Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013
casa susana
Uma das moradoras da Vila São Lucas, periferia miserável da cidade de Viamão, região metropolitana de Porto Alegre, RS, estava muito preocupada: não tinha dinheiro para alimentar sua família naquele dia. Mas na Casa Susana Wesley, que fica ali mesmo no bairro, ela havia aprendido duas coisas importantes: a fazer serviço de manicure e a confiar em Deus. Assim, ela resolveu não se desesperar. Pegou seu kit de trabalho e orou pedindo que Deus lhe concedesse "pelo menos umas duas clientes" naquele dia. Encontrou mais que o dobro e, logo que pôde, voltou à Casa para compartilhar sua alegria com Eunice Bruhn, coordenadora de projetos da casa. São histórias assim que fazem a dona Eunice e as outras voluntárias da Casa a continuar firme na obra, apesar das decepções e dos problemas tão presentes no caminho de quem se dispõe a promover a vida numa região marcada pela extrema pobreza e violência.
A Casa Susana Wesley existe desde 1994. Nasceu como um abrigo para meninas e adolescentes vítimas de violência doméstica. Encaminhadas pelo Conselho Tutelar, as meninas eram abrigadas na casa e ficavam isoladas da família. A partir de 2002, a Casa Susana Wesley mudou sua forma de atuação, passando a fazer um trabalho que integra a família. Hoje as meninas e adolescentes em situação de risco social freqüentam a casa durante o dia - onde recebem assistência médica, psicológica, espiritual e educacional - e voltam para seus lares à noite. A família também é assistida: mães, pais ou cuidadores participam do grupo terapêutico e, se necessário, recebem encaminhamentos para obtenção de documentos, tratamentos de saúde e controle de natalidade. Um mutirão para a melhora das condições de moradia e cursos profissionalizantes para as mães também contribuem para aumentar a auto-estima e a qualidade de vida de toda a família, contribuindo com a diminuição da violência. Há cursos de costura, corte de cabelo, manicure e, até mesmo, aulas para babás e empregadas domésticas, onde se ensina desde o uso de aparelhos eletrônicos à realização de atividades simples como passar um pano úmido no assoalho. "Boa parte das nossas alunas moram em casas com chão de terra, nunca tiveram que passar um pano no chão", conta Eunice. Hoje, Eunice Bruhn já contabiliza mais de 100 mulheres ganhando a vida com o trabalho de manicure. Muitas também contribuem com o orçamento doméstico e com a alimentação da família produzindo pães e salgadinhos para festas.
Mas tudo isso tem um custo alto, tanto financeiro quanto emocional. Os recursos materiais são supridos graças a doações de membros da comunidade local, igrejas metodistas cooperantes, como a Igreja da Inglaterra e a Divisão de Mulheres dos Estados Unidos, campanhas de arrecadação e verbas conquistadas a duras penas junto a órgãos públicos. Conseguir recursos humanos é ainda mais penoso. A diretora da Casa Susana Wesley, Eunice Fontoura Zimmermann, é uma das poucas funcionárias de dedicação integral; boa parte do trabalho é voluntário, como o da coordenadora Eunice Bruhn, que lamenta a falta de envolvimento da Igreja. Ela conta que a Igreja Paulo de Tarso, de Porto Alegre, é uma das poucas que realmente assumiu o desafio de apoiar a Casa. Muitas pessoas, diz dona Eunice, sequer se dispõem a ouvi-la falar sobre esse trabalho, pois ela não tem apenas histórias animadoras para contar, como a que abre esta reportagem. Quem assume este desafio terá que se deparar com muita pobreza, com muita dor e com muito sofrimento. Infelizmente, poucas pessoas estão preparadas para isso. Mas enquanto houver fé, haverá relatos de esperança. Este é o sentimento que move Eunice Bruhn e os(as) demais colaboradores(as) deste trabalho. Quem sabe essa fé não mova você também?
As crianças assistidas recebem atendimento médico e odontológico.
Mais informações:
Casa Susana Wesley
Rua Pastoral, 407 - Vila São Lucas, Viamão, RS
Telefone: (51) 3446-2470.