Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013

Dia da Pátria

Fé, religião e política

Um comitê do CMI, Conselho Mundial de Igrejas, reunindo em Genebra de 13 a 20 de fevereiro de 2008, afirmou: "Ainda que a Bíblia não descreva um sistema político de maior autoridade, indica que qualquer sistema tem potencial tanto para a participação, quanto para o abuso do poder". *

Essa afirmação pode ser lida de várias formas.  Uma delas é que a recusa das religiões em interferir em assuntos políticos, pode representar um modo velado de sustentar os abusos políticos cometidos em todo o mundo e, por conseguinte, contribuir para o impedimento de qualquer participação do povo, ou seja, das comunidades populares, onde as religiões poderiam intervir de modo positivamente transformador.

Portanto esse tema é entendido como parte da missão, entre os/as cristãos/ãs conscientes que "Reino" que Deus quer para seu povo é para hoje, e que passa pelas decisões políticas, que regem questões como moradia, saúde, educação básica, meio ambiente e refreamento da corrupção; que tira da boca dos pobres e alimenta os políticos corruptos com luxo suntuoso.

Continua o documento do CMI: "A tradição Cristã afirma que os cristãos devem aceitar a responsabilidade de participar dos sistemas políticos civis, e também devem aceitar a responsabilidade de defender a justiça, a compaixão, a moralidade quando os que têm autoridade abusam de seu poder"*. Traduzindo em letras pequenas, quando os cristãos assim não procedem, perdem relevância, não salgam e não jogam luz na escuridão que assola o povo sofrido dos continentes. O quê se assiste, a partir daí, é o apodrecimento a céu aberto dos sistemas que deveriam garantir o frescor da vida.

A política não é ruim, ela só é deletéria quando não cumpre o papel de promotora da vida. E nesse sentido a religião também é maléfica, na medida em que não se alia à política para juntas, conceder condições para que a vida humana e o ecossistema se renovem dentro do desenho planejado pelo Criador.

A 9ª Assembléia do CMI realizada em Porto Alegre, Brasil de 14 a 23 de fevereiro de 2006, sob o tema: "Deus em Tua graça transforma o mundo", trouxe os eixos que  continuamente devem ser lembrados pelos cristãos e ONGs mundiais. Somente a fé aliada ao poder das organizações religiosas e políticas poderá representar o "Reino de Deus", que é para agora.

Parte-se do pressuposto que as organizações religiosas se distinguem das organizações políticas seculares, por abrigarem menos, ou nenhuma corrupção em seus quadros; e por intervirem no sentindo de coibir todas as formas abusivas e corruptas de poder na sociedade. O Comitê do CMI destaca: "Os cristãos cumprem fielmente sua função dentro de muitos sistemas políticos diferentes e, com freqüência, são desafiados a desempenhar funções influentes no seio desses sistemas. Ao fazer isto, cumprem o chamado de ser o sal e luz,; que salga e que ilumina qualquer sistema em que participem".*

Dito isto, é completamente incompreensível a prática, especialmente de líderes, que se alienam e afirmam que fé, religião e política são, entre si, incomungáveis. Num contexto em que os sistemas políticos mundiais são questionados sobre relevância em resolver ou ao menos amenizar o sofrimento das classes socialmente excluídas, cabe perguntar pela relevância dos cristãos e das organizações religiosas mundiais, sintetizadas nas seguintes perguntas: Realizam ações voltadas a garantir a transparência dos processos eleitorais democráticos? Colaboram na formação, desenvolvimento e conscientização política dos/as eleitores/as? Acompanham e denunciam os abusos do poder econômico de candidatos/as e partidos políticos?  Adotam postura apartidária ou cedem às barganhas e acordos escusos? Promovem ambiente de engajamento da comunidade no processo eletivo? Ou alimentam a alienação massiva do povo?

Em tempos de eleições, refletir sobre os aspectos da fé, da religião e da política é uma pauta que deve ser priorizada frente ao marcado neoliberal, promotor de desigualdades. Pois a fé é instrumento de superação das utopias; e a religião, quando comprometida, alimenta a fé. E a política? Ora, a política é o lugar onde a fé e a religião colhem (ou não) os resultados dos esforços e interferências dos humanos no mundo.

Para as religiões cristãs, o exemplo do ministério político de Jesus deve ser "re-lido" continuamente. Jesus não foi crucificado por pregar uma nova religião; nem por sua fé. Foi morto por intervir e suscitar o povo a reagir contra modelos políticos excludentes.

Maria Newnum, pedagoga e mestre em teologia prática.

 

*Fonte: http://www.oikoumene.org/es/documentacion/documents/comite-central-del-cmi/ginebra-2008/informes-y-documentos/cuestiones-de-actualidad/declaracion-sobre-los-procesos-electorales-democraticos.html

 

Veja também:

A reflexão do Rev. Rev. Ivam Pereira Barbosa sobre o Dia da Pátria

 


Posts relacionados

Geral, por Comunicação

Aniversariante do Dia 05/08

  Rev. Augusto Piloto S. Junior

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães