Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 13/09/2013
Carisma
O CARISMA DOS/AS PEQUENINOS/AS
Não é muito difícil falar do carisma que caracteriza as grandes lideranças da Igreja. Sejam lideranças exercidas na perspectiva do personalismo e da centralização ou da liderança exercida na perspectiva da humildade, do serviço e da entrega. Logicamente que a manifestação do carisma se evidenciará de forma diferente, ou seja, o modelo do carisma será diferenciado entre os dois tipos de liderança. Ao falar de modelo estou fazendo na perspectiva de que ele revela ou evidencia uma teoria que dá sustentabilidade ao exercício da liderança ou do ministério.
Neste sentido, sempre é bom ler o referencial bíblico que orienta o exercício da liderança. Seja nas recomendações de Jesus aos discípulos, ou mesmo nas cartas de Paulo, o tom é sempre o do serviço, da humildade e da dedicação para o bem dos outros. O bom líder é aquele que se doa para os liderados e não aquele que oprime e explora. Assim, devemos sempre estar atentos para verificar se nossos/as líderes evidenciam os princípios bíblicos.
Ao falar dos/as pequeninos/as estou pensando naqueles irmãos e irmãs que nem sempre são reconhecidos/as como lideranças, ou que exercem seus ministérios com modéstia, simplicidade e até anonimamente e também naqueles e naquelas que são extremamente obedientes e atenciosas/as para com seus pastores e pastoras e que, por causa disto, são vistos como pessoas "influenciáveis" e sem autonomia no seu pensamento ou compreensão da vida, do Evangelho, de Deus e do próprio ministério pastoral.
Ou seja, estou pensando naqueles/as que parecem que "nada são", mas que na verdade são os que sustentam a vida da igreja com o seu trabalho, oração, ofertas e perseverança fundamentada na graça de Deus. Por certo você que lê este texto conhece pessoas assim, não é? Talvez você seja uma dessas pessoas. Se for o seu caso vai aqui a minha homenagem.
Qual é o carisma dos/as pequeninos/as? Penso que eles e elas aprenderam a galgar os degraus do serviço. No livro O último degrau da Liderança, Wilkes sugere alguns princípios que caracterizam o carisma dos/as pequeninos/as:[1]
- 1. O carisma dos/as pequeninos/as é evidenciado pelo coração, ou seja, pela integralidade da vida dedicada a Deus. Eles/as esperam que Deus os/as exalte (Lc 14.7-11).
- 2. O carisma dos/as pequeninos/as é percebido na disposição em seguir aos princípios do Evangelho, sem que estas pessoas tenham como interesse maior ocupar cargos ou posições de destaque. São seguidores/as obedientes e fiéis a Deus (Mc 10.32-40).
- 3. Os/as pequeninos/as descobriram o poder e a grandeza do serviço e assim o fazem com alegria, esperança e perseverança, mesmo que a liderança que se apresenta como "maior" seja personalista, intimista e massificadora. O carisma dos/as pequeninos/as se expressa no serviço prestado aos outros, independentemente de reconhecimento (Mc 10.45).
- 4. O carisma dos/as pequeninos/as é demonstrado quando pegam a toalha ou o avental e o fazem com simplicidade e convicção (João 13.4-11).
- 5. Os/as pequeninos/as também são pessoas que trabalham em equipe, atendem aos apelos dos líderes, respondem positivamente aos desafios, mas são pessoas honestas e transparentes para se dirigirem a seus líderes e indicarem equívocos que estejam sendo cometidos.
- 6. Eles/as são motivados/as para interagirem com outras pessoas (Mc 6.7). Até poderia dizer, sem medo de estar equivocado, que o carisma dos/as pequeninos/as se expressa na resistência e na força para lutar pelos valores do Evangelho, nem que para isto tenham que questionar os/as líderes que não gostam de serem questionados/as.
Ao falar do carisma dos/as pequeninos/as não poderia deixar de registrar um princípio que diferencia os/as pequeninos/as dos identificados como "maiores": "A vida espiritual do líder se concentra numa única e poderosa idéia - serviço... O líder espiritual é aquele que se rende a Deus para trabalhar melhor".[2] Esta é a principal característica do carisma que estou abordando.
Numa sociedade estereotipada e que busca a promoção a qualquer preço, a Igreja está influenciada pelos mesmos anseios que se encontram na sociedade, ou seja, poder, status, reconhecimento e promoção. Hoje vive-se no ambiene eclesiástico uma corrida pelo cargo de bispo em algumas denominações evangélicas, em outras busca-se o apostolado, mas são poucas que demonstram estarem resistindo a esta tendência que pode ser devastadora dos valores éticos, morais, familiares e cristãos. Por isso eu não tenho muitas dúvidas, eu escolho o caminho do carisma dos/as pequeninos/as. Pelo menos terei a certeza de que serei amado com sinceridade. Aliás, o amor é outra característica do carisma dos/as pequeninos/as.
Bispo Josué Adam Lazier
[1] Wilkes, C. Gene, O Último degrau da Liderança, São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2000, pg. 37-39.
[2] Calvin Miller, citado por Wilkes, C. Gene, O Último degrau da Liderança, São Paulo, Editora Mundo Cristão, 2000, pg. 254.
Outros textos onde abordam o tema do carisma no ministério pastoral (basta clicar no link):
1) Integridade x carisma: princípio ou imperativo.
http://josue.lazier.blog.uol.com.br/arch2008-02-01_2008-02-29.html#2008_02-29_11_06_12-124822118-25.
2) Uma tríade da espiritualidade ministerial: carisma, caráter e caridade.
http://josue.lazier.blog.uol.com.br/arch2008-02-01_2008-02-29.html#2008_02-20_21_03_51-124822118-25.
3) Desgastes no carisma do ministério pastoral.
http://josue.lazier.blog.uol.com.br/arch2008-02-01_2008-02-29.html#2008_02-24_19_51_30-124822118-0.