Publicado por José Geraldo Magalhães em Destaques Nacionais - 24/09/2015

Credo Social da Igreja Metodista: nossas bases bíblicas

 

CREDO SOCIAL
Disponível em PDF no Cânones 2017, a partir da página 39

Art. 4°. - A doutrina social da Igreja Metodista se expressa no Credo Social, objeto de decisão do 16°. Concílio Geral, conforme segue:

I -  Nossa herança

1.A Igreja Metodista afirma sua responsabilidade cristã pelo bem-estar in­ tegral do ser humano como decorrência de sua fidelidade à Palavra de Deus expressa nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento.

  1. Essa consciência de responsabilidade social constitui parte da preciosa he­ rança confiada ao povo metodista pelo testemunho histórico de João Wesley.
  2. O exercício dessa missão é inseparável do  Metodismo  Universal  ao qual está vinculada a Igreja Metodista por unidade de fé e relações de ordem estrutural estabelecidas nos Cânones.
  3. A Igreja Metodista participa dos propósitos de unidade cristã e serviço mundial, do CMI (Conselho Mundial de Igrejas), do Ciemal (Conse­ lho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e Caribe), do Clai (Conselho Latino-Americano de Igrejas) e do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs).
  4. No presente século de gigantesco progresso científico e tecnológico, a Igreja Metodista reafirma a verdade proclamada por João Wesley, no século XVIII, na Inglaterra: "Vamos unir ciência e  piedade  vital  há tanto tempo separadas".


     II - Bases bíblicas

1.Cremos em Deus, Criador de todas as coisas e Pai de toda a família hu­ mana, fonte de todo o Amor, Justiça e Paz, autoridade soberana sem­ pre presente.

  1. Cremos em] esus Cristo, Deus Filho, que se fez homem como cada um de nós, amigo e redentor dos pecadores e das pecadoras, Senhor e Ser­ vo de todos os homens e de todas as mulheres, em quem todas as coisas foram criadas.
  2. Cremos no Espírito Santo, Deus defensor, que conduz os homens e as mulheres livremente à Verdade, convencendo o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
  3. Cremos que o Deus único estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, criando uma nova  ordem  de relações  na História, perdoando  os pecados dos homens e das mulheres e encarregando-nos do ministé­ rio da reconciliação.
  4. Cremos no Reino de Deus e sua Justiça, que envolve toda a criação, chamando todos os homens e todas as mulheres a se receberem como irmãos e irmãs participando, em Cristo, da nova vida de plenitude.
  5. Cremos que o Evangelho, tomando a forma humana em Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, o carpinteiro, éo poder de Deus que liberta comple­ tamentetodas as pessoas, proclamando que não existe nenhum valor acima da pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus.
  6. Cremos que a comunidade cristã universal é serva do Senhor; sua missão nasce sempre dentro da missão  do  seu  único Senhor  que  é Jesus  Cristo. A unidade cristã é a dádiva de sacrifício do Cordeiro de Deus; viver divi­ didos é negar o Evangelho.
  7. Cremos que são bem-aventurados/as os/as humildes de espírito, os/as que sofrem, os/as mansos/as, os/as que têm fome e sede de  justiça,  os/ as que praticam a misericórdia, os/as simples de coração, os/as que tra­ balham pela paz, os/as que são perseguidos/as pela causa da justiça e do nome do Senhor.
  8. Cremos que a Lei e os Profetas se cumprem em amar a Deus com todas as forças da nossa vida e em amar ao nosso próximo como a nós mesmos. Pois ninguém pode amar a Deus e menosprezar a seu irmão e a sua irmã.
  9. Cremos que ao Senhor pertence a terra e a sua plenitude, o mundo e to­ dos e todas que nele habitam; por isso proclamamos que o pleno desenvol­ vimento humano, a verdadeira segurança e ordem sociais só se alcançam na medida em que todos os recursos técnicos e econômicos e os valores institucionais estão a serviço da dignidade humana na efetiva justiça social.
  10. Cremos que o culto verdadeiro que Deus aceita dos homens e das mu­ lheres é aquele que inclui a manifestação de uma vivência de amor, na prática da justiça e no caminho da humildade com o Senhor.

III - A   ordem político-social e econômica

  1. A natureza social do homem e da mulher procede da ordem da cria­ ção e significa que sua plena realização só é alcançada na vida em comunidade.
  2. A comunidade familiar, resultante da natureza humana, a ordem eco­ nômica, resultante do conjunto das atividades humanas de produção, consumo e comércio de bens, e a ordem política expressam exigências da própria ordem da criação divina.
  3. O Estado é exigência básica, não só para a defesa da vida e liberdade da pessoa humana, mas para a promoção do bem-comum mediante o desenvolvimento da justiça e da paz na ordem social.
  4. Os quesitos do Bem-Estar Social (saúde, segurança, educação, etc.) são direitos garantidos a todo e qualquer cidadão e a toda e qualquer cidadã.
  5. O ser humano tem o dever de administrar a terra e seus recursos, que Deus lhe confiou, segundo os critérios do Senhor. Um dos caminhos para a efetiva atuação na transformação da sociedade é a participação na elaboração de políticas públicas justas.
  6. Em cada época e lugar surgem problemas, crises e desafios através dos quais Deus chama a Igreja a servir. A Igreja, guiada pelo Espírito San­ to, consciente de sua própria culpabilidade e instruída por todo conhe­ cimento competente, busca discernir e obedecer à vontade de Deus nessas situações específicas.
  7. A Igreja Metodista considera, na presente situação do país e do mun­ do, como de particular importância para sua responsabilidade social o discernimento das seguintes realidades:
  1. Deus criou os povos para constituir uma família universal. Seu amor reconciliador em Jesus Cristo vence barreiras entre irmãos e irmãs e destrói toda forma de discriminação entre os homens e as mulheres. A Igreja é chamada a conduzir todos e todas a se receberem e a se afirmarem uns aos outros e umas às outras como pessoas em todas as suas relações na família, na comunidade, no trabalho, na educação, no lazer, na religião e no exercício dos direitos políticos.
  2. A reconciliação do mundo em Jesus Cristo é a fonte da justiça, da paz e da liberdade entre as nações; todas as estruturas e poderes da sociedade são chamados a participar dessa nova ordem. A Igreja é a comunidade que exemplifica essas relações novas do perdão, da justiça e da liberdade, recomendando-as aos governos e nações como caminho para uma política responsável de cooperação e paz.
  3. A reconciliação das nações se torna especialmente urgente num tempo em que países desenvolvem armas nucleares, químicas e biológicas, desviando recursos ponderáveis de fins construtivos e pondo em risco a humanidade.
  4. A reconciliação do homem e da mulher em Jesus Cristo torna claro que a pobreza escravizadora em um mundo de abundância é uma grave violação da ordem de Deus; a identificação de Jesus Cristo com o necessitado e com a necessitada e com os oprimidos e as opri­ midas, a prioridade da justiça nas Escrituras, proclama que a causa dos/das pobres do mundo é a causa dos Seus discípulos.
  5. A pobreza de imenso contigente da família humana, fruto dos de­ sequilíbrios econômicos, de estruturas sociais injustas, da explora­ ção dos indefesos e das indefesas, da carência de conhecimentos, é uma grave negação da justiça de Deus.
  6. As excessivas disparidades culturais, sociais e econômicas negam a justiça e põem em perigo a paz, exigindo da sociedade, como um todo, intervenção competente com planejamento eficaz para vencê-las.
  7. É injusto aumentar a riqueza dos ricos e das ricas e poder dos/das fortes confirmando a miséria dos/das pobres e oprimidos e opri­ midas. Os programas para aumentar a renda nacional precisam criar distribuição equitativa de recursos, combater discriminações, vencer injustiças econômicas e libertar o homem da pobreza.
  8. No individualismo e no coletivismo, tanto quanto em programas de crescimento econômico e justiça social, encontramos os riscos de humanismos parciais. Urge que se promova o humanismo ple­ no. A plena dimensão humana só se encontra nas novas relações criadas por Deus em Jesus Cristo.
  9. A Igreja Metodista reconhece os relevantes serviços  da  Organi­ zação das Nações Unidas no aprimoramento  e defesa  dos  Direi­ tos Humanos, assim como seus esforços em favor da justiça e da  paz entre  as  nações.  Recomenda  como  extremamente  oportunos a Declaração Universal dos Direitos Humanos e documento sobre Desenvolvimento e Progresso Social, adotado pela Assembleia em dezembro de 1969.

IV- Responsabilidade civil

  1. A Igreja Metodista reconhece que é sua tarefa docente capacitar os mem­ bros de suas congregações para o exercício de uma cidadania plena.
  2. O propósito primordial dessa missãoé servir ao Brasil por meio da par­ ticipação ativa do povo metodista na formação de uma sociedade cons­ ciente de suas responsabilidades.
  3. A sociedade consciente de suas responsabilidades  desenvolve-se  em três níveis básicos:
  1. de responsabilidade da comunidade como um todo perante Deus, especialmente na criação de condições de igual participação de todos os seus membros;
  2. de responsabilidade do cidadão e da cidadã para com a justiça e a ordem pública na comunidade;
  3. de responsabilidade dos/das que exercem o governo quanto ao uso que fazem do poder.
  1. Nesse propósito, a Igreja adota a Declaração Universal dos Direitos Humanos e reafirma os critérios definidos  no  relatório  especializado do Conselho Mundial de Igrejas em sua II Assembleia, reunida em Evanston (EUA), em 1954, nos seguintes termos:
  1. criação de canais adequados de ação política a fim de que o povo tenha a liberdade de escolher seu governo;
  2. proteção jurídica a todos e todas contra prisões arbitrárias e quais­ quer atos que interfiram em direitos humanos;
  3. liberdade de expressão legítima de convicções religiosas, éticas e políticas;
  4. a família, a igreja, a universidade, associações com fundamentos próprios demandam proteção do Estado e não o controle estatal em sua vida interna.
  1. A soberania de Deus revelada na encarnação de Jesus Cristo sobre todas as autoridades e poderes da sociedade é a garantia última, reconhecida ou não,da responsabilidade do homem e da mulher para com o/a seu/ suasemelhante.

 

V- Problemas sociais

Problemas sociais são manifestações patológicas do organismo social como um todo; originam-se de situações estruturais da sociedade e da mentalidade das pessoas, conduzindo-as a condições de vida infra-humana e produzindo a marginalização socioeconômica e cultural de indivíduos e populações.

Os problemas sociais são causa e efeito da marginalização passiva ou ativa  das pessoas e dizem respeito às carências nos setores básicos de Alimentação, Educação, Habitação, Saúde, Cultura, Carência de Fé Cristã, Recreação, Tra­ balho, Comunicação Social, Seguro Social e às manifestações da conduta hu­ mana que se opõem às normas estabelecidas por determinada sociedade. Os problemas sociais são próprios de determinada comunidade em determinada época e, por isso, precisam ser analisados no contexto socioeconômico e cul­ tural específico.

A Igreja Metodista considera que:

  1. O ser humano como pessoa criada à imagem e semelhança de Deus é a realidade para a qual devem convergir todos os valores e recursos da sociedade.
  2. A pessoa humana é membro do corpo social e dele simul­ taneamente agente e sujeito.
  3. A sociedade é um todo social, sujeito permanentemente à influência de fatores que o modificam, que o pressionam impondo mu­ danças profundas no comportamento humano.
  4. Para que uma sociedade traduza o sentido cristão de huma­ nidade é necessário que, a par com a mudança das estruturas sociais, se processe uma transformação da mentalidade humana. O sentido cristão de humanidade só pode ser alcançado em uma sociedade na qual as pessoas tenham vida comunitária, consciência de solidariedade humana e de responsabilidade social.
  5. Individualismo e massificação são causas graves de proble­ mas sociais; ambos negam o Evangelho porque despersonalizam o ser humano.
  6. A comunidade familiar expressa exigências fundamen­ tais da criação divina. A família está sujeita à insegurança econômi­ ca, às tensões e aos desajustamentos que acompanham as mudanças socioculturais. O planejamento familiar é um fator essencial; dele re­ sultam a paternidade e maternidade responsáveis, o compromisso de cada pessoa que compõe a família, o ajustamento entre os cônjuges, a educação dos/das filhos/as, a administração do lar.

a) A Igreja Metodista aceita e recomenda o uso dos recursos da medicina moderna para o planejamento familiar, quando não contrariam a ética cristã. O sexo, na ética cristã, é considerado dádiva de Deus à vida por Ele mesmo criada. A educação para a vivência da sexualidade é uma responsabilidade da família, da igreja e das instituições educacionais.

  1. O Evangelho concede à Igreja recursos de natureza ética para acolher em seu seio casais constituídos sem amparo da legislação vigente.
  2. A prostituição é grave alienação da pessoa humana, exi­ gindo tratamento responsável. No tratamento da prostituição, que constitui grave problema na sociedade brasileira, é impossível ignorar um complexo de fatores como fonte causadora dela: limitações de or­ dem pessoal, estruturas defeituosas da sociedade, carências culturais econômicas, dupla moral sexual, lenocínio, exploração do sexo nos meios de comunicação social, grande contigente de crianças e ado­ lescentes desatendidos em suas necessidades básicas de alimentação, habitação, cuidados com a saúde, amor e compreensão, educação, pro­ teção e recreação. É de inadiável urgência, no Brasil, a tomada de providências que visem ao cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente, proclamado na Constituição Federal.
  3. No Brasil, constata-se a existência  de  grande contigente de crianças desatendidas em suas necessidades básicas  de  alimenta­ ção, habitação, cuidados com a saúde, amor e compreensão, educação, proteção e recreação. Essas carências da primeira infância são, via de regra, irreversíveis. É de inadiável urgência, no Brasil, a tomada de providências que visem ao cumprimento dos Direitos da Criança que foram proclamados pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2O de novembro de 1959.

    10. A juventude é predominante na população brasileira, representando alta potencialidade e dinamismo no processo de de­ senvolvimento do país. Suas aspirações e seus problemas apresentam exigências imperativas. O desenvolvimento sociocultural, econômico e político do Brasil não pode prescindir do concurso de sua juventude, que é decisivo.
  1. Meios de comunicação social - letra, som, imagem e ou­ tros que contribuem poderosamente para a educação do povo - estão trazendo também muita influência negativa, que deforma  as mentes e agride a sociedade.
  2. Entre os problemas que afetam a sociedade estão os cha­ mados vícios, como: o uso indiscriminado de entorpecentes, a fabri­ cação, comercialização e propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas, a exploração dos jogos de azar, que devem ser alvo de combate tenaz, tanto pelos efeitos danosos sobre os indivíduos como também pelas implicações socioeconômicas que acarretam ao país.
  3. Os presídios devem ser para reeducação e tratamento dos indivíduos e para talprecisamestardevidamenteequipados e organiza­ dos. É direito da pessoa receber, em qualquer lugar e circunstância, o tratamento condizente com a natureza e a dignidade humanas.

A Igreja Metodista não só deplora os problemas sociais que aniquilam asco­ munidades e osvalores humanos, mas orienta seus membros no tratamento dos problemas dentro das seguintes normas e critérios:

  1. propugnar por mudanças estruturais da sociedade que permitam a desmarginalização social dos indivíduos, grupos e das populações;
  2. trabalhar para obter dos que já desfrutam das oportunidades normais de participação socioeconômica e cultural e dos que têm a responsabilida­ de do poder diretivo da comunidade uma mentalidade de compreen­ são e de ação eficaz para erradicação da marginalidade;
  3. oferecer às pessoas vitimadas pelos problemas sociais a necessária com­ preensão, o apoio econômico e o estímulo espiritual para sua libertação, a orientação individualizada, respeitando sempre a sua autodeterminação;
  4. pautar-se em normas técnicas atualizadas e específicas de cada situa­ ção-problema, no tratamento dela, utilizando os recursoscomunitários especializados;
  5. amar efetivamente as pessoas, caminhando com elas até as últimas consequências para a sua libertação dos problemas e sua autopromo­ ção integral.

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