Publicado por José Geraldo Magalhães em Expositor Cristão, Pastoral do Combate ao Racismo, Geral - 30/04/2014
Denúncia contra o Racismo
Eva Regina Pereira Ramão
Referência Nacional de Combate ao Racismo
No dia 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea que aboliu a escravidão no Brasil. O país foi o último a libertar os africanos/as e afro-brasileiros/as escravizados/as. Aos libertos não foi assegurado o acesso à terra e não havia assistência social ou econômica. Não tinham educação formal e, em sua maioria, não eram alfabetizados. Não houve ações do governo para integrá-los à sociedade de forma que pudessem ascender socialmente e participar da vida política.
Ao contrário, proibiram as crianças negras de frequentarem as escolas. Portanto, nada há para comemorar! Os movimentos sociais negros transformaram o dia 13 de maio em Dia Nacional de Denúncia Contra o Racismo. Hoje, a situação dos/as afro-brasileiros/as ainda é muito semelhante àquela do dia 13 de maio de 1988: não possuem acesso à terra, propriedade e, em sua maioria, possuem baixa escolaridade e recebem baixa remuneração.
Poucos/as desempenham funções públicas de juiz/a ou promotor/a. O acesso à universidade ainda é pequeno. A desigualdade continua grande entre negros/as e não negros/as. É preciso chamar a atenção para a mulher negra que é discriminada enquanto negra, pobre e mulher.
Entre os trabalhadores domésticos existe um contingente enorme de mulheres. Segundo dados da Secretaria de Políticas para Mulheres, 95% deles são mulheres, sendo 60% negras. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 5 milhões de empregadas domésticas não possuem registro na carteira de trabalho. O trabalho das empregadas domésticas no Brasil ainda é muito semelhante ao que era realizado pelas negras escravizadas, com jornadas de trabalho é excessivas chegando até a 14 horas diárias.
Lembramos aqui de Cláudia Silva Ferreira, morta aos 38 anos, num domingo, no Morro da Congonha, Rio de Janeiro/RJ, durante tiroteio entre polícia e traficantes. Os policiais colheram seu corpo do chão e colocaram no porta-malas. Ainda estava viva. No caminho, o porta-malas se abriu, o corpo dela foi jogado para fora, ficou pendurado na traseira do carro e foi arrastado por 250 metros.
Houve muita indignação por parte da sociedade, entretanto, para muitos, passou simplesmente como mais um caso policial. A sociedade brasileira é racista e o racismo é tão intenso que aparece até nos momentos de diversão como nos campos de futebol. Os recentes casos de racismo no futebol, envolvendo o árbitro gaúcho Márcio Chagas da Silva, o santista Arouca e o cruzeirense Tinga, ocorridos em menos de um mês, indignaram a todos/as cidadãos/ãs defensores/as dos direitos humanos.
O jornalista David Coimbra, em sua coluna no jornal Zero Hora de 11 de março de 2014, diz: “Os 300 anos de escravidão do Brasil são uma mácula horrenda que o Brasil jamais teve coragem de expor. Uma culpa nunca expiada. E, mais do que mácula e culpa, é um episódio definidor do caráter e da história do brasileiro. Por isso, toda reação a manifestações racistas será bem–vinda no Brasil. Ser chamado de gringo ou alemão nunca foi pejorativo. Chamar alguém de macaco é ofensa no mundo inteiro pela conotação histórica que a palavra ganhou. Pelo que o homem branco fez com o homem negro”.
O racismo contra o/a negro/a atinge a todos/as, desrespeita a pessoa humana, mas também a outros povos e nações. Nelson Mandela, Madiba, como era chamado, uns dos maiores heróis da luta dos/as negros/as pela igualdade de direitos na África do Sul, dizia que ninguém nasce racista, o racismo é ensinado.
A educação é essencial para desconstruir o racismo e deve acontecer na família e na sociedade. A Igreja tem um papel importante e urgente a desempenhar neste sentido. Na Copa do Mundo no Brasil, não poderemos esquecer que o maravilhoso futebol é abastecido pelo talento de jovens da periferia e muitos são negros.
O mundo tem conhecimento dos atos racistas no futebol, mas acho que nós, brasileiros/as, deveremos fazer um esforço para que não aconteçam atos de racismo durante os jogos da Copa, quer nos estádios ou fora deles. Nós cristãos/ãs não podemos fechar os olhos para a realidade, precisamos ser voz profética na desconstrução do racismo estrutural da sociedade brasileira, reconhecendo o pecado do racismo, externando a sua inconformidade com os atos de racismo, preconceito e qualquer forma de discriminação.
Assim, estaremos testemunhando Cristo, que deu a Sua vida para que todos/as tenham vida plena e abundante.
Dica de Filme
12 Anos de Escravidão
Oscar de melhor filme (2014)
Duração: 133 min.
1841. Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor) é um escravo liberto, que vive em paz ao lado da esposa e filhos. Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, ele é sequestrado e acorrentado. Vendido como se fosse um escravo, Solomon precisa superar humilhações físicas e emocionais para sobreviver. Ao longo de doze anos ele passa por dois senhores, Ford (Benedict Cumberbatch) e Edwin Epps (Michael Fassbender), que, cada um à sua maneira, exploram seus serviços.