Publicado por José Geraldo Magalhães em Geral - 31/10/2012

Bispo Peres: experiência comum entre Lutero e Wesley


“Muitos têm crido que a fé cristã é uma coisa simples e fácil, e até têm chegado a contá-la entre as virtudes. Isso ocorre porque não a têm experimentado de verdade, nem têm provado a grande força que existe na fé”  Martinho Lutero.

Quando se fala em reforma, no  âmbito eclesiástico, o primeiro nome que vem à mente é o de Martinho Lutero. Para os católicos trata-se do homem que destruiu a unidade da Igreja. Para os protestantes trata-se do homem que fez a Igreja retornar à pregação do evangelho puro. Em meio às controvérsias que são criadas em relação a Martinho Lutero e as suas noventa e cinco teses, os princípios da reforma se mantêm vivos com o passar dos anos e dos séculos.

Foi com o passar do tempo, cerca de dois séculos, que Lutero cruzou o caminho de Wesley, de forma marcante, através do seu comentário ao livro de Romanos. Veja o que Wesley relatou em seu diário, no dia 24 de maio de 1738:

“Cerca das nove menos um quarto, enquanto ouvia a descrição que Lutero fazia sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti que meu coração ardia de maneira estranha. Senti que, em verdade, eu confiava somente em Cristo para a salvação e que uma certeza me foi dada de que Ele havia tirado meus pecados, em verdade meus, e que me havia salvo da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo meu poder por aqueles que, de uma maneira especial, me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes o que, pela primeira vez, sentia em meu coração”. (Diário de John Wesley)

Lutero teve, antes de Wesley, sua vida transformada enquanto estudava o Livro aos Romanos. Foi diante de grande luta e amarga angústia que Lutero encontra solução para suas dificuldades. Quando abriu a Bíblia e leu, em Rm 1.17, que o justo viverá por sua fé. Lutero compreendeu que a justificação não se trata de algo que Deus nos dá como pagamento pelas boas obras que praticamos. Tanto a fé como a justificação são obras de Deus e são gratuitas. Sua reação foi com as seguintes palavras:

“Senti que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas. As Escrituras todas tiveram um novo sentido. E a partir de então a frase “a justiça de Deus” não me encheu mais de ódio, mas se tornou indizivelmente doce em virtude de um grande amor”. (A Era dos Reformadores – Justo Gonzales. p. 50)

Acredito que em função de seu novo nascimento e por entender bem a revelação de Deus em Sua Palavra foi que Lutero se pôs a lutar contra as injustiças e desvios doutrinários que se observavam em seu tempo, como a venda de indulgências que era apoiada pelo Papa Leão X e tinha o domiciano João Tetzel como seu propagador. Para isso pregava dizendo que a indulgência deixava o pecador mais limpo do que quando saíra do batismo; mais limpo do que Adão antes da queda; que havia tanto poder na cruz do vendedor de indulgências quanto na cruz de Cristo e que tão logo a moeda caísse no cofre a alma do morto, pelo qual se comprou a indulgência, deixaria o purgatório. Este tipo de coisa demonstrava bem o estado lastimável que a Igreja Romana havia chegado e de como o povo era explorado por ela.

Por razões como esta que Lutero, em 31 de outubro de 1517, fixou as noventa e cinco teses na porta da igreja do castelo de Wittemberg. Elas colocaram o dedo na ferida do ressentimento do povo explorado e puseram em perigo o projeto de poderosos dominantes, por isso tornou-se impactante e fez muitos adeptos. Ações não faltaram para que Lutero se retratasse, mas ele permaneceu firme e não desistiu.

Ao olhar para a vida de Lutero e também para a de John Wesley percebe-se o amor pelo evangelho e a luta pela causa dos menos favorecidos. Assim, princípios da reforma são encontrados em nossos documentos como Credo Social, Plano para a Vida e a Missão da Igreja e Diretrizes para a Educação, quando se mencionam a salvação integral do ser humano e o modo pelo qual a Igreja Metodista pode se envolver nesse propósito.

Mateus, capítulo 10, verso 8b, ensina que “de graça recebestes de graça dai”. Relembrando os princípios da reforma, seria de bom tom que nossa voz profética denunciasse toda e qualquer estrutura de morte criada para explorar a fé do nosso povo e mantê-lo sob domínio da ignorância. Lutero teve voz profética quando disse: O certo é que o papa deveria dar do seu próprio dinheiro aos pobres de quem os vendedores de indulgências tiravam, mesmo que para isso tivesse que vender a Basílica de São Pedro (tese 51). E ainda mais, se o papa tinha poderes para tirar uma alma do purgatório, tinha que utilizar esse poder, não por razões tão triviais como a necessidade de fundos para construir uma igreja, mas simplesmente por amor, e assim fazê-lo gratuitamente  (tese 82).
Que no espírito da reforma e também wesleyano, continuemos firmes no propósito da salvação de homens e mulheres que são amados/as por Deus, ao ponto de ter dado o Seu Filho amado à morte de cruz, para que todos/as pudessem alcançar a vida eterna.

Entretanto, é bom lembrar que fórmulas doutrinárias, por mais corretas que sejam, não podem ser  um substitutivo para  uma vida cheia do Espírito de Cristo (A Dinâmica do Pensamento de Wesley – p 10). Para nos conduzirmos nos santos propósitos de Deus necessitamos viver debaixo da bênção e da unção do Espírito Santo.

Bispo José Carlos Peres
Presidente da 3a Região Eclesiástica


Posts relacionados

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães

Geral, por José Geraldo Magalhães