Publicado por Sara de Paula em Destaques Nacionais - 17/11/2019
Carta aos irmãos e irmãs da Bolívia
A justiça e o direito são as bases de teu trono; amor e fidelidade precedem a tua passagem. (Salmo 89.14)
Queridos irmãos e irmãs bolivianos,
Temos ouvido com temor e apreensão as recentes notícias acerca de vosso país e dos sismos em torno da democracia, esta frágil conquista de nossos povos nas Américas. Lamentamos que, mesmo com quaisquer contradições ou questionamentos que se levantem, a ordem democrática seja quebrada e posta em xeque, dando margem a supressão de direitos ou intervenções que suplantem a liberdade de um povo para eleger legitimamente seus/suas líderes. Assusta-nos e ofende-nos a informação de que a prefeita Patricia Arce foi atacada e teve seu corpo agredido de forma vil. De igual modo, os ataques contra propriedades públicas e privadas, por toda ordem de manifestantes políticos, gerando prejuízos à pessoalidade das vidas atingidas, mas também ao patrimônio e à história da Bolívia. E, acima de tudo, o roubo violento da vida, com a morte de pessoas envolvidas neste confronto.
A Palavra de Deus não nos autoriza a tomar em nossas próprias mãos, especialmente com violência, os destinos de pessoas ou situações. Ela nos desafia à submissão às autoridades e à busca dos caminhos do direito e da justiça conforme seus padrões. Também, ao mesmo tempo em que anuncia a salvação em Cristo, proclama que pessoas de todas as tribos, povos, línguas e nações possuem acesso a ele, reafirmando-nos a variedade das culturas e dos saberes e jamais colocando posições políticas ou financeiras acima do valor da vida, tanto humana quanto de todo o restante da criação.
Em consternação, reconhecemos que não somos as pessoas com o protagonismo para falar ou emitir juízo sobre aqueles valores que são da soberania de vocês, enquanto bolivianos. Nossa tarefa, enquanto irmãos e irmãs cristãos da América Latina, é nos posicionar em defesa da vida, da justiça e proclamar o amor de Deus sobre toda opressão e violência, de qualquer cor ideológica, partidária ou econômica.
Rogamos a Deus que se levante do seu trono e julgue com a santidade e a justiça que só ele tem, os atos de todos os seres humanos envolvidos nestes lastimáveis eventos que roubam a paz, a alegria e a tranquilidade do nosso povo. Era a estratégia paulina em Timóteo, que orássemos pelas autoridades, não pelo bem-estar delas, mas para que o povo pudesse ter vida mansa e tranquila, em toda piedade e respeito. Porque quando os líderes, de algum modo, são guiados pelos valores do Reino de Deus, os mais desfavorecidos são protegidos. A Igreja do Senhor, sob a ordem de Jesus, precisa sempre olhar para os pequeninos como alvo preferencial de sua ação, acolhida e proteção.
Seguimos em oração por vocês e escrevemos esta carta não apenas para incitar-lhes a prosseguir na fé, na esperança e no amor, como também para reafirmar que não estão sozinhos na jornada. De toda parte, há os sete mil joelhos que se dobram para clamar a Deus pelos seus filhinhos e filhinhas. Que o trono de Deus, que não é segundo as noções humanas, seja estabelecido na Bolívia, pois apenas ele é fundado na justiça e no direito. E que o amor e a fidelidade se espalhem entre o povo. E que nasça a paz.
No amor de Cristo
Colégio Episcopal da Igreja Metodista
16 de novembro de 2019
Leia outras manifestações sobre a atual situação na Bolívia:
- En nuestro nombre no (Em nosso nome não)
Documento emitido pelo Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI) - Carta Pastoral ao Povo do Estado Plurinacional da Bolívia
Documento emitido pelo Comitê Executivo da Igreja Evangélica Metodista na Bolívia - Declaración del Consejo de Obispos, Obispas y Presidentes de las Iglesias Evangélicas Metodistas de América Latina y el Caribe
Documento emitido pelo Ciemal