Publicado por Comunicação em Pastoral do Combate ao Racismo - 21/03/2025
Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial
O Humano Desafio de Lutar Contra a Discriminação Racial
21 de março é o Dia Internacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1966.
A data foi escolhida em memória do massacre de Sharpeville, na África do Sul, em 1960. Nesse dia, a polícia abriu fogo e matou 69 pessoas e mais de 180 ficaram feridas durante uma manifestação pacífica contra leis que aprofundavam o Apartheid - o termo apartheid significa "separação" ou "identidade separada". Serviu para designar o regime político da África do Sul que, durante décadas, impôs a dominação da minoria branca (ou aristocracia branca) sobre grupos pertencentes a outras etnias, compostos em sua maioria por negros.
E ao falar sobre eliminação da discriminação racial relembro escritos que fiz ao falar sobre Consciência Negra.
Teólogos e Historiadores altamente sérios e comprometidos com a justiça, despertaram minha consciência de que a Bíblia foi indevidamente utilizada para legitimar o racismo. O texto de Gênesis 9.18-27 que fala sobre a maldição de Noé sobre seu neto Canaã, filho de Cam, foi de maneira errônea e maldosa, interpretado para identificar os negros como os descendentes de Cam, por isso amaldiçoados.
O saudoso professor, escritor, jornalista e historiador Joel Rufino dos Santos, considerando ser o conceito de racismo resultado de ignorância e interesse de dominação reforçados pelas teorias “científicas” produzidas no século XIX, nos diz que “Racismo é a suposição de que há raças e, em seguida, a caracterização biogenética de fenômenos puramente sociais e culturais. É também uma modalidade de dominação ou, antes, uma maneira de justificar a dominação de um grupo sobre o outro, inspirado nas diferenças fenópiticas (que pode sofrer diversas modificações durante o desenvolvimento do organismo) da nossa espécie. Ignorância e interesses combinados”.
A experiência branca europeia sempre foi a maior responsável pela criação de teorias falsas sobre a inferioridade do negro e a superioridade do branco. Mas, a raça deixou de ser uma categoria biológica com a publicação da pesquisa feita por uma equipe de cientistas chefiadas pelo biólogo Alan Templeton, que comparou oito mil amostras genéticas colhidas aleatoriamente de pessoas de todo o mundo, comprovando, após as análises, que não há raças entre os seres humanos, porque, diz ele “as diferenças genéticas entre os grupos das mais distintas etnias são insignificantes. Para que o conceito de raça tivesse validade científica, essas diferenças teriam de ser muito maiores”.
O Conselho Mundial de Igreja (CMI), em seu estudo bíblico Justiça Transformadora – Ser Igreja e Superar o Racismo declara que: “O racismo representa modos de exclusão, subordinação, inferiorizacão, exploração e repressão determinados pelo contexto. Hoje em dia é amplamente aceito que raças são um constructo (construção puramente mental, criada a partir de elementos mais simples, para ser parte de uma teoria) social e que a humanidade pertence a uma única raça: a raça humana...”.
Devemos estar atentos para nos conscientizarmos de erros históricos que tanto sofrimento trouxeram e de maneira diferente continuam trazendo ao mundo. Devemos contestar veementemente o uso distorcido da Bíblia Sagrada para fortalecer preconceitos (crença prévia, preconcebida). Entender que Miriam e Arão censuraram Moisés, porque ele havia escolhido para sua esposa uma etíope (Números 12), que o texto bíblico já mencionado (Genesis 9.18-27) legitimou um direito teológico para impor a escravidão sobre os africanos. A escravidão no Brasil durou três séculos, de 1550 até 1888. Foram 300 anos de muita injustiça. O tráfico negreiro foi naturalizado por uma teologia racista que dizia que o processo de colonização e exploração de escravos era uma forma de livrá-los da perdição eterna.
Esta deve ser uma data para enfatizarmos que a luta pela eliminação da discriminação racial deve ser de toda a raça humana, de todos os seres humanos.
Rev. Luiz Daniel Nascimento
Coordenador da Pastoral de Combate ao Racismo da 1ª RE