe num momento todos os reinos do mundo. Disse o diabo a Jesus: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, tudo isto será teu." (Lc 4.5-8)-, continuar despertando o incontido fascínio dos homens emulheres, a pazjamais reinará no mundo. A oferta diabólica que Jesus rejeitou na tentação no deserto foi aceita integral e incondicionalmente pelo homem. A humanidade sem Deus vive "... segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhosdadesobediência" (Ef 2.2).

Celebrando esta data que começou a ser comemorada em 1º de janeiro de 1968, lembremo-nos de que a P A Z, o Shalom do Antigo Testamento, necessita, urgentemente, ser estabelecida no mundo. (Este vocábulo hebraico é de difícil tradução tal a riqueza de seu conteúdo. Os tradutores da Septuaginta, LXX, a mais im­portante tradução grega deste Testamento, traduziram-na com vinte e cinco sentidos diferentes). Con-sideremos esta palavra com o sentido de algo completo, harmonia, bem-estar, realização, felicidade plena e paz per­feita. Em o Novo Testamento, a paz precede o estabelecimento da comunhão com Deus e a remoção da inimi­zade centrada no pecado. A paz entre os homens faz parte do propósito pelo qual Cristo morreu na cruz e das operações do Espírito Santo. A paz há de ser o sublime propósito de cada pessoa a irradiar-se por todo o uni­verso das relações humanas. Todos nós devemos ser agentes e instrumentos de sua promoção. "Assim, pois, sigamos as coisas da paz... uns para com os outros" (Rm 14.19). "Vivei em paz uns com os outros" (1Ts 5.13b). "Ora, o Senhor da paz, ele mesmo, vos dê continuamente a paz em todas as circunstâncias" (2Ts 3.16). A verdadeira paz Cristo deixou para toda a humanidade: "Deixo-vos a PAZ a minha PAZ vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá..." (Jo 14.27 a).

Quando a humanidade toda, homens e mulheres, receberem, voluntária e cordialmente, tão preciosa dádiva deixada por Cristo, não haverá no calendário dos povos, tão somente um dia dedicado à Paz. O pre­sente e o futuro, o tempo e o espaço, e, a própria eternidade, serão permanente cenário para a universal cele­bração da Paz, dom divino, que excede a toda compreensão humana.

Prof. Dr. Ivam Pereira Barbosa

Bibliografia

* Silva, Francisco de Assis

História Geral :Antiga e Medieval

São Paulo, Ed.Moderna, 1985

* Pazzinato, Alceu Luiz

História Moderna e Contemporânea

São Paulo, Ed.Ática, 1994

* O Novo Dicionário da Bíblia

São Paulo, Vida, 1995

* Diccionário de La Bíblia

Editorial Herder Barcelona, 1963

(dezembro de 2008)


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