Publicado por José Geraldo Magalhães em Destaques Nacionais - 09/09/2015

Bispo Paulo Lockmann participa de Conferência na Albânia

Capital de Albânia, a cidade de Tirana foi o lugar escolhido para a realização da Conferência da Paz, que é organizada pela Comunidade de Sant'Egidio. A Conferência anual reuniu, de 6 a 8 de setembro,  líderes religiosos de diversos países, entre eles evangélicos, ortodoxos, católicos, e  cristãos coptas da Etiópia e Egito. Este ano, o evento trouxe como tema “A paz  é sempre possível” e abordou  questões ligadas ao meio ambiente, às desigualdades sociais, e a busca por soluções de conflitos, além de outros assuntos urgentes para  alcançar um mundo melhor.
 
O bispo Paulo Lockmann, presidente do Concílio Mundial da Igreja Metodista e da Igreja Metodista no Estado do Rio de Janeiro (1ª e 7ª Regiões Eclesiásticas), participou do Painel “Os mártires mostram que o cristianismo está mudando”, ao lado de Thomas Schirrmacher,, da Aliança Evangélica Mundial; Yousif Toma, bispo católico do Iraque; Armash Naibandian; Primaz da Igreja Armênia em Damasco (Síria); George Frendo, bispo católico da Albânia; Epiphanios, bispo da Igreja Copta (Egito) e outros representantes mundiais.
 
Fizeram parte da programação ainda os seguintes painéis: O papel da unidade dos cristãos em um mundo divisões;Cristãos e muçulmanos e os desafios de um mundo global; A Paz é possível no Iraque; A nova Aliança entre a humanidade e o meio ambiente; Prevendo Paz. Religião e política discutem o seu papel; Histórias do Mediterrâneo: um mar que divide e une; a generosidade humana e o mercado global; Religiões e violência: a oração como fonte de paz; Cenário de guerra: a paz é posta em teste; Albânia, terra de convivência; A misericórdia de Deus: a força para mudança; A Europa numa encruzilhada; Seyfo, um massacre esquecido; A pobreza dos nossos tempos e religiões; Migrantes, um desafio global; 70 anos desde Hiroshima: passado e futuro; Não há futuro sem paz.
 
Comunidade Sant'Egidio  - A Comunidade de Sant'Egidio nasceu em Roma em 1968, por iniciativa de um jovem que teve a iniciativa de reunir um grupo de estudantes para escutarem e porem em prática o Evangelho.
 
 O pequeno grupo visitou os arredores de Roma, as casas de lata que naqueles anos rodeavam Roma e onde moravam muitos pobres, começando um apoio escolar à tarde (a "Escola popular", hoje "Escola da paz" em muitas partes do mundo) para as crianças.
 
 Desde então a Comunidade tem crescido de forma significativa e hoje está espalhada por mais de 70 países de quatro continentes. Também o número dos membros está constantemente a aumentar, hoje são acerca de 50.000. O movimento é empenhado na evangelização e caridade em Roma e em todos os países envolvidos.
 
    
  
Bispo Paulo Lockmann com o patriarca Anastácio, da Igreja Ortodoxa da Albânia, que esteve preso durante ditadura comunista do General Tito.
 
 
Veja abaixo a explanação do bispo Paulo Lockamann durante a Conferência de Sant'Egidio:
 
 
MARTIR: A FACE DE UM NOVO CRISTIANISMO
 
Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. Mateus 5: 11
 
E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Filipenses 2: 8 
 
 
1 ) Nossa Herança Cristã.
 
Desde a vida de Jesus carregamos o sacrifício e o martírio como parte, e mesmo como uma possibilidade na vida Cristã. Jesus profetizou isto em diversos momentos, e encarnou tal martírio. Sua morte é testemunho inconteste, mesmo para quem não é cristão. O que muda é a interpretação do fato, não o acontecimento. Menciono o livro clássico de John Fox:
 
" Tomé pregou aos pártios, medos e persas, e também aos carmânios, hircânios, báctrios e mágios. Padeceu em Calamina, uma cidade da Índia, sendo morto por uma flechada.
 
Simão, irmão de Judas e de Tiago, o jovem (que eram filhos de Maria Clopas e de Alfeu), foi bispo de Jerusalém depois de Tiago, e foi crucificado numa cidade do Egito, no tempo do imperador Trajano.
 
Simão, o apóstolo, chamado Cananeu e Zelotes, pregou na Mauritânia, na África, e na Bretanha: ele também foi crucificado.
 
Marcos, o evangelista, e primeiro bispo de Alexandria, pregou o evangelho no Egito e lá, foi amarrado e arrastado para a fogueira, queimado, e depois sepultado num lugar chamado ‘Bucolus”, sob o imperador Trajano.
 
Diz-se de Bartolomeu, que também pregou aos indianos e que traduziu o evangelho de S. Mateus para a língua deles. Por fim, em Albinópolis, cidade da grande Armênia, após várias perseguições, foi abatido a bordoadas e depois crucificado. Em seguida, após ser esfolado, foi decapitado”.
 
 
2 ) O Mártirio como experiência da Igreja Primitiva. 
 
"Diz a história que Nero (64 a.D) colocou fogo em Roma e, ante a revolta da população, culpou os cristãos por tal ato. A partir daí, o cristianismo foi considerado uma religião ilícita e suspeita. Seus membros estavam sujeitos ao aprisionamento, à condenação e à pena capital por todo o Império Romano. Aqueles que confessavam a fé em Jesus eram jogados às feras, crucificados ou queimados, como conta os escritos do historiador romano do século I, Tácito:
 
“Em suas mortes, eles foram feitos objetos de esporte, pois foram amarrados nos esconderijos de bestas selvagens e feitos em pedaços por cães, ou cravados em cruzes ou incendiados; ao fim do dia, eram queimados para servirem de luz noturna.”
 
Pedro e Paulo, assim como um número incontável de irmãos, foram martirizados sob esta “caça” aos cristãos de Roma. No entanto, esta perseguição se estendeu pelos três séculos seguintes, como nos conta um escrito de Gregório de Tours, que viveu durante o século II:
 
“Sob o imperador Décio, muitas perseguições se levantaram contra o nome de Cristo, e houve tamanha carnificina de fiéis que eles não podiam ser contados”.
 
Até o quarto século, a perseguição aos cristãos marcaram o modo de viver da Igreja, alimentada pelas palavras de Jesus, de Paulo e os apóstolos, a Igreja foi sendo preparada para entregar sua vida pela fé no Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Para dar exemplo disto menciono Albano, primeiro mártir da Inglaterra: "Albano como mártir foi perseguido e condenado a morte por sua fé em Cristo, em tempos de Diocleciano e Maximiano. Estes haviam decretado perseguição aos cristãos entre os anos 284 e 305 aD,
 
quando governavam conjuntamente. Um de forma militar e o outro politicamente enquanto qu expandia o Império. Mas a história de Albano carrega uma marca, pois não sendo cristão, abrigou um clérigo perseguido, e ao ouvir o testemunho deste, se converte, e quando as forças repressoras dos cristãos vem prender o dito clérigo, Albano toma as vestes do clérigo e se apresenta como se fosse o mesmo, assumindo e morrendo por um pregador do Evangelho, agora, como cristão que se tornara.
 
 
3 ) Martirio um sacrificio com muitas formas..
 
Podemos dizer que o fundamentalismo religioso é um dos maiores produtores de Mártires em nossos dias. Para alguns radicais, cristãos e não cristãos, viver a experiência da fé em Deus de forma diferente do que eles entendem ser o correto, torna as pessoas passiveis de juízo de morte. Isto gera guerras onde inocentes morrem diariamente por sua fé, não que não corresponde ao fundamentalismo de qualquer um dos muitos grupos radicais existentes.  Grupos radicais estes, que não distinguem, mulheres, crianças, fazendo vitimas em várias partes do mundo. Praticamente, todas as grandes religiões tem suas seitas radicais, de postura fundamentalista. Por isso, como se vê, os debates sobre o “martírio” na Igreja primitiva e sobre a “liberdade religiosa” nos nossos tempos, têm bastante em comum. 
 
Se por “mártir” entendemos apenas de alguém executado por prestar culto de determinada forma, então muitos dos primeiros cristãos não eram mártires. Se, ampliamos este horizonte, comprendemos que o termo abrange as pessoas executadas por se recusarem a reconhecer nos governadores romanos, ou no imperador, a autoridade máxima sobre assuntos humanos,  e neste caso houve muitos mártires. As autoridades do sul dos EUA não perseguiram Martin Luther King por ser ele Batista, ou porque celebrava seus cultos com uma inserção na cultura negra. No que diz respeito à prática religiosa, ele era livre de fazer o que entendesse. Puseram-no na prisão por causa da sua mensagem de liberdade e direitos humanos, por sua forma de protestos contra as leis racistas do Sul dos EUA, estas confrontavam a ideologia branca. É curioso que nos nossos dias não incluamos no rol de Mártires aqueles que vão além da simples confissão de fé, e ingressam no grupo daqueles que, por sua fé, se revoltam contra as injustiças, como a violência contra amulher, o autoritarismo de diversos governos corruptos, que lançam parcelas das populações na miséria e morte, perseguindo aqueles que gostariam de se associar ao legado das lutas pelos direitos humanos, aspiração espiritual legitima, pois, o Deus Criador é Deus de amor e reconciliação e não de morte e perseguição. Mais do que nunca em nossos dias precisamos abrir amplamente as portas dos templos para as praças públicas, recuperando como prática religiosa o sonho de Deus para a criação, ou seja, a paz e a reconciliação entre toda sociedade humana.
 
 
Paremos de mártirizar os diferentes!
 
Bispo Paulo Lockmann
 
Fonte: Site da 1ª Região

Tags: Colégio Episcopal,


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