Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

CIEMAL

Nos dias 6 a 14 de fevereiro em La Paz, Bolívia, cerca de 75 jovens latinos se reuniram para o "II Encontro Bi-Regional Andina-Conesur Jovens em Missão" do CIEMAL (Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da América Latina e Caribe). O objetivo geral do Programa Jovens em Missão é "Integrar e capacitar a juventude metodista latino-americana e caribenha para a missão de anunciar o Reino de Deus na Terra e fazer discípulo de Jesus Cristo em todas as nações."

Para explicar, o Brasil faz parte da região Conesur, que compreende os seguintes países: Brasil, Chile, Uruguai, Argentina e Paraguai. Quem coordenou esta região nos últimos cinco anos foi Rebeca Mora de Monges, do Paraguai. Neste encontro, foi escolhido o novo coordenador, Favio Ramirez, do Uruguai.

A outra região, Andina, compreende os países Equador, Peru, Bolívia, Venezuela e Colômbia. O coordenador anterior era Gustavo Alí, da Bolívia e quem foi escolhida para os próximos cinco anos foi Adriana Sarabia, do Equador.

Existe ainda uma coordenadora continental, Fabiola Grandón, do Chile, e vale lembrar que o presidente do CIEMAL é o bispo Paulo Lockman, da 1ª região eclesiástica do Brasil. O CIEMAL tem ainda outras duas regiões: Caribe (Cuba, República Dominicana e Porto Rico) e Mesoamérica (Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá e MCCA (Igreja Metodista do Caribe e das Américas)).

Do Brasil, participaram sete pessoas:

Silvia Bocchese, da 6ª região e membro da mesa da Confederação; Edvandro Damasceno, membro da mesa da Federação da 1ª região; Polyana Francisco, da mesa da Federação da 3ª região; Tiago Lazier, presidente da Federação da 4ª região; Gustavo Lucas, membro da mesa da Federação da 5ª região; Rodrigo Peixoto, da Remne; Ricardo Sales, da 5ª região.

Para Tiago Cerqueira Lazier, presidente da Federação de Jovens da 4ª Região, a comunhão foi o grande destaque do encontro. A mensagem que trago é que precisamos cantar e viver o amor Deus. Devemos sempre nos apresentarmos em projeto evangelísticos mas continuarmos como igreja caminhando lado a lado, suprindo necessidades terrenas e espirituais, pois, afinal, somos sinalizadores de um Deus que não mora longe lá no céu, mas que nos acompanha diariamente.

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O relato de Polyana sobre os dias passados no encontro do CIEMAL:

Nos primeiros dias de encontro são ministradas palestras sobre diferentes temas. Assuntos que buscam capacitar a juventude para a missão. O primeiro tema estudado foi Saúde Integral, que mostrou como o interior do ser humano também precisa ser trabalhado para que uma criança e um adolescente se tornem adultos felizes e bem sucedidos. Ainda dentro de Saúde Integral, os presentes debateram o problema da AIDS, podendo conhecer a realidade de cada país e como essa doença é tratada em diferentes lugares.

Como se tratava de um encontro metodista, os temas Identidade Metodista e Discipulado também estavam em pauta. Uma curiosidade é que alguns países são novos no mundo metodista, como o Equador, por exemplo, que recebeu a Igreja há apenas oito anos. Mas este também foi um momento de compartilhar e ver quão importante é o intercâmbio com irmãos que partilham a mesma fé e doutrina.

Durante momentos com os participantes pudemos conhecer todo o Programa Jovem em Missão e também o CIEMAL. Cada líder dos países representados teve a oportunidade de mostrar como trabalham os jovens, a Igreja e a realidade de cada lugar. Além disso, a noite cultural proporcionou momentos de intercâmbio muito interessantes. Os participantes apresentaram danças, músicas, costumes e todos nós aprendemos um pouquinho mais dos países vizinhos.

Para capacitar para a missão, ouvimos um pastor boliviano que nos falou sobre evangelismo e outro que nos contou um pouco sobre a realidade da Igreja na Bolívia, bem como a situação política, social e econômica do país.

Conhecendo a realidade

 

 

Em todos os momentos da viagem, desde Santa Cruz de La Sierra, no meu caso, começamos a perceber as diferenças da Bolívia para o Brasil. Uma das primeiras diferenças que sentimos foi no trânsito. Para quem mora em São Paulo tenho uma novidade. O trânsito daqui é uma benção! Quando chegamos a Santa Cruz de La Sierra (na viagem de ida) já percebemos que na Bolívia as coisas funcionam de uma forma diferente. Os motoristas não respeitam muito bem os semáforos. A lei vigente é a de quem coloca o carro na frente primeiro. Os ônibus batem na traseira de outros (e isso é normal) e são pequenos. Há muitos táxis e uns funcionam como lotação. E eles adoram uma buzina. Para atravessar a rua é cada um por si.

Além disso, a estrutura de transporte de todo o país não é das melhores. É cair uma chuva que ninguém vai e ninguém volta. Os ônibus não transitam mais entre a capital e Santa de Cruz de La Sierra, uma cidade importante no país. Muitas enchentes ocorreram nesse período. Creio que alguns de vocês devem ter acompanhado nos noticiários. Nem mesmo o trem na viagem de ida estava fácil, quase não conseguimos pegá-lo. Tudo por causa da chuva.

Outro ponto é que os brasileiros, mesmo com toda a crise, se sentem "ricos" na Bolívia. Com um real você pode comprar cerca de 3,30 bolivianos (dinheiro local)... Um dólar pode ser transformado em 7,90 e 8 bolivianos (depende de onde você faz o câmbio). Com esse dinheiro pode-se comprar muita coisa. A lei é pechinchar, porque eles sempre aceitam baixar o preço para tudo. Com o nosso pouco dinheiro conseguimos comprar muita coisa, andar muito de táxi, etc. Para nós, turistas, uma maravilha, mas percebemos como isso é ruim para os bolivianos. E isso, mais uma vez, entristece nossos corações. Mas o que todos iam gostar é que a gasolina custa só R$ 1,40!!!

Ah, para quem quer saber, eles adoram o Evo Morales, afinal, ele defende os pobres (a maioria do país) e luta contra os ricos.

Chegamos a La Paz, a capital do país, e vimos quão diferente era do que imaginávamos. É uma cidade interessante, que está toda em morros e montanhas. Ao longe podemos ver alguns picos com neve. A altura da cidade é de 3600 metros acima do nível do mar. Quando saímos para a missão e turismo, chegamos a alcançar 3870 metros de altitude. É claro que muitos tiveram alguma indisposição por causa disso. Dores de cabeça... Uma simples subida pelas escadas poderia deixar até o mais esportista um pouco cansado... Mas isso também não desanimava.

Na zona central, La Paz é uma capital como outra qualquer, mas a periferia surpreende pela falta de saneamento básico, estrutura e outras necessidades básicas para a sobrevivência digna. Depois de voltarmos ao Brasil pensamos: isso é horrível! Mas pior é pensar que no Brasil pessoas também vivem nessas condições e o que estamos fazendo? Qual é o papel que a igreja tem desempenhado?

Conhecer essa realidade foi muito importante para fazer missão e quebrantar nossos corações. Percebemos que é preciso fazer mais pelo cristianismo. Afinal, não adianta falar de Deus, buscar a santidade se não saímos ao encontro do outro para que a vida dele melhore. Não era isso que Wesley nos ensinou, a ter uma vida com atos de piedade e misericórdia?

Saindo para a Missão

 

 

 

Fomos divididos em quatro grupos. Cada grupo tinha um jovem que trabalhava com crianças, louvor, palavra, evangelização, saúde, voluntariado, etc. Começamos, já no sábado, a nos preparar para fazer missão. No domingo, saímos para conhecer a realidade da cidade e das igrejas locais. No domingo, os participantes foram divididos em grupos para participar das escolas dominicais de cada Igreja. Fomos muito bem recebidos por toda a comunidade, que além de orações e cânticos (muitos no dialeto Aymara) também nos ofereceu comidas típicas de lá. Alguns costumes nossos começaram a ser quebrados nesse primeiro contato com a cultura local. Alimentos, temperos, hábitos, roupas... Tudo é muito diferente daquilo que vivemos no Brasil. Mas isso não nos desanimava, mas estimulava cada um para trabalhar não somente para que outros conheçam o evangelho, mas para que a Igreja seja um instrumento de transformação da triste realidade de algumas pessoas.

Na segunda-feira, cada um dos grupos foi enviado para uma igreja metodista - quase todas na periferia - com o objetivo de evangelizar crianças e adultos ao redor. Pensamos em estratégias e formas, mas Deus mudou tudo quando chegamos nas Igrejas. No meu caso, o local onde a igreja está localizada é comercial e isso dificultava muito na hora de abordar as pessoas. Todas sempre estavam com pressa para ir ao médico, fazer comida, etc. Com as crianças não era diferente, elas estavam em aula, ou indo para a escola, ou voltando e precisando ir para a casa. Não poderíamos ficar ali na Igreja esperando que algo acontecesse. Como lembrou a coordenadora do meu grupo, Anahí, do Peru, "o mundo é minha paróquia". Saímos pelas ruas, fizemos teatro, oramos, conversamos, evangelizamos. E eu fiz tudo isso com a minha vasta experiência de seis dias de espanhol, mas como Deus é misericordioso e quem faz a obra é o Espírito Santo, consegui desempenhar com sucesso minha parte. Até orar em "portunhol" eu orei!

O segundo dia foi mais promissor e, com a graça de Deus, recebemos adultos e crianças na Igreja, cerca de 60 pessoas. Mas para isso, saímos logo pela manhã fazendo o convite em um mercado de rua próximo dali. Cantamos, contamos a história da salvação e acreditamos que plantamos a semente.

Outros grupos tiveram experiências maravilhosas ao serem recebidos em escolas, outros, também se surpreenderam ao chegar em um local residencial onde nenhum morador abria os portões de suas casas. Cada ambiente com a sua peculiaridade, mas Deus estava agindo em todos.

Mais uma vez nesses dois dias vimos como é sofrida a vida daquelas pessoas. Em um lugar sem asfalto e saneamento básico, uma gota de chuva transforma o lugar num rio. As águas se misturam ao lixo e é um desafio andar pelas ruas. O frio também atrapalhou um pouco. No primeiro dia saímos com sol do nosso alojamento, mas como a igreja ficava mais alta, pegamos um frio que deixou alguns doentes. O céu é muito bonito, o sol também, mas o frio é forte (isso porque era verão lá...). Quase todas as crianças têm seus rostos queimados pelo frio.

Quando voltávamos da missão, todos estavam curiosos para saber das experiências. Podemos compartilhar muito nesses dois dias não só o que vivemos, mas o que desejamos fazer daqui para frente. Foram momentos de quebrantamento mesmo diante de uma realidade difícil e do desafio de fazer mais.

Intercâmbio

Além da missão, o encontro proporciona momentos muito especiais de intercâmbio. Conhecemos a realidade de outros países, como é a Igreja Metodista nos países vizinhos, o trabalho da juventude... O intercâmbio não foi apenas com a cultura boliviana, mas com todos os presentes.

A realidade do Brasil é muito diferente de todas as outras. Somos um país grande em extensão, mas grande também em diversidade. Enquanto na argentina, por exemplo, existem 110 igrejas, aqui na 3ª região trabalhamos com 120... O trabalho é diferente, as atividades... Conhecemos outros projetos, outras idéias, trocamos informações. Nós, brasileiros, saímos de lá cheios de idéias para trabalharmos em nosso País. Sabemos das dificuldades, mas não queremos deixar que o fogo que estava em nossos corações naqueles dias se apague. Queremos, com a mesma motivação que fomos viajar, trabalhar para uma Igreja melhor e para um Brasil melhor.

O mais interessante é que apesar das dificuldades de cada país, todos os participantes estavam ali para aprender, conhecer e, o mais importante, fazer missão. Percebi no contato com as pessoas que os líderes de outros países são muito comprometidos não somente com a Igreja, mas com o Reino de Deus. O fato de não estarem ali só para "oba-oba" me motiva a continuar no trabalho, mudar o que é necessário e melhorar o que já fazemos.

A diferença de idioma não foi um problema, mas uma das formas de integrar brasileiros e peruanos, argentinos, paraguaios, equatorianos, etc. É muito legal ver o interesse que eles têm em aprender palavras em português. Ao mesmo tempo, nós também tentamos, com o nosso portunhol, nos comunicar... Essa relação só aproximou cada uma das pessoas ali. O que poderia ser um empecilho se tornou fonte de muitas risadas e tentativa de ensinar, por exemplo, alguns a falarem avô e avó, algo tão simples (a acentuação para eles é difícil). Risadas também quando os brasileiros tentavam falar "almuerzo" (esse l com som de l deles é complicado, prefiro o nosso l com som de u... Vai entender...).

O intercâmbio também aconteceu no dia em que fomos visitar as ruínas da civilização Tiwanaku, que viveu naquela região há muitos e muitos anos. É impressionante ver as estruturas que eles construíam. E nós, sobreviventes do século XXI, achamos que hoje é que somos inteligentes e temos a tecnologia. É muito legal ver que mesmo sem a nossa tecnologia, eles usavam o que tinham em mãos e a inteligência que tinham na cabeça para contar o tempo, falar com o povo, etc. Viviam muito adorando deuses, é verdade, mas isso não diminui minha admiração. E nesse dia experimentamos carne de llama, muito famosa por lá.

Uma experiência bem pessoal foi ir, pela primeira vez, a um estádio de futebol. E para ver Boca Júnior (Argentina) x Bolívar. Sim, eu torci para a Argentina, mas tudo pela amizade que fizemos com o grupo de Maradona. Passamos frio, pegamos chuva e isso fez com que quase não pegássemos o ônibus de volta. Mas valeu a pena.

É também muito bom saber que, se um dia precisarmos, podemos contar com os amigos que fizemos. Sabemos que podemos visitar outros países e seremos bem recebidos. Também nos dispomos a receber irmãos de outros lugares.

Viagem e outras coisas

Mas a história do CIEMAL também compreende a aventura que foi nossa viagem. Fomos em sete brasileiros, mas eu, Rodrigo e Edvandro fomos os únicos a nos aventurar de ônibus de São Paulo para Corumbá-MS. Lá visitamos a igreja, fomos bem recebidos e passeamos no Rio Paraguai, conhecemos o pantanal e vimos um jacaré. Quase não conseguimos passagem para a Bolívia, mas, graças a Deus, tomamos um trem de Puerto Quijarro (na Bolívia, mas faz fronteira com Corumbá) a Santa Cruz de La Sierra. Ficamos um dia em Santa Cruz, sem saber espanhol, andamos de ônibus, táxi, trocamos dinheiro, fizemos compras... Depois pegamos um ônibus para La Paz que não tinha banheiro nem ar-condicionado e que atrasou três horas na estrada. Chegamos em La Paz, esperamos duas horas na rodoviária e ninguém foi buscar a gente, tentamos ir de táxi, mas não tínhamos endereço. Enfim, chegamos ao CIEMAL.

Na volta não podíamos ir de ônibus de La Paz para Santa Cruz, pois a estrada estava bloqueada por causa da chuva. Tentamos um avião direto, não havia passagem. Então fomos de ônibus de La Paz para Cochabamba, mas quase perdemos o ônibus. Nos atrasamos e quando chegamos à rodoviária tivemos que parar o ônibus, que também era cheio de problemas. Eu, que estava sentada na janela sofri, caia água do teto, um ferro às vezes queimava meu pé, mas chegamos... E pegamos um avião de Cochabamba para Santa Cruz. Ficamos novamente um dia em Santa Cruz onde almoçamos num restaurante brasileiro (até que enfim!) e fizemos algumas compras. Chegamos ao Brasil no dia 16 de fevereiro com muitas histórias para contar. 

Na ficha de avaliação tínhamos que colocar nosso testemunho. Muito do meu está nas linhas acima, mas o que trago de lá é uma motivação para trabalhar e muitos amigos. Vontade de fazer diferente e de ajudar o próximo com o que temos em mãos. Não podemos ficar parados!

 

* se quiser ler mais sobre a viagem e ver as fotos , visite o blog da Polyana Francisco: http://polysjornal.spaces.live.com/photos/


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