Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 20/09/2013

carnaval da fé

Carnaval evangélico

Há inúmeras controvérsias sobre a origem do Carnaval. Alguns autores fazem alusão a antigos povos pagãos, que realizavam festas para comemorar a fertilidade e produtividade do solo. Entre elas, existiam as saturnálias (para o deus Saturno) e os bacanais (para o deus Baco, na mitologia romana). Mais tarde, no século IV, Roma introduz o calendário litúrgico da Igreja e proíbe festejos durante a Quaresma. As pessoas, então, aproveitavam os últimos dias que antecediam à Quarta-Feira de Cinzas para darem vazão à luxúria. Possivelmente daí, venha a expressão latina "carne vale" que significa "deixar a carne", ou "adeus carne", que anunciava o período de abstinência que se seguiria.

Nunca o carnaval traduziu tão bem a realidade que vivemos hoje no mundo evangélico. Temos uma igreja por vezes sem reverência, superficial, que busca diversão e entretenimento. Para atender a tão grande necessidade de estímulos, o culto foi transformado num caleidoscópio de sensações, atrações e produções mirabolantes. Estamos vivendo uma espécie de carnavalização da fé. Os antigos pares de pierrôs e colombinas deram lugar a apóstolos bufões e pastoras pitonisasprontos a soprar uma revelação ou uma nova visão. Temos até um desfile anual- chamado de marcha - que desemboca num palco que serve de exposição de egos. Não, não é a alegria o sentimento dominante, mas um misto de nonsense com desespero existencial.

O povo de Israel também teve o seu período de carnavalização da fé. Gritos ufanistas, frases de efeito, glórias e aleluias enchiam seus arraiais na certeza de que Deus era com eles: "Sucedeu que, vindo a arca da aliança do Senhor ao arraial, rompeu todo o Israel em grandes brados, e ressoou a terra. Ouvindo os filisteus a voz do júbilo, disseram: Que voz de grande júbilo é esta no arraial dos hebreus? Então souberam que a arca do Senhor era vinda ao arraial" (1Sm 4.5-6). E se atemorizaram os filisteus: "Ai de nós, estamos perdidos!". Entretanto, pelejaram, uma grande derrota se abateu sobre Israel e cada um fugiu para a sua tenda. Assim como nós, Israel imaginava que bastava levar o nome de Deus, proferir velhos chavões, cantar suas músicas, e Deus lá em cima resolveria tudo. Na verdade, nada pode terminar bem quando a vida e o proceder carregados de pecado desagradam profundamente a Deus.

Ironicamente estes são tempos de uma grande busca por "espiritualidade". Nunca houve tanta procura por igrejas, tantos livros religiosos publicados, tanta rádio gospel, tantos louvores proféticos - seja lá o que isso significa - e marchas. O homem contemporâneo busca uma espiritualidade - qualquer uma - que possa lhe estancar o desespero.

É fácil constatar que vivemos hoje uma febre para criar versões gospel de tudo, uma espécie de arremedo para dourar a pílula com o propósito de dar uma nova roupagem em coisas outrora condenáveis. Temos, então, barzinho gospel, pagode gospel, shows gospel, e toda uma linha de artigos de consumo - de gosto duvidoso - em versão gospel. Acompanhando esse fenômeno, anualmente surgem alguns blocos evangélicos atravessando o ritmo nas avenidas. É preciso investigar se as reais motivações de um "folião" evangélico não seriam suas pulsões interiores (de exibicionismo, por exemplo.).Nesse caso, a evangelização é mero pretexto.Agora, se o objetivo é mostrar o nome "Jesus" é bom lembrar que hoje ele é quase uma marca saturada no mercado. Seu rosto está na LBV, está impresso em adesivos de carros, camisetas, pulseiras e bottons, é citado por bandas de rock e na MPB, seu nome é enviado aos milhares em orações esotéricas pela Internet, está na boca de políticos corruptos e de cantores decadentes que se convertem no ocaso da fama.

Creio que é de Kierkegaard a história do circo que se instalou próximo a uma pequena cidade. Dias antes da estréia ocorre um grande incêndio e o dono do circo pede ao palhaço para correr à cidadezinha buscar ajuda. Ofegante, ele chega à praça principal e faz gestos desesperados, falando do incêndio que estava destruindo o circo. As pessoas começam a se aproximar, e imaginando estar diante de uma nova forma de propaganda, não o levam a sério e riem prazerosamente da pantomima. Desesperado, ele se ajoelha, chora e implora, mas a multidão ri ainda mais. Diante da recusa do povo, o fogo, então se alastra pelas campinas e finalmente chega à cidadezinha, onde consome a todos.

Num certo sentido, essa é a história da Igreja no início do século XXI, marcada por uma falta de credibilidade resultante de tantos escândalos e maus testemunhos. Como o palhaço, estamos tentando avisar as pessoas do juízo divino e do poder salvífico de Cristo, capaz de nos livrar da ira vindoura. Mas não nos dão ouvidos, e acho que nem os culpo por isso.De qualquer forma, aproveitar o Carnaval para evangelizar é uma opção exeqüível para a Igreja, pois a Bíblia nos conclama a que falemos do Evangelho a tempo e fora de tempo. Entretanto, é importante que se busque estratégias adequadas para anunciar nesses tempos de festejos populares o amor de Deus e a verdadeira alegria, que só pode existir numa vida entregue a Cristo Jesus.

Queremos imitar Paulo que se tornou "espetáculo para o mundo" (1Co 4.9) em virtude do opróbrio, das tribulações, do sofrimento e da fraqueza. E este é o único espetáculo que somos chamados a dar.

Daniel Rocha

Pastor da Igreja Metodista em Itaberaba, e psicólogo

Bom humor e água fresca

A Igreja Metodista do Jardim Botânico descobriu uma forma inusitada de deixar o seu recado aos integrantes do bloco carnavalesco "Suvaco de Cristo", que passa bem em frente ao templo. O nome do bloco é uma referência ao local por onde eles desfilam: a rua Jardim Botânico fica sob o braço do Cristo Redentor. "Não fique só no Suvaco. Conheça Cristo por inteiro" é a mensagem bem-humorada. Distribuindo água gelada aos foliões, eles também os convidam a conhecer a "água viva" do amor de Deus. A criatividade da Igreja já despertou o interesse da imprensa: essa reportagem é ano passado, do jornal O Globo.

 


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