Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
confraternização universal
O dia da confraternização universal
Uma cena de um Culto de Vigília guardo comigo há muito tempo: apesar de bem pequeno, lembro-me perfeitamente que quando começamos a ouvir o barulho dos fogos de artifício e gritos de alegria vindos da rua, quebrando o silêncio do momento de oração, meu pai sentou-me em seus joelhos e, falando muito seriamente, disse que queria ser o primeiro a me cumprimentar e também que queria que eu fosse o primeiro, entre tantos que ele abraçaria dali a pouco, a receber o seu abraço.
Abraçando-me, disse baixinho, perto do meu ouvido - porque o pastor ainda estava fazendo a oração final naquele momento: "Feliz Ano Novo!".
Naquela noite, aprendi isso com meu pai. Findo o culto, saí distribuindo abraços e desejos de Feliz Ano Novo! pra quem passasse na minha frente o que não era muito comum para uma criança da minha idade.
Ao contrário de meus irmãos adolescentes, eu gostava muito dos cultos de vigília que a igreja fazia na passagem do ano. Íamos dormir tão tarde!...
O culto terminava, em geral, pouco depois da meia-noite e só então nós nos reuníamos em torno da mesa para jantar. Às vezes, o jantar era feito na igreja. Desses eu gostava mais: tinha discurso, esquetes dos juvenis, homenagem pelo Dia do Pastor, revelação de Amigo Secreto; demoraaaaava pra gente ir pra casa, dormir.
Acho que foi por isso que cresci imaginando que o feriado do dia seguinte foi inventado apenas para que ninguém precisasse acordar cedo para trabalhar depois de ter ido dormir tão tarde. E confesso que foi somente há poucos anos que me dei conta da beleza, significado e importância do 1º de janeiro, o Dia da Confraternização Universal.
Concordo que pode até soar como um despropósito se falar em confraternização universal nessa época de conflitos religiosos, de retaliações entre países, de ameaças de guerra e de desenvolvimento de armas nucleares, de atentados terroristas que vitimam tanta gente, de fome e miséria de uns e de riqueza, desperdício e indiferença de outros. Mas não é durante a enfermidade que se almeja a saúde? Não é numa noite fria que desejamos um cobertor macio e quentinho?
Foi assim, folheando o jornal, assistindo ao noticiário na TV, abrindo a minha janela e olhando para o mundo, que me lembrei de que existe um dia reservado para se pensar na comunhão dos povos, na confraternização universal. Foi me entristecendo com o ódio, a intolerância, a desigualdade, que ansiei pela confraternização de todos/as. Desejei que as pessoas pudessem se abraçar, independente da sua cor, da sua religião, do idioma que falam, dos costumes que têm, de quem é o chefe do seu governo, das roupas que vestem.
A vontade de chorar, com saudade daqueles tempos em que achavam engraçado uma criança de 3 anos repetir "Feliz Ano Novo!" pra todo mundo, é abafada pela firme determinação de, neste ano, no Culto de Vigília, repetir o gesto de meu pai. Farei isso consciente de que quando cochichar "Feliz Ano Novo!" no ouvido do meu filho não estarei pensando apenas no ano que se inicia mas na vida que ele tem pela frente. Ele e o mundo em que viverá.
Revdo Fernando Cezar Moreira Marques (publicado originalmente no Recriar, boletim editado pela Coordenação Nacional de Educação Cristã, nº 32, dezembro de 2006)