Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 30/06/2014
Copa do Mundo: Entre a Culpa e a Euforia!
"Brasil, mostra tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim".
(Cazuza)
Torcer ou não pela seleção nacional? Questão que afligiu muitos brasileiros antes da Copa do Mundo. O índice de aprovação para a Copa no Brasil despencou dos 78%, em 2008, para cerca de 40% no início do mês de junho de 2014. Quando da escolha do Brasil como país-sede, o clima era de otimismo. Havia a crença de que seria uma excelente oportunidade para impulsionar o desenvolvimento da nação. O clima de euforia inicial foi se transformando em pessimismo. Os gastos exagerados com a construção dos estádios, os atrasos ou cancelamentos de algumas obras de infraestrutura, remoção de moradores, as manifestações populares contrárias à realização da Copa, a força desproporcional de algumas ações policiais, a morte de pessoas inocentes, o uso político do evento por partidos de direita e de esquerda, os escândalos envolvendo a Petrobras, a ação violenta dos ‘black blocs’, entre outros fatores, criaram um ambiente hostil à realização da Copa. A expressão “não vai ter Copa” ganhou força nas ruas e nas mídias sociais.
Quem acompanhava as notícias pela imprensa brasileira e internacional tinha tudo para acreditar no ‘desastre’ total ou parcial do evento. Ainda recordo a manchete da capa da revista Veja, em maio de 2011, que dizia: “Por critérios matemáticos, os estádios da Copa não ficarão prontos a tempo”. A arte da capa estampava a logomarca oficial da Copa, mas com o ano 2038 no lugar de 2014. A reportagem também afirmava que as arenas da Baixada, em Curitiba, das Dunas, em Natal e do Corinthians (Itaquerão), em São Paulo “jamais seriam entregues”. Revistas de outros países foram na mesma direção. Há cinco meses, a France Football, revista esportiva francesa, produziu uma capa com fundo preto e uma bandeira do Brasil. A manchete era: “Medo sobre o Mundial”. Na reportagem, afirmavam que o Brasil havia se tornado uma “fonte de angústias”. Poucos dias antes da Copa, a principal revista alemã, Der Spiegel, anunciou em sua capa: “Morte e jogos: o Brasil antes da Copa do Mundo”. Na imagem de fundo aparecia uma bola pegando fogo em frente a um dos símbolos do Rio de Janeiro: o Pão de Açúcar. São exemplos de uma realidade ‘apocalíptica’, potencializada pela mídia, sobre a Copa no Brasil. As críticas, que em um primeiro momento pareciam ser endereçadas aos dirigentes da Fifa e aos governos federal, estadual e local, se transformaram em elementos para baixar a autoestima coletiva. Reforçaram no imaginário popular a ‘incompetência’ e a ‘impotência’ dos brasileiros para realizar algo com qualidade. É a força da mídia na construção social da realidade. Diante desse quadro ‘de fim do mundo’, torcer pelo sucesso da Copa e da seleção brasileira tornou-se um dilema para muitos brasileiros. Poderia transparecer um ato de traição ou de alienação diante das mazelas e dos descaminhos que marcam o dia a dia da nossa nação. Vivi intensamente esta contradição: torcer ou não torcer. Sem perder a consciência cidadã, optei por torcer, celebrar e entrar no clima da Copa que, surpreendentemente, está encantando o mundo. Além de acompanhar os principais jogos e notícias sobre a Copa, conferi de perto o que está ocorrendo dentro e fora do campo. No início da semana passada, com um grupo de amigos, fui ao Itaquerão, nova Arena do Corinthians, assistir ao jogo Holanda e Chile. Foi emocionante chegar à Estação da Luz, em São Paulo, e ver as torcidas do Chile e da Holanda, lado a lado, pegando o mesmo trem, cantando e se misturando com os torcedores brasileiros. Em 19 minutos estávamos na Estação Itaquera. Ali já era possível contemplar a beleza da Arena e a multidão multicolorida a caminho do espetáculo. Estava ali com mais 63 mil torcedores de diferentes partes do mundo em um espaço que, segundo a Revista Veja, “jamais seria entregue”. O sentimento de culpa deu lugar à euforia e à emoção.
O sucesso da Copa se deve a muitos fatores. Em campo as seleções estão ofensivas, a fase de grupos terminou com a maior média de gols desde a edição de 70. Há muitas surpresas entre os classificados e os que já voltaram para casa. Isso sempre torna o campeonato menos previsível e mais interessante. Outro fator muito apontado para explicar a euforia com a Copa são os brasileiros. Os estrangeiros estão impressionados com a hospitalidade, com a comida, com a alegria do nosso povo. Acima de tudo isso, a Copa está dando certo porque os estádios estão prontos e funcionando perfeitamente. Mesmo sem muitas obras de mobilidade urbana, a massa de torcedores não está encontrando dificuldade para chegar às arenas. Os aeroportos e rodoviárias estão dando conta de receber milhares de pessoas que estão circulando pelo país. O Brasil fez algo grande e se mostrou preparado para receber eventos desta magnitude. Mas a Copa acaba em 13 de julho. O país continuará com seus problemas. Cabe a cada um de nós usar o orgulho que sentimos por ter sediado tão bem a “Copa das Copas” e cobrar os governos federal, estadual e local para que a mesma energia, o mesmo empenho e o mesmo dinheiro sejam usados para transformar o país em um lugar mais justo, seguro e melhor de se viver. E que nós, cidadãos, possamos fazer a nossa parte. Não apenas votando com consciência, mas nos envolvendo de forma ativa na mudança que queremos.
Clovis Pinto de Castro
Professor e pastor metodista
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